Terra Vegana

Luisa Mafei é culinarista e professora de cozinha a base de vegetais

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Preparar refeições com mais vegetais é também agir por dias melhores

Com sentimento de impotência da pandemia, mudar alimentação ganhou dimensões que vão além da saúde

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Já perdi muito tempo deslizando o dedo para cima e para baixo em redes sociais para bisbilhotar refeições veganas alheias.

Olhava para as cores dos vegetais e admitia que eram muito mais atraentes do que as do frango grelhado do meu prato, que nem cor tinha, coitado.

Admirava com profunda devoção aquelas cumbucas enormes cheias de folhas, de grãos, sementes, abacate e uns cremes que eu não entendia muito bem o que eram, mas que pareciam ser gostosos.

Ou ainda aquelas pratadas de arroz com feijão, legumes assados, farofa e couve que até davam a sensação de que o veganismo era vizinho do meu prato, era só tirar a carne.

Veganismo: tão longe e tão perto. Foi assim que olhei para esse estranho por muito tempo. Todas as vezes que abria a porta da despensa da cozinha me sentia humilhada pelas fotos que havia curtido. E então, na minha próxima ida ao mercado, enchia o carrinho de verdes.

Tinha a convicção de que era não apenas mais saudável, como também mais sustentável e, porque não dizer, mais ético, trocar os animais pelos vegetais e, na medida do possível, as embalagens pelas cascas.

Mesmo assim, o destino final da beterraba, do brócolis e da cenoura após duas semanas de total esquecimento na geladeira era 90% o lixo e 10% o prato (de miojo, com uns vegetais boiando no meio).

Comprar não bastava, era preciso preparar. E não apenas a comida. Sendo generosa com minha transição para o veganismo, não perdi tempo vendo fotos de pratos que nunca fiz. Eles despertaram em mim não apenas a vontade de comer, mas a necessidade de mudar meus hábitos para conseguir me alimentar do jeito que parecia ser o melhor para o meu corpo, o meio ambiente e os animais.

Documentários como "Seaspiracy: Mar Vermelho", que recomendei na semana passada e que está disponível na Netflix, também despertam em nós o desejo de comer de modo diferente ao escancarar o quanto os nossos hábitos alimentares são destrutivos, a ponto de pôr a vida do planeta todo —e não apenas a dos peixes— em risco.

Em um momento no qual não é raro nos sentirmos impotentes diante de uma pandemia cujo final nunca é anunciado, e de um desgoverno que não faz nada para que o horizonte de dias melhores ganhe ao menos contornos, mudar a nossa alimentação ganhou dimensões que vão além da nossa saúde e bem-estar.

Uma aluna me disse outro dia que “cozinhar tem sido meu jeito de mudar o mundo”. Se antes eu era uma professora que ensinava a cozinhar ou a recriar pratos em versões livres de ingredientes de origem animal, sinto que hoje o objetivo principal —meu e das alunas— é aprender a fazer escolhas melhores e agir positivamente sobre o mundo em que vivemos.

Uma única refeição sem um bife de carne, e estaremos economizando mais de 3.000 litros de água de acordo com a organização Water Footprint, algo como pegada de água. Estamos ou não precisando desse sentimento de potência? Podemos, apesar de tudo, transformar o caos que habitamos —e que ajudamos a construir.

Venho de um histórico de transtornos alimentares que me ensinou que esse processo de mudança precisa ser gentil e respeitar a história que cada corpo carrega, senão vira obrigação. E, com isso, o risco de frustração e de jogar a toalha aumenta.

Tenho abordado aqui na coluna o que chamo de "hacks" para comer melhor em casa. Mais do que dicas, são atalhos simples e eficazes para fazer refeições mais saudáveis, sustentáveis, práticas e, claro, gostosas. O "hack" de hoje é um coringa que me ajudou muito a comer os vegetais que antes iam parar no lixo, e a me sentir satisfeita com minhas primeiras refeições 100% vegetais.

O terceiro "hack" é: pastinhas para além do pão.

Se você tiver posto em prática a dica da semana passada, de cozinhar e congelar as leguminosas para o mês, a de hoje vai ser pura recompensa.

Pastinhas feitas a base de grão de bico, de feijão, de lentilha ou de qualquer outra leguminosa são ótimas não apenas para passar no pão ou rechear a tapioca, mas também para comer com palitinhos de vegetais como cenoura, pepino e salsão, ou ainda para incrementar as refeições principais.

Lembra aqueles cremes que eu via nas fotos, mas que não sabia muito bem o que eram? Eram (e são) essas pastinhas!

A mais conhecida é, sem dúvida, o homus –feito com grão de bico e tahine (pasta de gergelim), típica da culinária árabe, síria e libanesa. Mas podemos fazer pastas com todas as leguminosas, e na falta de tahine o azeite cumpre bem a função de deixá-las cremosas e sedosas.

Deixo vocês com a tradicional receita de homus, e com uma pastinha de lentilha e cenoura assada, espero que gostem!

Homus

homus
Homus, receita vegana da chef e colunista da Folha Luisa Mafei - Luisa Mafei/Folhapress

Ingredientes

  • 2 xícaras de grão de bico cozido e escorrido
  • 1/2 xícara de tahine
  • 1/2 xícara de azeite
  • 1 colher de chá de sal
  • 1 colher de chá de cominho
  • 1 dente de alho sem o miolo, picado
  • Água, apenas o necessário para bater

Passo a passo

  1. Misture todos os ingredientes no processador de alimentos ou em um liquidificador potente e bata até obter um creme homogêneo
  2. Acrescente água aos poucos, o necessário para bater

Pastinha de cenoura assada com lentilha e tomilho

Pastinha de cenoura assada com lentilha e grão de bico
Pastinha de cenoura assada com lentilha e grão de bico, receita vegana da chef e colunista da Folha Luisa Mafei - Luisa Mafei/Folhapress

Ingredientes

  • 3 cenouras
  • 1 xícara de lentilha cozida
  • 2 colheres de sopa de tahine
  • 2 colheres de sopa de azeite
  • ¼ de xícara de água
  • 1 colher de chá de sal
  • 1 dente de alho sem o miolo, picado
  • 2 colheres de sopa de tomilho fresco, picadinho
  • Pimenta preta moída na hora, a gosto

Passo a passo

  1. Pré-aqueça o forno a 220ºC
  2. Lave bem as cenouras, seque-as e as transfira para a assadeira. Tempere com azeite e uma pitada de sal e espalhe bem o tempero com as mãos
  3. Tampe a assadeira com outra assadeira do mesmo tamanho, ou cubra com papel alumínio.
  4. Leve ao forno para assar por 35 minutos, ou até as cenouras ficarem macias
  5. Corte a cenoura assada em rodelas e transfira para o processador de alimentos, ou para um liquidificador potente. Junte o alho, a lentilha, o azeite, o tahine, a água, a pimenta e o suco de limão. Bata até obter uma textura homogênea e cremosa

Dicas

  • Guarde as pastinhas na geladeira e consuma dentro de quatro dias, ou congele para consumir em três meses
  • Prepare a cada 15 dias pelo menos um tipo de pastinha à base de leguminosa. Para não desperdiçar alimentos, uma dica é dividir a pastinha em porções e congelar em potes com ¼ ou ½ xícara de pastinha cada um. Guarde na geladeira apenas a quantidade que será consumida ao longo da semana.
  • Para descongelar, basta deixar os potes na geladeira por 24 horas
  • Além de deliciosas e versáteis, essas pastinhas fornecem proteínas e, quando usamos o tahine, o cálcio do gergelim

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