E começamos o ano com churrasquinho mimimi. "Os pecuaristas empregam milhares, pagam impostos" e… morrem de medo de ver a fortuna acumulada sobre cadáveres e carcaças de bois, frangos e porcos ser drasticamente reduzida nos próximos anos.
Não importa se o banco é ou não é o Bradesco, ou quais são as taxas de juros e dos rendimentos: há uma demanda real por uma alimentação com menos carne no prato, que se traduz em menos dinheiro no bolso para quem cria animais para o abate e o consumo humano.
Essa demanda não é apenas de veganos e vegetarianos, mas também de pessoas que comem carne. O movimento global do Segunda sem Carne (Meatless Monday) existe há quase vinte anos e, a cada ano que passa, cresce o número de adeptos.
Hoje, a campanha está ativa em pelo menos 40 países, entre eles o Brasil, com a adesão e promoção da Sociedade Brasileira Vegetariana desde 2009.
A proposta do movimento, que conta com padrinhos como Paul McCartney no Reino Unido e Xuxa Meneghel no Brasil, é incentivar os adeptos a passar um único dia da semana sem consumir produtos de origem animal.
Não vi o pessoal do churrasquinho mimimi na fila dos ossos distribuindo os seus espetinhos pro povo, só na fila do banco mesmo. Então, o argumento de que "movemos a economia do país" não me sensibiliza nem um pouco.
Por outro lado, não faltam motivos para quem quiser aderir à Segunda sem Carne.
Uma pessoa que opta por comer refeições 100% vegetais na segunda-feira poupa 3.400 litros de água (o equivalente a 26 banhos de 15 minutos cada) e 14 kg de emissão de gás carbônico na atmosfera (o que corresponde a 100 km rodados num carro comum).
É bom para o planeta, e para a saúde: uma alimentação com mais vegetais e alimentos integrais e menos carnes e seus derivados diminui o risco de câncer, de doenças cardíacas, da diabetes e da obesidade.
Para fechar a lista dos motivos que podem levar alguém a aderir à Segunda sem Carne, não podemos nos esquecer dos animais. A cada segundo, morrem no Brasil um boi, um porco e 180 frangos, de acordo com pesquisa realizada pelo IBGE em 2015.
Passar um dia à base de vegetais é, também, contribuir para que essa estatística diminua e não represente tantas mortes de animais que são criados única e exclusivamente para o abate.
Dentro do movimento vegano, há quem olhe com dúvidas e críticas para a Segunda sem Carne, por ela não promover o veganismo em si, mas "apenas" uma conscientização sobre o meio ambiente, a saúde e os animais. Uma iniciativa que não teria consequências muito maiores do que apaziguar a consciência de quem consome carne nos outros seis dias da semana.
Embora eu concorde que o veganismo não é dieta, e que seu horizonte se estende para muito além da alimentação, sou uma entusiasta da Segunda sem Carne.
Não sou eu quem vai armar uma barraca de churrasquinho mimimi sabor abobrinha na porta da casa de quem está tentando fazer alguma diferença nas segundas-feiras, seja pelo meio ambiente, pelos animais ou pela sua própria saúde.
Um estudo de 2021, realizado pela Brighton and Sussex Medical School, mostrou que ⅓ dos britânicos que aderiram à Segunda sem Carne se tornaram vegetarianos ou veganos em um prazo de até cinco anos.
Não há motivos para retirar uma campanha do ar (sério, Bradesco?) que incentiva as pessoas a aderirem à Segunda sem Carne, e muito menos para diminuir a relevância e conquistas desse movimento.
Para quem quiser aderir, vale a pena visitar a página da Sociedade Brasileira Vegetariana, que oferece um ebook gratuito com receitas e orientações para deixar a carne de lado às segundas-feiras.
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