Thiago Amparo

Advogado, é professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP. Doutor pela Central European University (Budapeste), escreve sobre direitos e discriminação.

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Descrição de chapéu Folhajus guerra israel-hamas

Hamas, Israel e os não humanos

Devemos ir além do espanto falsamente humanista, muitas vezes insincero

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"É horrível, desumano e inaceitável. Os palestinos são humanos e têm que ser tratados como tal. Não importa a razão. Estão bombardeando civis. Isso não seria aceitável em nenhum outro lugar —apenas na Palestina", afirmou de forma certeira à Folha Mariam Said.

Em tempos obtusos quando a autodeclarada complexidade ofusca o horror, é cada vez mais difícil ter a clareza moral contra as atrocidades da guerra. Solidarizar-se com vítimas civis, de ambos os lados, não é uma posição inocente, é a mais digna; fazê-lo nos permite criticar tanto o regime de apartheid imposto por Israel aos palestinos quanto o regime de terror imposto pelo Hamas.

Palestinos procuram por sobreviventes após um ataque aéreo israelense em prédios no campo de refugiados de Jabalia, na Faixa de Gaza - Mohammed Abed - 9.out.23/AFP - AFP

Clareza nos permite, inclusive, separar o todo da parte. Criticar o Estado de Israel é possível sem cair no antissemitismo; bem como criticar a estratégia militar do Hamas é possível sem cair no desprezo a vidas palestinas. Salem Nasser, meu colega na FGV, está correto ao perguntar por que costumamos praticar o ultraje seletivo. Devemos, igualmente, ir além do espanto falsamente humanista, muitas vezes insincero: não esqueçamos os fundamentos racistas, coloniais, capitalistas e orientalistas que impulsionam o divisionismo, inclusive no crescente abandono da causa palestina por países árabes.

Desumanização como arma política está no centro da guerra e não começou no último sábado (7): o braço militar do Hamas desumaniza civis israelenses atacando-os de maneira indiscriminada, e o premiê de extrema direita Netanyahu, "ao estabelecer um governo de anexação e desapropriação", como definiu o jornal israelense Haaretz, priva palestinos de qualquer possibilidade de sair da prisão a céu aberto a que foram jogados, dá munição para a expansão territorial ilegal de Israel e fortalece ao invés de minar os mais radicais.

Evidências de crimes de guerra abundam, seja no rapto de civis pelo Hamas, seja na fome como arma de guerra por Israel. Se algum dia sairemos deste horror, talvez o caminho comece por encontrar uma linguagem que nos permita descrevê-lo.

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