Israel diz ter retomado controle de comunidades atacadas por Hamas e anuncia 'cerco total' a Gaza

Localidades ainda podem ter homens armados, segundo porta-voz militar; Tel Aviv convoca número recorde de reservistas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Israel anunciou nesta segunda-feira (9) um cerco total à Faixa de Gaza e disse ter retomado o controle de comunidades no sul do país que haviam sido invadidas pelo grupo terrorista palestino do Hamas no último sábado (7), durante o maior ataque da região em 50 anos.

"Agora estamos realizando buscas em todas as comunidades e limpando a área", disse o contra-almirante Daniel Hagari em pronunciamento televisivo. Confrontos isolados continuam, porém, e ainda pode haver homens armados nos locais, segundo o porta-voz do Exército.

Equipes de resgate palestinas trabalham após ataques israelenses no campo de refugiados de Jabalia - Mahmoud Issa - 9.out.2023

Antes, outro porta-voz, o tenente-coronel Richard Hecht, reconheceu que Israel estava levando mais tempo do que o esperado para rearticular sua defesa e que ainda havia "sete ou oito" lugares onde ocorriam combates.

Israel realizou mais de 500 ataques aéreos e de artilharia durante a noite, em uma amostra da violência que deve se estender pelos próximos dias. Desde sábado, cerca de 1.500 pessoas morreram em decorrência dos enfrentamentos —mais de 900 em solo israelense e mais de 680 na Faixa de Gaza. Há ainda cerca de cem pessoas capturadas por combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica, entre militares e civis.

Em pronunciamento nesta segunda (9), o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, ressaltou que Israel fará tudo pelos cidadãos israelense que foram capturados e são feitos reféns pelo Hamas em Gaza —o grupo terrorista afirmou que, se Tel Aviv não parasse com bombardeios sem avisos, mataria civis sequestrados.

O porta-voz do braço armado do Hamas disse em seguida que o grupo não negociará "sob fogo". O grupo também afirmou que Israel deve estar preparado para "pagar o preço" em troca da liberdade dos reféns, sem explicitar o que seria esse preço.

Tel Aviv ainda convocou um número recorde de 300 mil reservistas após os ataques. O número sugere preparativos para uma possível invasão, embora tais planos não tenham sido oficialmente confirmados. "Nunca recrutamos tantos reservistas em tal escala", disse Daniel Hagari. "Vamos para a ofensiva."

Nesta segunda, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, ordenou que todos os serviços básicos oferecidos na Faixa de Gaza sejam suprimidos. "Nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás. Tudo bloqueado", disse Gallant em vídeo. "Estamos lutando contra animais humanos e agindo de acordo", continuou o ministro de Netanyahu, cujo governo é o mais à direita da história do país.

O ministro da Energia, Israel Katz, disse já ter instruído o corte de água ao território palestino —Israel responde por cerca de 10% da demanda anual de Gaza. Segundo Katz, o fornecimento de energia e de combustível já havia sido suspenso logo após os ataques de sábado (7).

O pano de fundo das hostilidades é a degradação da relação entre Israel e Palestina nos últimos meses. A Cisjordânia voltou a entrar numa espiral de violência no início do ano, com incursões israelenses promovidas por parte da coalizão de ultradireita que sustenta o governo de Binyamin Netanyahu e sucessivas agressões por parte de militantes palestinos. Mesmo antes de a guerra estourar, pelo menos 243 palestinos e 32 israelenses tinham morrido em eventos relacionados ao conflito desde o início do ano, de acordo com cálculos da agência de notícias AFP.

Os ataques do fim de semana foram condenado por diversos países ocidentais, e a União Europeia convocou uma reunião de emergência de ministros dos Negócios Estrangeiros para debater o assunto para terça-feira (10). Os Estados Unidos, aliados históricos de Israel, começaram a enviar ajuda militar no domingo (8) e a direcionar porta-aviões para o Mediterrâneo.

Já a China condenou qualquer ação que prejudique civis e pediu um cessar-fogo, posicionamento parecido com o da Rússia e o da Liga Árabe, que rejeita a violência "de ambos os lados". O Irã, que mantém relações estreitas com o Hamas e foi um dos primeiros países a aplaudir a ofensiva do grupo islâmico, rejeitou acusações de que teve papel na operação.

Vários cidadãos de outros países, alguns também com nacionalidade israelense, morreram na ofensiva. Entre eles, 12 tailandeses, dez nepaleses e quatro americanos. Há também pelo menos três brasileiros desaparecidos e um hospitalizado, segundo o governo de Israel.

Até agora, mais de 123 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas no território palestino segundo dados compilados pela agência de coordenação de ajuda humanitária da ONU (Ocha, na sigla em inglês). Israel, que ocupa a Cisjordânia desde 1967, anexou Jerusalém Oriental e impôs um bloqueio a Gaza desde que o grupo terrorista palestino Hamas tomou o poder no enclave, em 2007.

No sábado, cerca de mil combatentes do Hamas lançaram aproximadamente 5.000 foguetes e entraram por terra, mar e ar em Israel. Netanyahu declarou guerra horas depois e disse que a facção pagará "um preço sem precedentes".

Com AFP e Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.