Seja qual for o sistema tático, quase todos os times e seleções do mundo atuam com um jogador de cada lado, que marca e ataca. Eles são importantes, como Éverton, do São Paulo, Romero, do Corinthians, Rafinha, do Cruzeiro, e tantos outros. Porém, os jogadores de grande talento, com capacidade de brilhar de outras maneiras, não deveriam se limitar a atuar pelas pontas.
Messi, no início da carreira, jogou de ponta direita com a função também de marcar o lateral e, depois, de centroavante, o atacante mais adiantado.
Ele tornou-se um superastro quando deu um passo para trás, ficou mais livre, se movimentando por todo o ataque, formando dupla com Suárez.
Cristiano Ronaldo, no Manchester United e até a chegada do técnico Ancelotti ao Real Madrid, atuava pela esquerda, atacando e voltando para marcar. Ele deu um passo para frente e para o centro e tornou-se um fenomenal artilheiro, formando dupla com Benzema.
Griezmann, na Copa de 2014, atuou pela ponta esquerda, atacando e defendendo, e evoluiu muito quando passou a jogar pelo centro, como um meia-atacante, formando dupla com Diego Costa, no Atlético de Madri, e com Giroud, na seleção francesa.
Salah, antes de ir para o Liverpool, era um ponta burocrático, sem grande brilho. No time inglês, passou a entrar em diagonal, a fazer muitos gols e tornou-se um craque mundial. Müller, atacante da Alemanha, costuma jogar pela direita, indo e voltando, mas se destaca quando entra pelo meio, para finalizar.
Neymar é um atacante pela esquerda somente na prancheta. No PSG e na seleção, é um segundo atacante, que entra em diagonal pelo meio, forma dupla com o centroavante e faz jogadas decisivas.
Exigir que ele faça tudo isso e ainda volte para marcar o lateral, na maior parte do jogo, é demais. Mas alguém tem de voltar pela esquerda e ajudar Marcelo. Quem seria?
Róger Guedes, do Atlético-MG, evoluiu quando passou a jogar, sob a orientação do técnico Thiago Larghi, mais perto do centroavante, geralmente da esquerda para o centro, para aproveitar sua velocidade, habilidade e boa finalização. Antes, no Atlético e no Palmeiras, atuava encostado à lateral direita.
Nos últimos jogos, ficou mais evidente que Vinícius Júnior brilha mais quando o Flamengo, dirigido pelo jovem treinador Mauricio Barbieri, joga no contra-ataque, para aproveitar sua incrível velocidade, da esquerda para o centro. Antes, ele passava quase todo o jogo correndo pelo lado, às vezes, de secretário do lateral.
Após a Copa de 2014, o futebol brasileiro tem evoluído na maneira de jogar, graças a vários jovens técnicos, estudiosos e detalhistas, e aos mais experientes, que se atualizaram, como Mano Menezes, Renato Gaúcho e Abel Braga.
Receio apenas que os jovens treinadores, obcecados pela disciplina tática e pelas informações, se tornem excessivamente rígidos, operatórios, Zé-Regrinhas, e achem que sempre tem de ser uma coisa ou outra, ofensivo ou defensivo, direita ou esquerda, atacante pelo meio ou pelo lado.
Imagine o menino Pelé chegando hoje a um grande clube brasileiro. Perguntariam a ele: "Você é atacante pelo meio ou pelo lado"? Pelé responderia, sem falsa modéstia: "Jogo bem dos dois jeitos". Baseado nas informações, na habilidade, na velocidade e na canela fina de Pelé, o técnico o escalaria pela ponta, talvez para sempre.
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