Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Tostão

Os melhores treinadores não são os que possuem estratégias mais modernas

São os que fazem com que os jogadores executem melhor o que foi planejado

Hoje é dia de muitos transbordarem de alegria e de outros chorarem de tristeza, com lágrimas de esguicho, como diria Nelson Rodrigues. Dia de os vencedores se sentirem competentes, orgulhosos pelo dever cumprido, e de os perdedores ficarem decepcionados e se acharem culpados por não terem feito melhor. São retratos da vida.

O Cruzeiro está mais perto do título, mas não terá Egídio nem, provavelmente, Arrascaeta, que chega do Japão, onde atuou nesta terça (16) pela seleção uruguaia. Mesmo se ele chegar, jogar bem e o time ganhar, essa situação é uma afronta ao profissionalismo. Dirigentes de clubes reclamam da CBF, por marcar jogos nas datas Fifa, e, ao mesmo tempo, são cúmplices dessa relação promíscua que se perpetua no futebol brasileiro.

O Corinthians terá a volta de seu único craque, que nunca tem fase ruim nem desanima. No Mineirão, ele estava desfigurado, apenas com pequena parte presente. Por outro lado, um time não pode depender tanto de um único craque, de uma instituição que não entra em campo.

Mano Menezes, ao fundo, e Jair Ventura, à frente, orientam seus jogadores na final da Copa do Brasil
Mano Menezes, ao fundo, e Jair Ventura, à frente, orientam seus jogadores na final da Copa do Brasil - Douglas Magno/AFP

No Brasileiro, o Flamengo voltou à disputa pelo título. O time melhorou por causa da chegada de Dorival Júnior ou de um novo treinador? Porém, dois jogos é muito pouco. Paquetá passou a atuar mais adiantado, e Arão, mais próximo de Cuéllar. Diego e Paquetá tentavam jogar de uma área à outra e se perdiam no caminho.

Discordo de Dorival Júnior, que comparou o estilo de Paquetá com o de Modric e De Bruyne. São bem diferentes. 

Os dois são típicos meio-campistas, que marcam, constroem e, quando podem, chegam à frente.
Paquetá é um meia-atacante, que, quando dá, volta para marcar e receber a bola. Deveria compará-lo a Kaká, pelo porte físico, posição e características. Leonardo, executivo do Milan, deve ter pensado nisso.

Alguns insistem também na comparação entre Arthur e Iniesta. Não é por aí. Arthur, pelo porte físico e maneira de jogar, se parece é com Xavi.

Apesar da evolução, individual e coletiva, na maneira de jogar, o meio-campo continua dividido entre os volantes, que marcam e iniciam as jogadas ofensivas, os meios-campistas, que atuam de uma área à outra, e os meias de ligação ou meias-atacantes, que jogam do meio para o gol.

Na Europa, quase todos os grandes times atuam com três no meio-campo (um volante centralizado e um meio-campista de cada lado), sem o meia de ligação. A seleção brasileira atua dessa forma.

Já no Brasil, quase todos jogam com dois volantes em linha e um meia à frente, centralizado. Prefiro a formação europeia, pois o time defende com três no meio, em vez de dois, e avança com dois meias, em vez de um.

O Palmeiras é uma mistura das duas formações. Em alguns momentos, Moisés joga à frente dos dois volantes e, em outros, forma um trio no meio. Os três marcam.

O ótimo trabalho de Felipão não é apenas por ele ser um bom gestor de grupo e um paizão. É também por ser estratégico, embora eu não goste do excesso de bolas longas e de jogadas aéreas e da pouca troca de passes, o que vai contra a maneira de atuar das grandes equipes do mundo.

Os melhores treinadores não são os que possuem estratégias mais interessantes, modernas, e sim os que fazem com que os jogadores executem melhor o que foi planejado.

O poeta Ferreira Gullar dizia que a arte existe porque a vida não basta.

O jogo bem jogado, prazeroso, com belos lances surpreendentes, só existe porque o futebol não basta.

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