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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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No Brasil há técnicos bons e ruins, assim como em todo o mundo

Um excepcional treinador sabe observar os detalhes objetivos e subjetivos, além de ter lucidez

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Parabéns à torcida do Cruzeiro, pela belíssima festa no Mineirão, na despedida de Rafael Sóbis e de Ariel Cabral, mesmo com mais um empate e com o time na Série B pelo terceiro ano.

A maioria dos jogadores, craques ou não, quando encerram a carreira, sonham em ter uma atividade ligada ao futebol, como a de técnico, de comentarista, de dirigente ou de empresário. Ter sido atleta ajuda bastante, mas não é o suficiente para ser um ótimo profissional. É necessário também fazer uma preparação científica, pessoal, e se dedicar integralmente à nova atividade.

Existe, desde os anos 1960, uma crítica exagerada de que o futebol brasileiro é muito bom somente pelos atletas e que não depende dos treinadores. Há técnicos bons e ruins, no Brasil e em todo o mundo. Essa impressão negativa é uma das razões de raros treinadores brasileiros trabalharem em equipes da Europa e mesmo em outros países da América do Sul.

Zagallo, técnico campeão com a seleção brasileira em 1970, durante entrevista
Zagallo, técnico campeão com a seleção brasileira em 1970, durante entrevista - Acervo UH/Folhapress

Na Copa de 1970, Zagallo, diferentemente dos habituais técnicos intuitivos da época, dava, diariamente, detalhados treinos táticos para a defesa e para o ataque, além de usar times de botão para mostrar a movimentação dos jogadores em campo. A seleção de 1970 brilhou no individual e no coletivo. A de 1982, dirigida por Telê Santana, não venceu, mas encantou o mundo.

Muitos grandes craques, em todos os países, se tornaram excelentes treinadores. Cruyff, além de ter sido um dos dez maiores jogadores da história, foi um técnico revolucionário, mestre de Guardiola, também ex-atleta, que provocou grandes avanços no futebol nos últimos 15 anos.

Guardiola é o treinador atual mais original e fascinante. O Manchester City voltou a dominar o jogo contra o PSG, mas, dessa vez, venceu por 2 a 1. O time inglês se destaca pela pressão para recuperar a bola, pela constante troca de passes, até alguém se infiltrar na área, e pelo posicionamento diferente de vários jogadores, em relação ao que é habitual.

A equipe avança com dois zagueiros, três médios armadores (um volante e dois laterais). Com isso, os dois meias jogam perto tanto do centroavante quanto dos pontas abertos e do gol adversário. São cinco atacantes, algo parecido com o que ocorreu no início do futebol (2-3-5), há quase 150 anos. É o moderno com pitadas do passado.

Muitos ex-jogadores se destacam atualmente no Brasil no comando das principais equipes. Cada um tem suas características e perfis psicológicos. Renato Gaúcho, independentemente do resultado deste sábado (27) pela Libertadores, evoluiu na parte científica. É um treinador autossuficiente, às vezes, prepotente.

Renato Gaúcho levou o Flamengo à final da Libertadores, contra o Palmeiras
Renato Gaúcho levou o Flamengo à final da Libertadores, contra o Palmeiras - Diego Vara - 20.nov.2021/Reuters

Já Cuca, excelente treinador, está sempre se lamentando, mesmo quando a equipe joga bem e vence. "Oh vida, oh céus, oh azar! Isso não vai dar certo"! Rogério Ceni pode se tornar um grande treinador, por ser estudioso, obsessivo, mas costuma ser criticado por posturas arrogantes.

Para ser um excepcional treinador, não basta ter muito conhecimento, saber comandar um grupo e possuir um ótimo elenco. É necessário também ser um observador de detalhes objetivos e subjetivos, além de possuir lucidez e inteligência coletiva nas decisões. Existe um saber que antecede ao pensamento.

Repito, há mais de 20 anos, que os treinadores são muito importantes, porém, supervalorizados nas vitórias e nas derrotas. Existe uma ilusão, uma prepotência científica, de que tudo o que acontece em uma partida pode ser programado, mesmo no futebol, um esporte de tantos imprevistos.

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