Flamengo e São Paulo devem fazer um ótimo jogo neste domingo (17). São duas equipes que, coletivamente, estão em evolução. O elenco do São Paulo é bom, com dois times quase do mesmo nível. Falta um ou dois jogadores especiais, como possuem o Flamengo e outras grandes equipes brasileiras.

No Flamengo, enfim, Paulo Sousa colocou Éverton Ribeiro pelo lado direito. Já Bruno Henrique ainda continua distante de Gabigol. Não dá para Bruno Henrique ser ala e, ao mesmo tempo, ser um atacante finalizador, como é. Está confuso.

O São Paulo, repito, é uma equipe agressiva, ofensiva, mas dividida entre a turma que ataca, com cinco jogadores, e a turma que defende, também com cinco. O meio-campo está vazio. Está confuso. Talento individual e coletivo é tornar simples o que é complexo.

O futebol, com frequência, não segue a lógica de unir a programação, o desempenho e a estratégia com os resultados. O Real Madrid, nas duas partidas contra o PSG e nas duas contra o Chelsea, pela Liga dos Campeões, foi, na maior parte do tempo, amplamente dominado, esteve próximo de ser eliminado, mas se classificou contra os dois fortes adversários, graças à camisa (o inconsciente coletivo do clube é de vitórias) e ao talento individual de vários jogadores, especialmente de Benzema, Courtois e Modric.

Quando o centroavante Fred jogava no Lyon, surgiu o garoto Benzema. Fred era muito bom, mas Benzema era muito superior. Demorou muito tempo para se tornar um candidato a melhor jogador do mundo. Nesse longo período, com talento e solidariedade, foi o coadjuvante ideal para Cristiano Ronaldo.

A França é favorita no Mundial por ter, no momento, os dois melhores jogadores do mundo, Benzema e Mbappé, um ao lado do outro. Se Benzema e Vinicius Junior combinam tanto, por um ser muito rápido e driblador e o outro, muito cerebral e técnico, com Mbappé Benzema combina ainda mais, já que Mbappé, com as mesmas características, tem muito mais talento que Vinicius Junior.

Modric me lembra Didi, pelo passe de curva, com a parte externa do pé. Diferentemente do brasileiro, que contornava o corpo para executar o passe com mais elegância, Modric, sem olhar para a bola, ereto, com os músculos do abdômen contraídos, dá passes tão eficientes quanto os do Príncipe Etíope, apelido dado por Nelson Rodrigues a Didi.

O Real Madrid, na semifinal, vai enfrentar o Manchester City, que, para surpresa de todos, empatou um jogo por 0 a 0, sem ter o domínio da bola, além de ser pressionado durante todo o segundo tempo. Deveriam colocar uma placa no estádio: "Aqui, o City, dirigido pelo ousado e sonhador Guardiola, ficou acuado pelo Atlético de Madrid, comandado pelo pragmático e defensivo Simeone".

A outra semifinal será para lembrar os Beatles, entre o Liverpool, pela cidade e pelo estilo rock’n’roll, e o Submarino Amarelo, como é chamado o bom time do Villarreal, que, surpreendentemente, eliminou o Bayern. Há tantas surpresas no futebol que as surpresas podem se tornar normais.

Imagine se o futebol brasileiro tivesse um calendário melhor e se as pessoas se preocupassem mais com a beleza do espetáculo. Imagine se o mundo fosse mais generoso, se a seleção brasileira tivesse um centroavante, como Benzema, Ronaldo, Romário ou Reinaldo, se Dirceu Lopes voltasse à juventude e ajudasse o Cruzeiro a retornar à Série A, se o Brasil tivesse um presidente, ou presidenta, independente, sonhador, transparente e com ótimas e novas ideias.