Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities

Consumidor sentirá no bolso ajuste no setor de carne

Preço dos suínos costuma acompanhar mercado de bovinos

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Com tanta carne sendo enviada para o mercado externo nos últimos meses, vai ter produto para o consumidor interno neste fim de ano? Produtores dizem que sim, mas os acertos não virão a curto prazo.

“É um momento de entusiasmo, mas o mercado manterá, pelo menos neste ano, a paridade de 80% do produto para o mercado interno e 20% para o externo”, diz Antonio Camardelli, da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne).

Para José Carlos Zanchetta, diretor-presidente do Grupo Zanchetta, “o mercado sempre se ajusta, mas com dor”.

Tradicional fornecedor de carnes para o mercado interno e externo, Zanchetta afirma que mudanças rápidas, como as que estão ocorrendo, forçam ajustes no mercado.

Para avaliar o momento, é preciso uma volta há dois anos, quando o país foi sacudido por operações da Polícia Federal. Na época, diz ele, o preço da carne caiu, houve redução de produção e o setor ainda não se ajustou totalmente. Produtores e frigoríficos foram afetados financeiramente.

Suínos no Paraná; preço deve acompanhar disparada da carne bovina - Mauro Zafalon-8.jul.15/Folhapress

Agora, a aceleração da exportação ocorre num momento em que o setor ainda não se recompôs. Com isso, a “dor” do ajuste será do consumidor.

Os setores mais afetados são os de carnes bovina e suína. A produção de frango se ajusta rapidamente e, além disso, as exportações crescem 1%, e a produção, 5% neste ano.

A situação da carne bovina é mais complicada, segundo Zancheta. A demanda externa ocorre em um período de entressafra —baixa oferta— e de maior consumo no país.

Ele acredita que o setor demore três anos para se ajustar. Quando ocorrer, virá uma pecuária com melhor genética, maior produtividade e antecipação na idade dos abates.

No caso da carne suína, a demanda é crescente e os preços vão depender do comportamento da carne bovina, afirma Valdomiro Ferreira, da APCS (Associação Paulista dos Criadores de Suínos).

O valor da carne suína acompanha o da bovina, representando, em média, 55% da cotação do boi. Uma arroba do boi a R$ 200 —nesta segunda (18), fechou a R$ 202,20— empurra a carne suína para R$ 110, afirma ele.

Ferreira acredita em oferta suficiente de carne suína para o mercado interno. O abastecimento ficará mais crítico se a carne de boi subir muito e o consumidor elevar o de suína.

O presidente da APCS diz, porém, que não tem como a oferta de carne suína crescer nos próximos nove meses. 

O único ajuste que poderá ser feito é a retenção dos suínos por mais 20 dias nas granjas, o que poderá garantir 15% mais no peso do animal.

Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Cepea, diz que esse vai ser um período de substituição. A coincidência do aumento das exportações com um período de formação de estoques pelo atacado gera alta nos preços.

O mercado dependerá de quanto o consumidor estará disposto a pagar. A alta na carne bovina leva o consumidor para a suína. Um aumento desta transfere-o para o frango.

Carvalho não vê falta de produto no mercado neste final de ano. “Se estivéssemos no período pré-crise, poderia haver, mas a renda atual da população ainda não é boa”, diz.

Para o pesquisador, a resposta do setor virá do comportamento da carne bovina. Se ela subir muito, vai puxar até a de frango.

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