Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities

Sem aviões, exportação de frutas cai até 77% em maio

Frutas frescas vão nos porões dos aviões de passageiros, que pararam de circular

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São Paulo

Após um abril ruim, o setor de exportações de frutas frescas viveu um maio ainda pior. As vendas externas caíram até 77%, para os menores patamares em 17 anos.

Na média, o volume das exportações de frutas frescas como melão, manga, mamão, figo e abacate recuou 47% em maio, em relação a igual período do ano anterior, conforme dados do Ministério da Economia.

Essa queda ocorre devido à falta de aviões para o transporte da mercadoria. As frutas frescas vão nos porões dos aviões de passageiros, que, devido à pandemia do coronavírus, pararam de circular.

“Toda a cadeia está sendo afetada. A ponte caiu, e não há mais ligação entre as partes”, afirma Alexandre Duarte, diretor comercial da Fermac Cargo Ltda.

Ironicamente, a Covid-19, que inviabilizou as exportações de frutas frescas, ainda consegue dar um pequeno alívio ao setor. O transporte atual de frutas, que se restringe a 20% do normal, sai do país em aviões cargueiros.

Linha de embalagem de melões
Linha de embalagem de melões em fazenda no Ceará  - Divulgação/Itaueira Agropecuária

O setor aproveita os aviões que vêm trazer mercadorias ao Brasil, inclusive material usado no combate à Covid-19, para enviar frutas para o exterior.

O problema, diz Duarte, é que esses aviões não têm data e nem hora para chegar, apenas previsões. Os exportadores são obrigados a enviar caminhões refrigerados para a porta dos aeroportos e esperar.

De qualquer forma, esses aviões não resolvem todo o problema de logística. A carga é enviada para o destino de retorno deles. E, na sequência, deve ser enviada para os locais de compra, uma operação custosa e demorada.

A contratação de aviões cargueiros apenas para a exportação de frutas fica inviável, segundo Duarte. O problema, de acordo com ele, não é comercial, uma vez que há demanda, mas logístico.

A caixa de mamão papaia com 3,5 quilos, que sai do Brasil a € 4, chega ao consumidor europeu a € 16. Neste momento de paralisação na Europa e de renda curta, o preço fica inviável para os consumidores.

As exportações de navio continuam normais e custam 70% menos. O gosto da fruta que chegará ao varejo na Europa, porém, é bem diferente do da fruta fresca exportada por avião.

Para José Roberto Macedo Fontes, diretor-executivo da Brapex (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya), os importadores de frutas do Brasil nem sempre conseguem repassar os novos custos para os consumidores.

O início da reabertura das economias europeias e de outras regiões poderá dar um alívio ao setor, mas as exportações ainda levam tempo para um retorno ao patamar normal, segundo ele.

Fontes diz que, além dos problemas atuais provocados pela Covid-19, o setor vem sofrendo o fantasma das barreiras comerciais, devido ao desmatamento da Amazônia. Sem informações, os consumidores externos acreditam que a produção brasileira de frutas seja dessa região.

Para Bruno Benassi, diretor comercial da Benassi São Paulo, empresa distribuidora de hortifrútis, batata, cebola, tomate e laranja até estão com demanda maior. Os produtos mais sensíveis, contudo, estão com procura bem menor. Entre estes, ele inclui atemoia, abacate, figo e mamão papaia.

Nesses casos, a queda das exportações aumentou a oferta interna, diminuindo preços e levando dificuldades aos produtores. Para manter o fluxo comercial desses produtos, as distribuidoras dessas frutas também tiveram de reduzir margens e aumentar a exposição dos produtos nas redes de varejo para atrair os consumidores.

Jarbas Alexandre Nicoli, produtor de mamão papaia em Jaguaré, norte do Espírito Santo, iniciou o ano com esperanças. Aguardava preços melhores neste ano, mas, após o Carnaval, foi vendo o cenário mudar.

Exportações fora do ritmo normal e demanda interna menor fecharam as portas para a comercialização. Nicoli, em apenas um mês, teve de se desfazer de 300 toneladas de mamão que não foram comercializadas.

Embora não consiga vender, a colheita tem de ser feita. Caso contrário, o mamão no pé aumenta a incidência de doenças.

Pior, segundo ele, foi a situação de alguns vizinhos, que foram obrigados a descartar até 1.500 toneladas da fruta.

Para Nicoli, essa queda na demanda traz graves problemas financeiros para os produtores, uma situação que poderá continuar. O mamão é considerado como supérfluo para os consumidores de menor poder de renda. E a situação econômica que vem pela frente não é das melhores.

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