Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu Rússia

Entenda o que aconteceria no agro brasileiro se a Rússia invadisse a Ucrânia

Conflito teria impacto nos mercados de milho, trigo e fertilizantes

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O Brasil tem muito a perder com um potencial agravamento das tensões geopolíticas no Leste Europeu. Dois participantes de peso nos mercados mundiais de commodities, Rússia e Ucrânia têm grande importância nas exportações de milho, de trigo e de fertilizantes.

Os russos lideram as exportações individuais de trigo, com 35 milhões de toneladas por ano. Ficam atrás apenas do bloco da União Europeia, que soma 37,5 milhões.

Já a Ucrânia, um país que vem desenvolvendo rapidamente a produção de grãos, é a terceira maior exportadora mundial de milho, atrás dos Estados Unidos e da Argentina.

A safra de milho dos ucranianos já atinge 42 milhões de toneladas, bem acima dos 10 milhões de há uma década.

Colheita de soja em Canarana (MT)
Colheita de soja em Canarana (MT) - 04.abr.17 - Mauro Zafalon/Folhapress

Juntos, Rússia e Ucrânia são responsáveis por 28% da exportação mundial de trigo e de 20% da de milho.

Uma invasão da Ucrânia pela Rússia elevaria ainda mais os preços mundiais das commodities agrícolas, já pressionados por aumentos de custos de produção, seca e quebra de safra em várias regiões.

A alta do milho até poderia beneficiar os produtores, uma vez que, se a safrinha ocorrer normalmente, o Brasil terá potencial de exportação de 35 milhões de toneladas.

O aumento internacional do trigo, porém, sustentaria os preços internos em patamares elevados e traria novos custos aos consumidores, uma vez que o Brasil é um dos maiores importadores mundiais desse cereal.

Os mercados internacionais já vêm reagindo às tensões no Leste Europeu. Os principais importadores, para garantir abastecimento interno, elevaram as compras, e os preços subiram em todos os mercados exportadores.

No Canadá, um dos importantes participantes do mercado externo, a tonelada de trigo já atinge US$ 405, US$ 22 a mais do que em janeiro.

O mercado brasileiro não suportaria novas altas internas de preços. A tonelada de trigo está em R$ 1.707 no Paraná, com evolução acumulada de 78%, em relação a fevereiro de 2020. No mesmo período, a saca de milho subiu 87%, atingindo R$ 97 na região de Campinas (SP).

O grande problema para o agronegócio brasileiro, se realmente ocorrer a invasão russa em território ucraniano, será o aumento dos custos de produção, vindo principalmente dos fertilizantes.

Estes voltaram para os patamares altos de uma década atrás, devido a tensões na Belarus e à interrupção ou à redução de produção em alguns países.

O Brasil importou 41,6 milhões de toneladas de fertilizantes no ano passado, e 22,4% desse volume veio da Rússia. Em valores, as compras totais nacionais somaram US$ 15,2 bilhões, com gastos de US$ 3,53 bilhões no mercado russo.

O Brasil é bastante dependente também das importações de potássio da Belarus, outro país que está sob sanções das grandes potências.

A China, segunda maior fornecedora de fertilizantes para o Brasil, participou com 15,2% na oferta desses insumos no ano passado.

O fornecimento russo de fertilizantes poderia não ser interrompido, mas sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia encareceriam e dificultariam o fornecimento internacional.

O comércio do Brasil com a Ucrânia tem pouca importância para o agronegócio brasileiro, ao contrário do da Rússia. As exportações brasileiras de soja para os russos somaram US$ 473 milhões o ano passado; e as de carnes, US$ 321 milhões. Café e açúcar também estão no topo da lista das importações russas no país.

O conflito entre Rússia e Ucrânia tem efeitos sobre as commodities energéticas, metálicas e agrícolas, o que aumentaria ainda mais a pressão inflacionária no mundo, atualmente nos maiores patamares em dez anos.

A insegurança comercial afetaria ainda mais a recuperação da economia mundial, patinando desde o início da pandemia.

Cultivo do trigo no Nordeste do Brasil
Fazenda de trigo no Nordeste do Brasil - 04.set.21 - Gil Correia/Folhapress

A China seria uma das beneficiadas com esse aumento de tensão. Líder mundial nas exportações de alguns tipos de adubo e de trigo, os russos teriam o mercado chinês para desovar parte desses produtos, e com preços mais competitivos para os chineses.

Conforme o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), a produção anual de trigo da Rússia é de 75,5 milhões, com exportações de 35 milhões. A Ucrânia produz 33 milhões e exporta 24 milhões.

Já no milho, a importância da Ucrânia no mercado internacional é bem maior do que a da Rússia. Os ucranianos produzem 42 milhões de toneladas e exportam 33,5 milhões.

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