Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Recurso para Plano Safra cresce, mas abaixo da evolução dos custos

Ministério da Agricultura anuncia R$ 341 bi para safra 2022/23

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O Plano Safra para o período de julho de 2022 a junho de 2023 vai disponibilizar R$ 341 bilhões aos produtores brasileiros. Esse volume de dinheiro supera em 36% o do plano da safra anterior, um percentual elevado, mas apertado para cobrir os fortes reajustes dos insumos ocorridos no setor nos dois últimos anos.

Esses custos vão se estender por toda a próxima safra que, nas estimativas do mercado, poderá superar 300 milhões de toneladas. Isso se o clima permitir, o que não vem ocorrendo nos últimos anos.

Máquina agrícola deposita grãos de soja em caminhão durante colheita no Núcleo Rural Buriti Vermelho, em Brasília
Máquina agrícola deposita grãos de soja em caminhão durante colheita no Núcleo Rural Buriti Vermelho, em Brasília - Lucio Tavora - 18.fev.2022/Xinhua

O volume de dinheiro para custeio e comercialização liberado será de R$ 246,3 bilhões, com evolução de 39% no período. Já o crédito para investimentos será de R$ 94,6 bilhões, com alta de 29%.

Ivan Wedekin, consultor e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Agricultura, diz que, apesar da evolução dos recursos, eles não cobrem o aumento dos custos dos produtores, que tiveram altas de 50% a 60%.

Com relação aos recursos para investimentos, Wedekin diz que o volume de dinheiro é adequado, dada a limitação de recursos. A demanda por esse crédito poderá ser menor na safra 2022/23. Haverá uma tendência de menos investimentos, uma vez que o produtor terá de se autofinanciar, afirma ele.

O grande salto do plano está nos juros livres, que dependem, no entanto, dos bancos e da emissão de títulos voltados para o agronegócio, como as LCAs (Letra de Crédito Agrícola). Em geral, os Planos Safra sempre engordam o volume total dos recursos com base nesse item. Neste ano, a evolução foi de 69%.

Para o ex-secretário de Política Agrícola, o volume de crédito é curto, principalmente porque os produtores enfrentam esse cenário de elevação de custos. Com isso, o peso da garantia da segurança alimentar, interna e externa, na qual o Brasil é importante, vai ficar nas costas do produtor brasileiro, afirma ele.

O governo destacou a importância e o volume de recursos para os pequenos e médios produtores. O Pronaf, voltado para a agricultura familiar, terá R$ 53,6 bilhões, com alta de 36%, em relação ao volume do ano passado. O Pronamp, voltado para os médios produtores, terá R$ 43,75 bilhões, com alta de 28%.

Em um período de aperto fiscal e de juros elevados, produtores avaliaram o Plano Safra como o plano possível. Para Márcio Lopes de Freitas, presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), o plano saiu melhor do que o esperado.

As taxas de juros vão de 3% a 12,5%. Os produtores da agricultura familiar vão pagar de 5% a 6%; os médios, 8%; e os demais produtores e cooperativas, 12%.

A pior notícia do plano, segundo Wedekin, é essa taxa de 12% dos juros livres. A Selic está aquecida neste ano, mas poderá sofrer redução no ano que vem, o que tornaria o juro do produtor superior ao da taxa básica do mercado. "Prevaleceu a rédea curta do Tesouro Nacional", diz ele.

Para o ministro da Agricultura, Marcos Montes, o cenário é extremamente desafiador, e o Plano Safra veio à altura desses desafios. Vai atender ao agronegócio e aos compromissos do governo.

Fausto Ribeiro, presidente do Banco do Brasil, afirmou que o banco fornecerá R$ 200 bilhões de crédito na safra 2022/23, um volume 48% superior ao do início da safra anterior. O banco é responsável por 59% do crédito oferecido aos produtores.

Para José Mário Schreiner, presidente da Comissão de Política Agrícola e vice-presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), foi um plano robusto, mas o maior desafio agora será fazer com que esses recursos cheguem rapidamente às mãos dos produtores.

Entre o capital destinado aos investimentos, R$ 5,13 bilhões irão para a construção de armazenagem. A taxa de juros vai de 7% ao ano, para construções com capacidade de até 6 milhões de toneladas, a 8,5% para as demais.

O Proirriga terá R$ 1,95 bilhão à disposição dos produtores; o Inovagro, R$ 3,51 bilhões; e o Programa ABC (agricultura de baixo carbono), R$ 6,19 bilhões.

Mauro Zafalon

Responsável pela coluna Vaivém das Commodities, é formado em jornalismo e em ciências sociais.

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