Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu alimentação

Gripe aviária na produção comercial afetaria do produtor à inflação

Atividade dentro da porteira soma R$ 112 bilhões, e exportação de frango rende US$ 9,7 bilhões

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A preocupação com uma eventual chegada da influenza aviária às granjas comerciais do país faz todo sentido. Ela foi reforçada pela medida de emergência zoossanitária de 180 dias declarada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, na segunda-feira (22).

Por ora restrita a aves silvestres, a influenza aviária não tem grandes efeitos sobre a cadeia nacional de aves, embora retire do país o privilégio de, até então, ser o único grande e ser vista isoladamente, mas como um conjunto importante dentro da economia.

A produção de aves ocupa 213,2 mil trabalhadores dentro da porteira, conforme dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), que tomou como base informações da PNAD-Contínua do IBGE e da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho e Emprego.

Um homem coloca um frango dentro de um saco plástico em um mercado de alimentos no centro de Xangai, China.
Autoridades chinesas abatem mais de 20.000 aves em um mercado de aves em Xangai em combate contra a gripe aviária em 2013 - Carlos Barria/Reuters

Em muitos casos, são pequenos produtores que têm a subsistência exclusivamente dessa atividade. Outros 294,2 mil trabalhadores, conforme estimativas do Cepea, estão dentro da agroindústria, voltados para o abate de aves e para a preparação das carnes.

A produção dessa proteína engloba ainda muitos trabalhadores nas áreas de serviços, de transporte, do setor financeiro e em portos.

Uma eventual chegada da doença às granjas significa uma eliminação das aves, com sérios prejuízos financeiros e desestabilidade social para os produtores.

Mesmo os Estados Unidos, um país com maiores recursos do que o Brasil, estão com dificuldades para reparar os estragos econômicos da doença no país.

A gripe aviária de alta patogenicidade está presente nas granjas norte-americanas desde o início de 2022. Já são 836 focos da doença, espalhados por 47 estados.

Conforme dados desta terça-feira (23) do Usda (Departamento de Agricultura), 58,8 milhões de aves já foram mortas. O governo tem gastos bilionários no combate à doença.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne de frango, obtendo 14,5 milhões de toneladas por ano. Os Estados Unidos produzem 21 milhões, e a China, a terceira maior produtora mundial, 14,3 milhões. O consumo mundial de carne de frango é de 101 milhões de toneladas.

Os brasileiros são, no entanto, os maiores exportadores mundiais da proteína. Em 2022, colocaram 4,8 milhões de toneladas no mercado externo, 35% do fluxo de comércio internacional dessa proteína. A China, ao importar 541 mil toneladas, foi a principal parceira brasileira. Emirados Árabes, Japão e Arábia Saudita também estão na lista dos principias importadores da carne brasileira.

As receitas vindas com as vendas externas são importantes para o setor. Elas vêm crescendo ano a ano e, em 2022, somaram US$ 9,7 bilhões, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

A eventual chegada da doença à atividade comercial vai afetar, ainda, toda a população, assim como ocorreu nos Estados Unidos. Lá, a redução na oferta de carne e principalmente na de ovos levou mais inflação para a mesa do consumidor. No Brasil, o reflexo seria o mesmo.

O giro da economia também será menor. Em 2022, o valor bruto de produção da avicultura dentro da porteira atingiu R$ 112,1 bilhões, dinheiro que foi distribuído por milhares de pequenas propriedades.

Uma possível redução na oferta de carne não afeta apenas o mercado externo, mas principalmente o interno. Segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), 73% da carne produzida no país é destinada ao consumo interno. Os demais 33% vão para o mercado externo.

Os estados do Sul seriam os mais afetados pela chegada de uma eventual gripe aviária na produção comercial. Além de maiores produtores nacionais são também os principais exportadores. No ano passado, os três estados do Sul foram responsáveis por 64% da produção nacional e por 79% das exportações brasileiras de carne de frango.

Os reflexos recairiam também no Centro-Oeste, principal região produtora de soja e de milho, dois componentes essenciais na composição da ração animal. A demanda interna de milho, hoje prevista em 80,4 milhões de toneladas, seria reduzida, dependendo da extensão da doença.

Uma demanda menor de milho afeta o produtor no campo. O país vem obtendo safras recordes nos últimos anos, e os preços, tanto os internos como os externos, estão em baixa.

A morte de poedeiras, afetaria também a crescente produção de ovos do país, que já soma 52 bilhões de unidades por ano. O valor dessa produção dentro da porteira é de R$ 20,2 bilhões.

O consumo de carne de frango e de ovos pelos brasileiros vem aumentando. São proteínas de menor custo para os consumidores, e o gasto é o que melhor se adapta ao período de renda curta e de fraco desempenho da economia.

Segundo ABPA, o consumo anual de carne de frango é de 45,2 kg por habitante por ano, e o de ovos, de 241 unidades.

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