Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities

Preços voltam a subir no campo, mas varejo ainda mantém queda

Arroz, café e leite lideram altas; feijão, em período de colheita, se acomoda

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Abril termina com uma aceleração de preços no campo, principalmente no setor de grãos. As proteínas tiveram pouca reação.

O varejo, contrariando o campo, registrou queda nos preços dos alimentos neste mês, refletindo desaceleração nos valores recebidos pelos produtores nos meses anteriores. Essa recuperação no campo deverá se refletir nos preços do varejo nas próximas semanas.

Uma das altas ocorre exatamente no arroz, um dos principais alimentos do dia a dia do consumidor. O Cepea (Centro de Estudos Avançadas em Economia Aplicada) aponta um valor médio de R$ 106 por saca do arroz em casca no Rio Grande do Sul, 7% a mais do que no final de março. Em algumas regiões, o produto de melhor qualidade chega a R$ 115.

Plantação de arroz em Mostardas (RS) - Sílvio Ávila - 11.mar.2024/AFP

Nos supermercados, o cereal vem registrando queda de 2% neste mês, mas ainda acumula alta de 30% em 12 meses.

A pressão no arroz havia diminuído internamente porque houve uma ampliação da área semeada, e a estimativa de safra era de 10,5 milhões de toneladas, previsão que não deve ser confirmada devido a efeitos climáticos sobre a cultura. A colheita do Rio Grande do Sul, maior produtor nacional, está em 70% da área.

O problema do arroz continua sendo uma questão de mercado. O Brasil perdeu área porque os produtores obtiveram rendimento melhor na soja nos anos recentes. A recuperação dos preços do cereal e a queda no valor da oleaginosa trouxeram de volta parte dos agricultores para o arroz.

O aumento de produção de alimentos básicos, como arroz e feijão, só ocorrerá com políticas agrícolas específicas, principalmente por meio de financiamento e seguro, uma vez que são culturas de risco e sensíveis a mudanças climáticas.

O feijão, ao contrário do arroz, deverá dar um pouco de alívio ao bolso do consumidor nas próximas semanas. É tempo de colheita, e os preços giram de R$ 210 a R$ 240 por saca para o produto de qualidade média.

No varejo, os preços já acumulam queda de 4% neste mês, segundo acompanhamento da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Uma boa notícia para o produtor, mas má para o consumidor, são os preços do café. Apenas neste mês, a saca registra alta de 22% no campo, puxada principalmente pela aceleração dos preços do café conilon, que está a R$ 1.161, apenas R$ 100 abaixo do valor do arábica, tradicionalmente mais elevado.

O café já mostra reação nos supermercados, com alta de 3% em abril. Essa reação vai interromper a queda na taxa acumulada de 12 meses que o produto vinha registrando nos últimos meses.

O trigo também voltou a subir, com a tonelada chegando a R$ 1.285 no Paraná para o produtor, 4% a mais do que em março. Lá fora, os preços também sobem, e as exportações brasileiras aumentam neste quadrimestre.

O analista Vlamir Brandalizze afirma que os preços internos vão ter de seguir um alinhamento com os externos. Juntando os preços atuais da Bolsa de Chicago, US$ 6 por bushel (27,2 kg), e o patamar do dólar no Brasil, acima de R$ 5, o custo das importações atinge valor próximo a R$ 1.700 por tonelada.

As carnes, apesar do bom momento das exportações, têm pouca evolução no mercado interno nos preços do campo. A arroba de boi está estável em R$ 232, e o quilo de frango se mantém em R$ 7,1. Já o quilo de carne suína acumula queda de 10% nas granjas do Paraná no mês.

O leite, em março, subiu pelo quinto mês seguido, acumulando alta de 13% no primeiro trimestre, segundo o Cepea. Há uma disputa pelo produto por parte das indústrias, mas o repasse dos derivados para os consumidores é dificultado pelo baixo poder de compra. A Fipe registra alta de 10% no leite longa vida nos supermercados no primeiro trimestre.

A soja, carro-chefe da agricultura, voltou a subir, atingindo R$ 128 por saca no Paraná. Essa alta, no entanto, pode não ser tão consistente e depende da evolução das colheitas da Argentina e do Rio Grande do Sul, ambas em andamento.

Nos Estados Unidos, o plantio da soja está acelerado e não apresenta grandes problemas por ora. O mesmo ocorre com o do milho.

O cereal segue rumo diferente das outras commodities internamente, registrando queda de 6% neste mês. A saca caiu para R$ 58, menor valor desde outubro do ano passado.

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