Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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PIB foi muito bem, mas povo miúdo ainda vai mal

Indicador cresceu muito além do esperado por quem faz estimativas, os povos dos mercados

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O PIB cresceu muito além do esperado por quem faz estimativas, os povos dos mercados. O povo mais miúdo em geral não deve ter visto onde esteve esse crescimento, se por mais não fosse porque há menos gente trabalhando agora do que no ano passado e porque a inflação comeu renda de quem tem algum rendimento do trabalho, dos pobres em particular, que gastam mais em comida.

No entanto, houve avanço em trabalho e renda, com algum progresso no emprego formal e das pessoas com mais qualificação, o que por ora resultou mais em aumento de poupança dos remediados e mais ricos (ou menos pobres).

No entanto, o PIB cresceu bem e essa despiora deve ter efeitos mais espalhados mais adiante, caso não sobrevenham uma piora do desastre da epidemia e um apagão. De notável, confirmou-se que as empresas conseguiram se adaptar com mais eficácia às restrições aos negócios impostos pela Covid.

Caso a atividade fique estagnada, trimestre ante trimestre, até o final do ano, a economia ao final de 2021 terá crescido mais de 4,6%. Sem catástrofe na epidemia ou no fornecimento de eletricidade, é bem provável que o PIB chegue a crescer 5%. Voltaria assim ao nível de 2019, zerando as perdas.

Onde está esse crescimento, então?

No investimento em máquinas, equipamentos, softwares ou construção e na forte reposição de estoques da indústria, por exemplo (parte dessa alta de investimento é ficção estatística, mas passemos).

O consumo das famílias caiu em relação ao trimestre anterior (final de 2020) e o consumo do governo também (basicamente, o setor público pagou menos salário a gente da administração, de saúde e da educação). Em parte, o consumo das famílias caiu por causa da seca de auxílio emergencial no primeiro trimestre deste ano e uma ainda persistente precaução (para quem tem dinheiro).

Outro problema muito sério é o setor de serviços, um grande empregador, dos mais pobres em particular (bico em geral é “serviço”). Não volta inteiro enquanto a peste da Covid estiver disseminada.

Comércio de rua, restaurantes, bares, salões de beleza, academias, entretenimento estão em situação deprimida ou desesperadora por causa de restrições legais ou voluntárias de movimentos. A circulação das pessoas pelas cidades ainda é limitada, o que também limita o emprego do ambulante, para dar um exemplo simples, e prejudica as lojas.

Esse PIB melhor não refresca nada? Ao contrário. A capacidade produtiva aumentou um tanto e, além do efeito mais imediato na renda, vai dar musculatura à economia no médio prazo. A taxa de poupança está em níveis recordes, um resultado excepcional em boa parte devido às restrições de consumo de ricos e remediados. Há aí gordura para ser queimada se e quando a atividade econômica voltar a alguma normalidade (com gastos em entretenimento, restaurante, turismo).

Há indícios de que pode não haver tombo no segundo trimestre, prejudicado pelos horrores da chamada “segunda onda” da epidemia. Abril foi ruim, mas há sinais de que a recuperação de maio foi forte. A confiança de empresários e consumidores aumentou. O crédito, o total de empréstimos bancários, aumenta. Emprego e renda vão mal, mas despioram e tendem a despiorar um pouco mais com o avanço da vacinação, um progresso assassino de lerdo, mas que terá efeitos visíveis no segundo semestre.

Houve ainda o pagamento do caraminguá da segunda rodada de auxílio emergencial. As economias grandes ou ricas recuperam-se rapidamente, o que mantém elevado o preço de exportações brasileiras e os ganhos de renda dos setores beneficiados (commodities). A taxa de poupança, ressalte-se, é grande.

Qual o risco maior e imediato? Jair Bolsonaro, seu desgoverno, a sabotagem do controle da epidemia e o risco de grossa e politizada negligência na administração do problema do fornecimento de eletricidade.

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