Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Descrição de chapéu juros copom

Bolsonaro deve entrar no PL do nacional-mensalismo, mas não tem plano para 2022

Presidente não tem slogan, obra ou PIB para mostrar

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Na Semana da Pátria Golpista, a política "das ruas" e da sociedade cada vez mais incivil apagou-se. Acabaram-se os panelaços, os manifestos, as cartas. Os últimos fiascos foram o protesto da oposição de 12 de setembro e a "nota dos empresários".

O cadáver da manifestação prevista para o 15 de Novembro está sendo enterrado na cova rasa das ambições de quem se opõe ao governo. Jair Bolsonaro também suspendeu seus comícios golpistas. Em vez de "notas de repúdio", elites do poder e do dinheiro discutem se Sergio Moro vai ocupar a terceira via ou a terceira margem do rio.

Na falta de promessa recente de golpe, quase todo mundo do poder foi tratar da vida, da eleição, de filiações, de esboços de alianças e do saque dos dinheiros públicos para financiar campanhas. Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, entre eles três do Supremo, disseram que Bolsonaro e turma podem ser detidos se barbarizarem a eleição, como em 2018. Tudo se passa como se agora houvesse um cordão sanitário que impedisse Bolsonaro de infectar de morte também o processo eleitoral.

O presidente Jair Bolsonaro - Ueslei Marcelino - 10.nov.2021/Reuters

Bolsonaro está em uma muda incógnita. Conseguiu escapar de parte do noticiário negativo que produzia com a campanha golpista, um sucesso pragmático de seus regentes do centrão, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e de Ciro Nogueira, senador pelo Piauí e presidente licenciado do PP. Os militares saíram de fininho do cenário de desastre que ajudaram a produzir e estão mais desaparecidos do que Paulo Guedes (mas continuam com as boquinhas).

No entanto, essa gente ainda não parece ter um plano claro. Bolsonaro deve entrar no PL, que seria então o novo partido da extrema direita, o nacional-mensalismo, ficando a União Brasil (PSL mais DEM) com uma das vagas da direita extrema. O vice viria do PP, mas isso não está certo, assim como não se sabe como serão as migrações de parlamentares e outros arranjos locais necessários para 2022, que podem desfalcar o time bolsonarista.

O Auxílio Brasil é um pedaço de um plano eleitoreiro parco e ruim. Vai beneficiar pouco mais gente do que o Bolsa Família com uma renda nem tanto assim maior que a do auxílio emergencial. Outros 18 milhões de pessoas que recebiam o auxílio emergencial ficarão sem nada.

O desgoverno constante e o chute no teto de gastos devem fazer com que 2022 seja um ano de estagnação da economia, na melhor das hipóteses. Bolsonaro-Guedes jogaram no lixo a despiora rápida do PIB.

Desde a Semana da Pátria Golpista, início de setembro, até agora, a taxa de juros de um ano passou de 8,5% para cerca de 12%, um desastre para o PIB. A inflação deve correr na casa dos 10% anuais até abril, em parte graças ao dólar Bolsocaro. Mesmo que cresça menos, terá deixado um rombo enorme e duradouro nos rendimentos dos mais pobres.

Bolsonaro perde menos prestígio nas pesquisas, mas dois terços do eleitorado rejeitam sua reeleição. Não tem obra para mostrar. Em 2022, não poderá mentir que é liberal ou lavajatista. No centro-sul, pelo menos dois candidatos vão tirar alguns de seus votos. Então, qual é o plano? Contar com a ajuda da elite para triturar Lula (campanha que deve começar em breve e será forte se o petista não fizer grandes arranjos)?

Os centrões, o bolsonarista e outros, têm algum tempo, em tese, para escolher uma canoa. A data limite, diz a lenda política, é abril, mas as opções à vista são poucas e tão diferentes que vão exigir manobras acrobáticas difíceis até para a exímia picaretagem política brasileira (por ora, trata-se de Lula e, talvez, Moro). Bolsonaro continua sem um plano, que era o golpe.

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