Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

O Brasil na rabeira do crescimento do mundo, na lente do FMI

País continua andando devagar mesmo para os padrões menos que medíocres da vizinhança

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As maiores economias do mundo vão crescer menos em 2022 do que o FMI previa antes da guerra. O Brasil é uma das pouquíssimas que se salvaram da revisão para baixo das estimativas do Fundo Monetário Internacional. Em vez de crescer 0,3% neste ano, cresceria 0,8%.

Quanto América Latina e Caribe vão crescer, na estimava do Fundo? O triplo do crescimento brasileiro: 2,5%. No caso de 2023, chute ainda mais arriscado, o Brasil cresceria 1,4% e América Latina & Caribe de novo 2,5% (o que inclui o crescimento brasileiro, claro, empurrando a média regional para baixo).

Previsões de crescimento costumam estar bem erradas. As do FMI (e as do Banco Mundial e as da OCDE) foram horrivelmente erradas assim que começou a epidemia, em particular para o Brasil. Mas, além dos números, a historinha contada pelo Fundo tem algum interesse, embora não seja também lá novidade.

Logo do FMI é visto em sua sede, em Washington (EUA) - Yuri Gripas - 4.set.2018/Reuters

O argumento de base para revisão "para cima" no caso brasileiro é que o país poderia se beneficiar da alta do preço de commodities (petróleo, grãos, minérios), essas mesmas carestias que empurram a inflação para cima e desgraçam o poder de compra dos salários.

Além do mais, o Brasil não está no grupo dos países emergentes que padeceram de fuga de capitais por causa da crise da guerra. Na verdade, o vaivém de dinheiro melhorou no Brasil desde o início deste ano (depois de anos muito ruins, diga-se de passagem).

E daí?

Daí que, mesmo beneficiado pela sorte equívoca e duvidosa de faturar inadvertidamente uns trocados com a guerra, o Brasil continua andando devagar mesmo para os padrões menos que medíocres da vizinhança. Tem sido assim desde o começo da década de 2010. Nas contas dos economistas do Fundo, ainda seria o caso de 2019 a 2023.

Tomando como base o ano de 2019, o último antes da epidemia, e levando as estimativas até 2023, o Brasil cresceria 2,4% no quadriênio. América Latina & Caribe, 4,4% (mesmo incluindo o peso morto brasileiro. Sem o Brasil, vai crescer bem mais).

Nas economias avançadas, o crescimento seria de 6,3% nesse quadriênio (trata-se de Estados Unidos, Canadá, Japão, União Europeia do euro, Reino Unido e uns ricos menores). Na média ponderada do mundo, o crescimento acumulado a partir de 2019 até 2023 seria de 10,3%.

Sim, nesse pacote mundial tem o peso da China, da Índia e países do leste da Ásia. Mas por que estamos arrumando desculpas, por assim dizer? Sim, desculpas: dizer que a China é um caso excepcional. Ou dizer que a Índia é um caso diferente e compreensível de país de muito pobre que tem sucesso em sair da renda baixa (como o Brasil já o fez), como é também o caso de certos países da África.

Mas o que está acontecendo mesmo com os países do Oriente Médio e na Ásia Central? Vão crescer 11,3% no quadriênio 2020-2023. Ah, sim, lá estão os países petrolíferos, como a Arábia Saudita, mas não apenas. Mas, sim, somos uma aberração, não importa muito para onde se olhe. O crescimento da economia da África Subsaariana nesse período seria de 10,9%, segundo os chutes mais ou menos informados do FMI.

Não é novidade, o Brasil tem sido uma aberração desde 2014. Mesmo o crescimento da economia depois de 2010 e antes da Grande Recessão caía pelas tabelas, na comparação com a vizinhança sul-americana.

Mais incrível é que o assunto praticamente desapareceu da conversa, como se o nosso destino manifesto fosse afundar no esquecimento e como se agora estivéssemos limitados apenas a manter "as instituições funcionando" a fim de que muitos de nós não tenhamos de ir para o exílio.

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