Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu juros Banco Central

Juros sobem em reação a comando da economia de Lula 3 e BC faz alerta

Governo eleito mostrou, até agora, que não está preocupado com o efeito negativo do aumento de gasto público

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No dia em que o governo Lula 3 anunciou mais dois nomes importantes da economia, o Banco Central soltou um documento de rotina, mas que conversa de modo implícito com as alternativas de política econômica ora postas sobre a mesa pelo presidente eleito. Em vez de promover mais crescimento, tais planos podem elevar inflação, dólar e juros.

O documento é a exposição de motivos da decisão do BC a respeito da Selic, chamado de "Ata do Copom". Os novos nomes na economia são Gabriel Galípolo, que será o secretário-executivo de Fernando Haddad, e Aloizio Mercadante, presidente do BNDES.

Embora tenha escrito que o cenário continue nebuloso, a direção do BC dedicou-se, de modo mais extenso do que de costume, a comentar o risco de aumentar gastos do governo, diretos ou por meio de estatais ("parafiscais"), e de tentar reduzir taxas de juros por meio de bancos públicos.

O ex-prefeito Fernando Haddad (PT), anunciado como futuro ministro da Fazenda, durante entrevista coletiva nesta terça (13) - Pedro Ladeira/Folhapress

Mercadante, nomeado para o BNDES, foi ministro de Dilma Rousseff (Ciência, Educação e Casa Civil) e coordenou o programa de Lula 3. Quatro dias antes do segundo turno, o PT publicou a "Carta para o Brasil do Amanhã", diretrizes sintéticas de governo. Em termos econômicos, parecia com Lula 2 e Dilma 1, em especial no que deu bem errado.

Galípolo é consultor, trabalhou com projetos de interação público-privada em investimento e foi presidente do Banco Fator. É a favor de regra forte de controle do endividamento público. Quanto ao "parafiscal" e para resumir um assunto enrolado, acredita que, dada a escassez de dinheiros públicos, o Tesouro Nacional e o BNDES, devem atuar mais como garantidores e facilitadores de investimento privado. Em vez gastar, ficam com parte do risco do negócio, de modo a atrair mais capital doméstico e externo ("alavancar").

Lula 3 mostrou, até agora, que não está preocupado com o efeito negativo do aumento de gasto público. Pode até ser que Haddad não gaste o que o Congresso autorizar no pacotão da PEC; que proponha logo uma regra fiscal (de contenção do aumento de déficit e dívida) que se possa levar a sério. Por ora, para ser ameno, há "incerteza", como diz o Banco Central.

Para os credores do governo e outros donos de dinheiro, a nomeação de Mercadante para o BNDES sugere que a "Carta para o Brasil do Amanhã" é para valer.

A direção do BC escreveu que o gasto do governo pode afetar a inflação por meio de estímulo a consumo e investimento, de seu efeito na taxa de câmbio ("dólar"), na incerteza, nas expectativas de inflação e no nível da taxa de juros sustentável, "neutra" (aquela que, em tese, evita que a economia esfrie ou esquente além da conta).

Se o gasto aumenta quando desemprego e ociosidade nas empresas são baixos, há inflação na veia. Se o gasto tende a provocar um aumento acelerado da dívida pública, dólar e juros tendem a subir: pode haver uma combinação de inflação com retranca de investimentos produtivos. Juros subsidiados por bancos estatais (como o BNDES) podem obrigar o BC a elevar a taxa básica de juros (Selic), a fim de compensar o "desconto" dados nas taxas administradas pelo governo.

Em suma, sem folga econômica e confiança de que a dívida não vai crescer sem limite, o tiro do gasto adicional sai pela culatra. Em traços amplos, é uma descrição da interpretação de economistas padrão sobre erros centrais de política econômica de Dilma Rousseff.

Até agora, credores do governo e donos do dinheiro acham que Lula vai por aí. Está evidente na alta dos juros desde que Lula, eleito, passou a falar de economia —não é preciso fazer pesquisa de opinião. A continuar assim, a "incerteza" vai se tornar risco sério de naufrágio.

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