Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu inflação juros

Aluguel, prato feito, plano de saúde, escola: inflação ainda não acabou

Números melhoram, juros de prazo longo caem, mas carestia resiste nos serviços

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Na média, os preços caíram 0,08% de maio para junho. A inflação anual, o IPCA acumulado nos últimos 12 meses, baixou para 3,16%. As notícias são boas, mas ainda há focos de incêndio nos preços; o IPCA anual assim baixo é um pouquinho ilusório.

Outras medidas de inflação importam porque o Banco Central vai prestar atenção nisso quando decidir o ritmo da queda da Selic, a taxa básica de juros, de curtíssimo prazo. Importam também porque a vida continua difícil, claro, considerados alguns aumentos de preços muito importantes.

De qualquer modo, não estamos em um processo de baixa de preços sintomático de um esfriamento dramático do consumo ou do ritmo geral da economia; nem o remédio dos juros foi inútil porque a doença começou a passar, como acredita o comando do PT.

O virado à paulista foi reconhecido como patrimônio imaterial do Estado. Prato servido no restaurante Ambar em Pinheiros leva bisteca, arroz, tutu de feijão, torresmo, couve, linguiça e banana à milanesa
O virado à paulista foi reconhecido como patrimônio imaterial do Estado. Prato servido no restaurante Ambar em Pinheiros - Rubens Cavallari/Folhapress

Nos últimos 12 meses, o preço de planos de saúde aumentou em média 14,5%. Comer fora de casa ficou 7,2% mais caro. Escolas, cursos etc. tiveram aumento de 8,3%. Aluguéis, 6,6%. No conjunto, a inflação de serviços ainda está em 6,2% ao ano; a de serviços em que os preços reagem mais ao ritmo da atividade econômica, em 6,7%.

A baixa dos preços tem vindo de bens que costumam variar bastante ("voláteis") e não necessariamente por causa do ritmo da economia. Isto é, do custo dos alimentos que se preparam em casa, que podem custar mais ou menos também porque choveu muito ou pouco, por causa de safras grandes ou pequenas, aqui ou no restante do mundo. No caso relevante agora, a baixa tem vindo também de preços de combustíveis, que têm caído por causa do arrefecimento da crise global de energia e do impacto da guerra de Putin, do desaquecimento da economia mundial e da baixa do dólar, além de uma colaboração adicional da Petrobras.

É ruim? Claro que não. Inflação menor nos "preços voláteis" é inflação menor, ponto. Mesmo uma queda de preços transitória em alimentos e combustíveis desidrata a inflação média geral, o IPCA, o que ajuda a conter a contaminação de preços no futuro (diminui indexação, inércia, expectativas). Mas, note-se, tais preços são voláteis, um risco.

No entanto, a inflação resiste nos serviços, em parte porque o mercado de trabalho ainda está relativamente aquecido. É muito provável que a carestia persistente de serviços leve o Banco Central a diminuir a Selic a conta gotas, tudo mais constante.

Levar inflação e expectativas para a meta de 3% em 2024 é importante para Lula 3. Permite que a Selic caia mais e mais rápido. Diminui o risco de que um crescimento um tanto maior provoque nova alta de juros lá em fins de 2025. Permite a acomodação de choques e outros azares da vida.

Há riscos. Se inflação e juros continuarem altos no mundo rico, o piso da Selic aqui no Brasil deve ser maior também. Se o governo não conseguir dinheiro (mais receita de impostos) bastante para conter o déficit, as taxas de juros caem menos.

Ainda assim, há melhorias. Continuam a baixar as taxas de juros no atacadão do mercado de dinheiro, onde se definem os custos de financiamento de dívida e déficits do governo e os pisos do custo do crédito na economia em geral.

A taxa para o prazo de três anos caiu a pouco mais de 10%. Foram a 13,6% em novembro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a fazer aqueles discursos equivocados sobre a dívida pública e a meta de inflação.

A redução das taxas ditas "longas" ajudou, por exemplo, a reanimar o mercado de capitais, onde as empresas levantam dinheiro para capital de giro, investimento em infraestrutura ou refinanciamento de dívidas. Juros altos e o medo provocado pela fraude das Americanas haviam derrubado esse mercado neste ano. Em junho, houve recuperação considerável.

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