Descrição de chapéu inflação juros

IPCA-15 desacelera a 0,51% em maio e fica abaixo das projeções

Analistas esperavam alta de 0,64%; acumulado em 12 meses atinge 4,07%, diz IBGE

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Rio de Janeiro

A inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) desacelerou a 0,51% em maio, após subir 0,57% em abril. O resultado surpreendeu os analistas do mercado financeiro, que esperavam uma variação mais elevada neste mês.

A taxa de 0,51% é a menor para maio desde 2021 (0,44%), apontam os dados divulgados nesta quinta-feira (25) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 0,64% neste mês.

Com o resultado abaixo do esperado, o IPCA-15 desacelerou a 4,07% no acumulado de 12 meses, segundo o IBGE. Trata-se da menor variação acumulada desde outubro de 2020 (3,52%). O IPCA-15 estava em 4,16% nos 12 meses até abril.

Consumidores fazem compras em atacarejo na capital paulista - Rubens Cavallari - 12.abr.2022/Folhapress

O índice oficial de inflação no Brasil é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), também divulgado pelo IBGE.

Como a variação do IPCA é calculada ao longo do mês de referência, o resultado de maio ainda não está fechado. Será conhecido em 7 de junho.

O IPCA-15, pelo fato de ser divulgado antes, sinaliza uma tendência para os preços. Sua variação costuma ser calculada entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência dos dados.

Neste caso, a coleta ocorreu de 14 de abril a 15 de maio. Isso significa que os números ainda não foram impactados pelo corte dos preços de combustíveis nas refinarias da Petrobras, anunciado em 16 de maio.

Em 2023, o centro da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) para o IPCA é de 3,25%. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%).

Ou seja, por ora, o IPCA-15 está abaixo do teto da meta no acumulado de 12 meses (4,07%). Analistas, porém, esperam que a inflação ganhe força no segundo semestre, após perder ritmo na primeira metade de 2023.

Parte dessa projeção está associada ao efeito da base de comparação. Às vésperas das eleições de 2022, os preços de produtos como a gasolina foram reduzidos de maneira artificial pelo corte de tributos promovido pelo governo Jair Bolsonaro (PL).

Esse efeito deve sair do cálculo dos 12 meses até o fim do ano. De junho para julho, também é esperado que a gasolina seja pressionada pela nova alíquota de ICMS (imposto estadual) e pelo retorno integral de tributos federais.

Na mediana, a variação prevista pelo mercado financeiro para o IPCA é de 5,80% no acumulado de 2023, de acordo com o boletim Focus mais recente, publicado pelo BC na segunda-feira (22). Se o resultado for confirmado, este será o terceiro ano consecutivo de estouro da meta.

Em relatório, a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, destacou a surpresa com o IPCA-15 de maio, mas disse que os núcleos de inflação, que desconsideram impactos mais voláteis sobre os preços, seguem em patamar elevado.

"Acreditamos que a inflação em 12 meses irá atingir um patamar mínimo em junho e voltará a subir a partir do segundo semestre. O principal motivo desse comportamento é a saída do cálculo (em 12 meses) das deflações registradas no IPCA no ano passado em função dos efeitos da desoneração de impostos", apontou o relatório.

"Os núcleos de inflação do Banco Central, que expurgam elementos voláteis e não recorrentes, voltaram a mostrar melhora, mas seguem em patamar elevado", acrescentou.

Uma análise do banco Original, assinada pelos economistas Marco Caruso e Igor Cadilhac, vai na mesma linha. Eles projetam alta de 5,7% para a inflação em 2023.

"Olhando à frente, ainda que a inflação e sua composição tenham surpreendido positivamente, entendemos que o comportamento dos serviços e núcleos continua a demandar cautela", afirmou o Original após a divulgação do IPCA-15.

Preços de saúde e alimentação em alta

Dos 9 grupos pesquisados no IPCA-15, 7 tiveram tiveram alta de preços em maio, disse o IBGE. Saúde e cuidados pessoais e alimentação e bebidas foram aqueles com os maiores impactos no índice (0,20 ponto percentual cada).

Ambos aceleraram de abril para maio. Em saúde e cuidados pessoais, o avanço passou de 1,04% para 1,49%. Em alimentação e bebidas, saiu de 0,04% para 0,94%.

Assim como na divulgação anterior, a alta de saúde e cuidados pessoais (1,49%) foi puxada pelo aumento dos preços dos produtos farmacêuticos (2,68%). A carestia veio após a autorização do reajuste de até 5,60% nos medicamentos, a partir de 31 de março.

Os itens de higiene pessoal, por sua vez, tiveram aceleração de 0,35% em abril para 1,38% em maio. Houve influência, principalmente, dos perfumes (2,21%).

Segundo o IBGE, a aceleração do grupo alimentação e bebidas deve-se à alta da alimentação no domicílio (1,02%), que havia recuado em abril (-0,15%).

Os destaques foram as elevações dos preços do tomate (18,82%), da batata-inglesa (6,60%), do leite longa vida (6,03%) e do queijo (2,42%). Do lado das quedas, o IBGE citou o óleo de soja (-4,13%) e as frutas (-1,52%).

Ainda em alimentação e bebidas, a alimentação fora do domicílio passou de 0,55% em abril para 0,73% em maio. O lanche acelerou (de 0,82% para 1,08%), enquanto a variação dos preços da refeição (0,46%) foi menor que a do mês anterior (0,52%).

Produtos para casa e transportes em baixa

Os dois grupos do IPCA-15 que registraram queda em maio foram artigos de residência (-0,28%) e transportes (-0,04%). Ambos tiveram impacto de -0,01 ponto percentual no índice.

Em artigos de residência, os preços dos itens de TV, som e informática recuaram 1,44%, influenciados pelos televisores (-2,21%).

Já os eletrodomésticos e equipamentos (-0,92%) foram puxados para baixo pelos recuos do refrigerador (-1,37%) e da máquina de lavar roupa (-1,09%).

Nos transportes (-0,04%), a variação negativa foi impactada pela queda de 17,26% das passagens aéreas, após salto de 11,96% em abril.

Nos combustíveis (0,12%), houve redução nos preços do óleo diesel (-2,76%), do gás veicular (-0,44%) e da gasolina (-0,21%). O etanol, por outro lado, subiu 3,62%.

Inflação e juros

Segundo o banco Fibra, o IPCA-15 veio abaixo das previsões principalmente em razão da deflação das passagens aéreas, da gasolina e dos artigos de residência. Com a surpresa, a instituição cortou sua projeção para o IPCA deste mês, de 0,55% para 0,44%.

"Não há dúvida que a pressão para que o Banco Central (BC) reduza a Selic já em agosto/setembro vai aumentar tanto via precificação da curva de juros quanto por parte do governo", diz o banco Fibra.

Para a instituição, a autoridade monetária "deve manter o tom conservador pelo menos até o final do terceiro trimestre".

O BC vem mantendo a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano sob argumento de que busca conter a inflação. Ao esfriar a demanda por bens e serviços, a medida tenta frear os preços e ancorar as expectativas para o IPCA.

O efeito colateral previsto é a perda de fôlego da atividade econômica, porque o custo do crédito fica mais alto para empresas e consumidores.

A projeção de desaquecimento da economia no primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) preocupa o presidente e aliados. Eles vêm fazendo críticas em sequência ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, em razão do patamar dos juros.

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