Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Sucesso de Lula 3 depende de um final de ano com mais impostos

Economia esfria até o fim de 23; retomada depende do plano de tapar déficit com mais tributo

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As férias do Congresso esvaziam o noticiário político-econômico. Parte maior da atenção do público está ocupada por essa que se tornou uma das grandes questões do nosso tempo, por assim dizer, a Barbie. Na vida real e adulta, o assunto da hora é a tentativa de Fernando Haddad de acertar com o Congresso um calendário para a aprovação de impostos, o tema mais importante da economia nesta segunda metade do ano.

Caso Haddad tenha sucesso, haverá a perspectiva de que a meta de zerar o déficit do governo em 2024 pareça realista. A perspectiva de que as metas fiscais sejam pouco furadas deve baixar taxas de juros, manter a taxa de câmbio ("preço do dólar") comportada e contribuir para um reaquecimento da economia entre o trimestre final deste ano e o primeiro de 2024.

O aumento de imposto é essencial para o sucesso de Lula 3, para discussões mais sérias sobre o futuro, para estabilizar o país e, assim, diminuir o risco de novo ataque dos bárbaros políticos.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Lula - Agustin Marcarian - 23.jan.2023/Reuters

Haddad quer tributar os fundos de investimento de ricos, os ditos fundos exclusivos, privilégio dos mais indecentes. Quer tributar sites de apostas. Quer acabar com outras isenções tributárias e fazer com que algumas, já desautorizadas pela Justiça, acabem por render algum dinheiro para o Tesouro (ainda não estão rendendo).

Vai ter de lidar com o difícil problema do fim das desonerações (menos impostos) sobre a folha de pagamento de certos setores. Terá de evitar que vingue o aumento da faixa de isenção de IR da Pessoa Física, promessa ruinosa da campanha de Lula 3.

Terá de evitar que o governo apareça com planos de forçar a barra do crescimento por meio de subsídios, isenções de impostos do gênero "Mais Carros" ou "Mais Geladeiras, de estouro de estatais ou de bancos públicos; de evitar os tantos favores setoriais que estão na fila de votação do Congresso.

É preciso aumentar a carga tributária, não importa o nome que se dê à cobrança de mais impostos, se "reoneração", fim de "jabutis", de gasto tributário etc. A carga tributária é apenas uma proporção: o total de impostos arrecadados dividido pelo valor do PIB.

É necessário. É o que deveria ter sido feito desde 2015, quando ficou claro de vez que as contas do governo haviam ido à breca. Isto é, cobrar mais imposto em vez de pedir emprestado a fim de cobrir os déficits descabelados do governo federal.

O segundo semestre também deve ser o da aprovação final da reforma tributária, sob risco de ser desfigurada por reduções de alíquotas para setores com lobby forte. Daí não virá mais dinheiro, mas um método de tornar a economia mais eficiente. Também no segundo semestre devem aparecer os programas de "transição verde" e de política industrial.

Tudo muitíssimo importante. Mas, no curto prazo, é preciso cobrar mais imposto.

O Congresso vai deixar passar o programa de impostos de Haddad? A nova aliança com o centrão-direitão vai bancar um acordo sobre essa matéria crucial? Desde 2015, ao menos, o Congresso barra imposto.

Há sinais de melhoria no horizonte. As taxas de juros de prazo mais longo caíram de modo relevante desde abril, o que deve começar a ter efeito prático no final do ano. O mercado de capitais começa a se recuperar. O começo da queda da Selic deve ajudar, embora quase nada neste ano. Se tudo der certo, seu efeito no crédito começa a ficar visível lá pelo Carnaval de 2024. O Desenrola pode aliviar endividados e o balanço dos bancos, dando algum impulso ao crédito, minguante de modo relevante desde abril.

Nada disso vai muito longe, porém, se não houver perspectiva de que o governo vai conseguir cumprir suas metas fiscais (de reduzir o déficit). Isto é, de sucesso da contenção de gasto e do semestre do imposto de Haddad.

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