Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Descrição de chapéu Crise energética

Brasil precisa de horário de verão, mas problema de energia elétrica é mais profundo

Medida volta a ter utilidade porque consumo e produção de energia mudaram

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O país vai ter de recorrer ao horário de verão a fim de aumentar a segurança do abastecimento de eletricidade em certos horários ou também reduzir custos de energia. Se não neste 2024, em 2025, a fim de não depender dos deuses da chuva. Faz uns dois meses, a proposta está na mesa do governo.

Mas limitar o debate ao horário de verão é desconversar sobre um monte de problemas e providências atrasadas. A seca no país, de resto, não reduziu o nível dos reservatórios das hidrelétricas ao de anos críticos. No início de setembro, a quantidade de água para se produzir energia nas hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste era a maior desde 2011, com exceção de 2023, o melhor deste século. O problema é outro.

A imagem mostra um pôr do sol grande e brilhante, com uma tonalidade laranja predominante no céu. No primeiro plano, há uma torre de transmissão de energia elétrica, que se destaca em silhueta contra o sol. Ao fundo, outras torres de energia são visíveis, também em silhueta, com fios de eletricidade cruzando a imagem.
Torre de transmissão de energia em Brasília - Ueslei Marcelino - 29.ago.2019/Reuters

Para começar, é preciso distinguir entre capacidade total de gerar energia e energia disponível em certo momento do dia, no pico de consumo, por exemplo. Faz anos, o pico nos meses quentes migrou do começo da noite para o meio da tarde (mais eletricidade para ar condicionado). Foi um motivo para se desconsiderar a economia com o horário de verão. Mas há problema novo na noite.

Nesta quinta-feira (12), o consumo era de 94,8 mil MW às 15h15. Deste total, 44,7 mil MW vinham de hidrelétricas, 19,3 mil MW de energia solar, 15,2 mil MW de eólicas etc.

Às 18h, o consumo era de 91,9 mil MW. A geração das hidrelétricas passara a 54,3 mil MW. A das eólicas, para 19,2 mil MW. A solar caíra para quase nada, é óbvio (anoiteceu).

A oferta de energia eólica era quase nada em 2010; a solar, nada em 2016. Tornaram-se muito relevantes, como se pode ver pelos números desta quinta. Mas ventos podem ser inconstantes. O sol "desliga" em certo horário. É preciso contar com hidrelétricas, com mais térmicas, mais caras e poluentes, e outras soluções.

É preciso ainda ter uma folga na geração de energia (para não haver apagão em caso de acidente localizado, por exemplo). Essa "folga" está diminuindo, dado o crescimento do consumo.

É risco para o começo da noite —durante o dia, a solar vai dando conta da demanda extra. Precisamos de mais energia para quando o sol se puser.

Como atenuar o problema agora? Colocar mais termelétricas no pacote. Usar mais energia de Itaipu. Importar eletricidade de Argentina, Uruguai. Fazer com que grandes consumidores usem menos energia em certos horários.

Outro solução é diminuir as restrições de uso das hidrelétricas (e, pois, da sua água), tanto de modo emergencial (por dias, semanas) ou planejado —um programa geral e eficiente, "ótimo", dos usos diversos das águas e da energia hidrelétrica. A água das usinas também serve para beber, irrigar; para manter o nível de lagos ou rios para turismo, negócios, navegação, proteção ambiental. Há restrições físicas, regulatórias e até políticas ao uso dessa água.

É preciso fazer leilões para a compra de energia nova, o que não ocorre desde 2022. É preciso já pensar em colocar baterias nesses leilões. Isso: baterias para armazenar energia nas horas de "folga" do dia e usá-las em momento de escassez relativa.

É fácil perceber, pois, que resumir o assunto a horário de verão é camuflar um problema maior, no curto prazo e daqui a um par de anos. Ainda assim, o horário de verão seria uma solução praticamente grátis (fora transtornos individuais) para atenuar riscos, por ora, e poupar bilhões de reais.

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