Walter Casagrande Jr.

Comentarista e ex-jogador. É autor, com Gilvan Ribeiro, de "Casagrande e seus Demônios", "Sócrates e Casagrande - Uma História de Amor" e "Travessia"

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Walter Casagrande Jr.

Não podemos cair na armadilha do ufanismo

Se achamos maravilhoso bater Gana, pense nos suíços, que derrotaram a Espanha fora de casa

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A Copa está chegando, e as equipes que compõem o grupo do Brasil também jogaram. Suíça e Sérvia atuaram pela Nations League, e Camarões, em amistoso.

Depois da ótima partida da seleção brasileira na vitória por 3 a 0 sobre Gana, na sexta, surgiu uma euforia ufanista e perigosa por aqui. Escrevi que deveríamos manter os pés no chão para que os jogadores também ficassem com os pés no chão.

Por que digo isso?

Se achamos maravilhoso ter goleado Gana, pense na torcida da Suíça após a vitória por 2 a 1 sobre a Espanha, fora de casa. O time voltou a mostrar eficácia contra uma potência europeia, com força na marcação e competência extrema nas poucas chances que teve.

Sempre foi assim, inclusive na Copa de 2010, quando também venceu a Espanha (que seria a campeã na África do Sul), mas naquela oportunidade por 1 a 0. Depois do gol, sofreu uma blitz constante, mas segurou o resultado.

Desta vez, no entanto, foi mais surpreendente. Virou o primeiro tempo vencendo por 1 a 0 em Saragoça. Sofreu o empate logo no início da segunda etapa, mas foi lá e matou o jogo.

Suíça voltou a levar a melhor sobre a Espanha - Marcos Cebrian - 25.set.22/Xinhua

Será que agora os ufanistas começaram a perceber que a nossa seleção vence, jogando bem, mas em disputa com equipes sem peso?

E o que falar da Sérvia, que goleou a Suécia (que está fora da Copa do Qatar) por 4 a 1 em casa? A diferença do peso desse resultado é exatamente por ser em uma competição, não em um amistoso. Sem contar que o seu centroavante Mitrovic fez um "hat-trick".

A seleção sérvia é da escola da "extinta" Iugoslávia, que apresentava um futebol muito competitivo e técnico, tanto que era conhecida como time dos "brasileiros" da Europa pelo seu modo de jogar e também pela qualidade de seus jogadores.

O Brasil enfrentará na primeira fase as duas seleções europeias, e faz tempo que não jogamos contra europeus, o que nos deixa sem parâmetro de competitividade. Repito: estou gostando da nossa evolução e desse time leve e ofensivo, mas não jogaremos contra "mortos". Muito pelo contrário, enfrentaremos duas seleções de estilos diferentes, mas complicadas.

Precisaremos ter foco o tempo todo, sem perder a atenção em nenhum momento, principalmente na marcação ao ótimo Mitrovic, que joga no melhor campeonato do mundo, que é a Premier League, defendendo o Fulham.

Já o último confronto do Brasil na primeira fase da Copa será com a República de Camarões, que tem o estilo semelhante ao de Gana, que goleamos com tranquilidade. Parece-me que o futebol africano das seleções mais tradicionais não atravessa um bom momento. A começar pela Nigéria, que nem se classificou para a Copa.

Marcante nos tempos do atacante Roger Milla, Camarões foi derrotada no primeiro amistoso que fez na Coreia do Sul. Perdeu por 2 a 0 para o Uzbequistão, que, convenhamos, não tem história no futebol e nunca chegou perto de disputar uma Copa. O próximo amistoso será nesta terça (27), contra a própria Coreia do Sul.

Peguei o exemplo da Nigéria para especificar a fragilidade de Camarões e Gana, que jogam de um modo parecido: tentando unir a força física com boa técnica, mas muitas vezes colocando nesse tempero um pouco de violência, item que merece cuidado por parte da seleção brasileira.

Enfim, concordo que somos um dos favoritos e que temos um meio-campo e um ataque de alta qualidade técnica, mas tudo dependerá da escalação de Tite. Ainda tenho receio de que ele tenha uma recaída defensiva quando começar a Copa.

Time é bom, mas devemos manter os pés no chão - Benoit Tessier - 23.set.22/Reuters

Mas, de qualquer forma, o alerta que dou é este. Teremos que entrar superfocados para que os nossos jogadores não caiam na armadilha do excesso de confiança e ufanismo de boa parte da torcida –e da imprensa também.

A maior segurança será manter os pés no chão para não ser surpreendidos novamente, como disse Zagallo na Copa de 1974.

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