Dia desses, recebi de uma amiga um vídeo do jornalista musical Gilvan Moura, do canal do YouTube Pitadas de Sal. Ele lê um texto de autoria desconhecida que descreve a perda de uma amizade não por divergências políticas, mas sim pela distância de ideais, questões de princípios e valores que determinam quem é quem dentro de uma sociedade.
O texto se chama "Amizades" e lista várias diferenças de escolhas. "Eu sou Renato Russo, Cazuza, Caetano e Chico; você é Amado Batista e Roger Moreira." "Eu sou dos livros, revistas, jornais, noticiário, e você é das fake news." "Eu sou pela democracia; você, pela ditadura." "Eu sou paz, você é teoria de conspiração."
"Eu sou universidade; você é corte de verba." "Eu sou caridade; você é dízimo." "Eu sou Pepe Mujica, Luther King, Nelson Mandela, John Lennon; você é Hitler." "Eu respeito hospitais, e você acha normal uma invasão a eles." "Eu sou Paulo Freire, e você é Olavo de Carvalho."
"Eu bato palmas para o filho do porteiro que se forma; você, não." "Eu sou por vacina, SUS, ciência; você é cloroquina, ivermectina, negacionista da ciência." "Eu sou Marielle; você é milícia."
"Eu sou pelo coletivo, por justiça social, bolsa, auxílio, e você apoia privilegiados." "Eu sou fauna e vida; você é caça." "Eu sou coragem, e você é covardia." "Eu acredito na moral das fábulas, e você acredita em kit gay nas escolas." "Eu acredito no espírito, em vida além da terra, e você é pena de morte." "Eu sou poesia, rima, leveza, e você é fuzil."
"Eu sou mato, bicho, verde, floresta, sombra; você é fogo, trator e tora." "Eu sou todas as cores, e você tolera racismo." "Eu sou Mário Sergio Cortella, e você é Ustra." "Eu sou Frida, cores e flores; você é Damares."
"Eu sou pelo amor; você fortalece a homofobia." "Eu sou pela evolução, e você, pelo retrocesso."
O texto se encerra com um agradecimento: "A nossa amizade acabou porque eu respeito todas as religiões e sou cristão; você apenas finge ser um, mas obrigado por me ajudar a me conhecer e também a reconhecer".
Agradeço por esse texto, que me inspira a traçar outros parâmetros para entender a distância existente entre quem vota de um lado e quem vota do outro.
Eu, por exemplo, sou por Richarlison e Paulinho, enquanto você é por Robinho, condenado por estupro na Itália, e Bruno, mandante de assassinato.
Eu sou por mim, Raí, Juninho Pernambucano; você é por Neymar, Thiago Silva e Felipe Melo.
Eu torço por Carol Solsberg, Isabel Salgado, e você, por Ana Paula Henkel e Maurício Souza.
Eu sou Fernanda Montenegro e Bruna Marquezine; você, Regina Duarte.
Eu sou padre Júlio Lancellotti, e você é Kelson, Kelmo, ou qualquer coisa assim.
Eu sou pelo pastor Henrique Vieira; você acende vela por Silas Malafaia e Magno Malta.
Eu sou pelo empresário Guilherme Leal, da Natura, que defende a educação; você, pelo Luciano Hang, que quer demitir professores.
Eu sou Michelle Obama; você, Michelle Bolsonaro.
Eu sou Silvio Almeida; você, Sergio Camargo.
Eu sou Marina Silva; você, Ricardo Salles.
Eu sou pelos povos indígenas; você é garimpo.
Eu sou floresta; você é pasto.
Eu sou Eduardo Suplicy; você, Roberto Jefferson.
Essas são algumas das muitas diferenças que fazem a gente perder uma amizade. Não tem a ver com opção política. E tem zero a ver com o time do coração ou a religião.
Quando os dois lados têm acesso à informação e estão cientes de quem defende o quê, todas essas distâncias resumem o abismo entre princípios e valores de um e do outro.
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