Livrarias ligaram o alerta diante de sinalizações da Companhia das Letras, o grupo editorial de maior peso do país, de que pretende recorrer menos ao modelo de consignação, que rege a maior parte das relações comerciais entre livreiros e editores hoje.
A consignação é um acordo no qual as editoras deixam seus livros estocados nas livrarias —grosso modo, emprestados— e recebem só pelos exemplares que foram vendidos, num acerto que costuma ser mensal. Quando bem administrado, o modelo favorece as editoras ao assegurar vitrines para seus títulos e as lojas ao garantir um catálogo maior de obras à disposição.
Livreiros ouvidos pela coluna relatam que a Companhia tem feito abordagens indicando a intenção de deixar aos poucos esse tipo de acordo. A ideia seria planejar renegociações graduais até o ano que vem, mantendo a consignação focada nos lançamentos —livros que se beneficiam mais da exposição nas vitrines e, tradicionalmente, precisam mais das lojas físicas para encontrar leitores.
Procurada, a Companhia das Letras afirmou estar "impedida de se manifestar sobre suas negociações, que estão sob acordo de sigilo" e ressaltou "que todas as suas decisões se baseiam na ética comercial e nos interesses de seus leitores e autores".
Do lado dos livreiros, teme-se que a medida prejudique a variedade de obras disponíveis em cada livraria, já que sem a consignação as compras de títulos precisam ser mais certeiras —isso num momento em que as lojas físicas lutam para se reerguer após o fechamento pandêmico, com competição cada vez mais acirrada da internet.
Caso a movimentação se confirme, é possível que se dissemine para outras editoras ou que, ao contrário, as rivais da Companhia aproveitem para ocupar o espaço deixado nas vitrines com seus próprios livros, aumentando seus acordos de consignação.
Quem pondera é Alexandre Martins Fontes, que é tanto editor quanto livreiro e afirma não ver o movimento como uma má notícia, se não for feito de forma abrupta. "É um teste de mercado", diz. "Aumenta a responsabilidade do livreiro, que tem que fazer mais o papel dele de escolher o que quer ter dentro da loja."
"Essa nova postura da Companhia é um voto de confiança na capacidade de trabalho das livrarias", aponta. "No momento em que deixa de consignar, ela corre o risco de ver seus livros sumirem das livrarias. Mas está apostando na qualidade dos seus autores e na capacidade das livrarias de reconhecer essa qualidade."
SOL NASCENTE Para os fãs de literatura japonesa, a Estação Liberdade promete boas novidades nos próximos meses. Em maio, saem "O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar", do cultuado Yukio Mishima, e "Beleza e Tristeza", do vencedor do Nobel de literatura Yasunari Kawabata, ambos com tradução direta do japonês. Até o fim do ano também deve chegar o inédito "Mulheres", de Osamu Dazai.
VENTO DE LIBERDADE E a Boitempo traz ainda este ano um novo livro da intelectual americana Angela Davis. "The Meaning of Freedom: And Other Difficult Dialogues", ou o significado da liberdade e outros diálogos difíceis, foi publicado originalmente em 2012 e compila uma dúzia de discursos da feminista negra.
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