Wilson Gomes

Professor titular da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e autor de "Crônica de uma Tragédia Anunciada"

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Wilson Gomes
Descrição de chapéu Congresso Nacional

Mesmo ganhando a Presidência, seu candidato pode perder com centrão no Congresso

Pleito de domingo definirá escolha de presidentes da Câmara e do Senado, daí a importância do partido de candidatos

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O que escrever às vésperas de um domingo de eleição e de eleição tão singular? Se tivesse intenção de influenciar votos, coisa que não aprecio, seria tarde demais, pois quem decidiu que irá votar numa eleição de paixões urgentes e de fricção social tão intensa já terá a este ponto lapidado sua convicção.

Pregar em defesa do "mais amor, por favor", como seria da minha índole canceriana, parece-me fora de compasso em um momento em que, não vamos nos enganar, pensa-se mesmo é em vencer a guerra eleitoral e, simbolicamente, arrancar o coração do inimigo.

Cerimônia de lacração de urnas no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Distrito Federal - Gabriela Biló - 21.set.22/Folhapress

Fazer a apologia da civilização contra a barbárie, da rebeldia contra a conformidade, da democracia contra o autoritarismo ou dos valores conservadores contra a perturbação maligna progressista me parece a este ponto inútil, depois que os lados em atrito exploraram essas contraposições binárias à exaustão nesses anos turbulentos em que andamos metidos.

O que há mais a se dizer sobre isso? As pessoas já escolheram a épica em que a sua posição é sempre a mais justa e a mais merecedora de vencer, seja isso verdadeiro ou falso.

Pensei, então, em dar desses conselhos de mãe, que as pessoas ouvem sem escutar e, se nada mudam, ao menos evitam resfriados bestas. São só três, é rápido, leia.

Não quer votar, não vote

É direito seu. Imagino que, para você, ou tanto faz quem ganhe ou não considera haver merecedor do seu voto ou simplesmente você não quer participar dessa festa pobre. Não tem problema algum em não participar, só se lembre de que os que forem votar ganham automaticamente o direito de decidir quem governará você.

Na verdade, você será governado pela vontade da maioria dos que forem votar e pronto. O seu voto poderia até contar para formar outro tipo de maioria, quem sabe, mas se isso não lhe importa, a maioria que se constituir lhe agradece por ter saído do caminho.

Note, contudo, que, se a decisão não lhe cabe por escolha sua, as consequências do que a maioria escolher, por outro lado, não só serão sua responsabilidade, como você estará nelas implicado. Na democracia não existe o "não tenho culpa, votei nulo, branco ou deixei de votar" quando você entrega o seu voto para que a maioria decida em seu lugar.

Preste atenção nos votos para o Congresso

Qual o sentido de passar a década inteira reclamando dos desmandos do tal centrão, falando mal de uma legislatura atrás da outra, dizendo que a solução é renovar as casas legislativas, odiando o toma lá dá cá, o orçamento secreto etc. e depois encher a Câmara e o Senado com representantes do próprio centrão?

Por falar nisso, eu sei que os jornalistas não costumam contar, mas saiba que não vai encontrar candidaturas de uma legenda chamada centrão nas urnas para o seu ajuste de contas. O nome centrão é só uma camuflagem, a entidade se chama PL, PP, União Brasil, Republicanos, PTB etc. Claro, eu sei, pode ser que você prefira justamente as políticas públicas e os valores de tais partidos. É seu direito, ora bolas. Mas, nesse caso, pelo menos faça uma escolha consciente do que está contratando: o centrão.

Nada adianta dar a Presidência da República a A, achando que ele vai magicamente transformar o país, e anular todo o efeito da eleição do Executivo entregando as casas legislativas a B, justamente no momento em que o Legislativo tem a maior concentração de poder político da sua história.

Claro, quem for pela reeleição do presidente não deve se preocupar com o Congresso, pois o orçamento secreto estará fazendo a sua feitiçaria de reeleger a maior bancada do centrão de todos os tempos. Porém, quem, ao contrário, quiser demiti-lo, que preste atenção: o seu candidato pode perder mesmo ganhando a eleição, basta a gente dar a maioria do Congresso ao outro lado.

Sim, a eleição de outubro é importante, mas aprendemos amargamente nos últimos anos que é ela que estabelece as condições para uma eleição igualmente importante, de que você não participa, em fevereiro de 2023, para os presidentes das duas casas legislativas do Congresso Nacional.

Os presidentes Arthur Lira e Eduardo Cunha, para ficar em duas aflições ainda presentes em nossas memórias, não chegaram a controlar o centro político nacional por acaso, embora não tenha sido o voto popular o que diretamente os colocou nessa posição.

As eleições de outubro terão efeitos, incontroláveis por você, nas eleições de fevereiro. Por isso, legendas de deputados e senadores importam e muito, tanto quanto o seu voto a presidente ou a governador.

Tenha juízo

Votar é precioso e necessário para que você contribua para dar a forma que prefere ao país que ama, mas tenha cuidado: tem um lado com os nervos à flor da pele, perspectivas sombrias de futuro e, sobretudo, armado.

A privacidade da cabine de votação, só você e a urna, é que dará a resposta que acha que deve aos que apostam no medo e na violência. Cuide-se e cuide de todos nós com o seu voto.

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