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Vinícolas do Alentejo atraem com grandes rótulos, pratos típicos e vivência rural

Uma das casas armazena o icônico Pêra-Manca, cuja safra 2015 no Brasil sai por R$ 4 mil

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Évora

Localizada na porção centro-sul do país, a região do Alentejo revela um Portugal de alma rural, que desabrochou para o turismo há pouco tempo sem virar as costas a tradições moldadas ao longo de séculos.

Embora a belíssima capital, Évora, fique a apenas 133 quilômetros de Lisboa, o que representa uma hora e meia de carro por estrada de padrão europeu, a cidade é cada vez mais voltada para dentro e perdeu 5,4% de seus habitantes na última década –restaram 53,5 mil.

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Visão da vinícola Torre de Palma, no Alentejo, em Portugal - Divulgação

Considerada Patrimônio Mundial pela Unesco desde 1986, Évora é um livro de história a céu aberto. Uma simples caminhada pelo centro descortina ruínas de um templo romano, uma catedral construída a partir de 1186 e um aqueduto, erguido em 1537.

Nas ruas medievais encerradas entre muralhas, sobrados construídos entre os séculos 16 e 18 mantêm a pintura branca original, que reflete os raios do sol e ajuda a enfrentar a fornalha do verão alentejano.

A partir de Évora, que está bem no centro da região, é fácil conhecer as vinícolas do Alentejo, onde são produzidos alguns dos vinhos portugueses mais icônicos. De carro, são trajetos de não mais de uma hora, por estradinhas planas que cortam vilarejos encantadores.

Segundo a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (www.vinhosdoalentejo.pt), 73 propriedades compõem a Rota dos Vinhos do Alentejo, embora algumas não figurem no roteiro oficial porque só recebem turistas de maneira mais intimista, com agendamento prévio.

Parte delas oferece apenas passeios pelos vinhedos e adegas, a pé, de jipe e até de balão, enquanto outras organizam experiências com refeições e algumas ainda dispõem de restaurantes e luxuosa hospedagem.

A beleza da paisagem é uma atração em comum –planícies extensas são pontuadas por pequenas serras e plantações de sobreiros, a árvore de onde se extrai a cortiça.

Nos vinhedos onde prevalecem castas autóctones, como Antão Vaz, Aragonez e Trincadeira, e outras que se aclimataram tão bem que viraram patrimônio local, como a francesa Alicante Bouschet, cabe aos rebanhos de ovelhas manter o mato sempre podado.

Como em toda região que já passou pela escassez severa, a cozinha pobre alentejana deu origem a pratos memoráveis e obrigatórios –o porco preto alentejano, alimentado a bolotas, frutinhos que caem dos sobreiros e azinheiras, é o ingrediente por excelência.

Na sobremesa, imperam a encharcada, doce de gemas e açúcar em grumos, e a sericaia, espécie de bolo servido com ameixas de Elvas, compota típica da região.

O Alentejo é também o guardião de uma tradição milenar, o vinho de talha, que fermenta dentro de enormes ânforas de barro. A festa de São Martinho, em 11 de novembro, é a ocasião em que se abrem as talhas para que o vinho seja finalmente provado.

Mas quem quiser participar da vindima, período em que é possível acompanhar a colheita e participar da pisa das uvas, deve escolher o mês de setembro –no Alentejo, a técnica de pisar os frutos que chegam do campo não é encenação turística e faz parte de verdade da rotina de boa parte das propriedades.

O roteiro a seguir inclui dez vinícolas de diferentes perfis, onde é possível conhecer esse Portugal profundo, embriagar-se de sua cultura e seus sabores e provar vinhos de alta gama, por preços bem mais baixos do que os praticados aqui.


Adega Cartuxa (cartuxa.pt)

Administrada pela Fundação Eugénio de Almeida, recebe os turistas na Quinta de Valbom, em uma antiga casa de repouso de Jesuítas transformada em centro de estágio para os vinhos —a vinificação acontece em outra propriedade.

Nas visitas, é possível ver talhas seculares e barricas que armazenam um dos vinhos mais famosos (e caros) de Portugal, o Pêra-Manca. O tinto safra 2015, que acaba de chegar ao Brasil por R$ 4 mil em média, pode ser comprado na loja por 275 euros (R$ 1.748,06).

Há cinco formatos de visitas, da mais barata sem degustação, que custa 5 euros por pessoa (R$ 31,78), à mais completa, com prova de cinco rótulos, a 45 euros (R$ 286,04). Embutidos, queijos e compotas podem ser acrescentados por 7,50 euros a mais por pessoa (R$ 47,67). Importante: os vinhos Pêra-Manca nunca fazem parte das degustações.

No verão, o pátio se transforma em wine bar para consumo de vinhos em taça e petiscos, com festivais de música. Os turistas também podem participar de piqueniques e da pisa das uvas durante a vindima.

Casa das Talhas (casadastalhas.adegavidigueira.pt)

É o novo espaço de enoturismo da Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, inaugurado em 2019. Apesar do grande volume —juntos, os 300 cooperados produzem 7 milhões de litros de vinho por ano–, o turista é recebido com cuidados típicos de uma adega-boutique.

A visita guiada percorre a sala das barricas, onde repousa a garrafa mais antiga da casa, de 1963; passa pela Sala 1498, onde são armazenados os exemplares numerados do Vidigueira 1498 Grande Reserva; segue pelas destilarias produtoras de bagaceiras; e termina no salão onde é possível provar vinhos de talha direto das torneiras.

Durante a temporada da vindima, entre agosto e setembro, é possível acompanhar os mais de 9 milhões de quilos de uvas sendo descarregados na adega.

Degustações acontecem no restaurante e wine bar. Os pacotes vão desde os mais simples, com visita e prova de um vinho de talha, a 5 euros por pessoa (R$ 31,78), à mais completa, que inclui visita ao Convento de Nossa Senhora das Relíquias, onde foi enterrado Vasco da Gama, almoço ou jantar harmonizado e apresentação do Grupo Coral da Adega, a 80 euros por pessoa (R$ 508,52).

Na loja, a Aguardente Vínica Velha Reserva, envelhecida por 44 anos, custa 20,10 euros (R$ 127,76).

Herdade Aldeia de Cima (aldeiadecima.com/pt)

A propriedade, inaugurada em 2019, já foi uma herdade de caça da família real e hoje pertence a Luísa Amorim, herdeira do maior produtor de cortiça de Portugal, com vinícolas também no Douro e no Dão. Dos 2400 hectares, 1750 ficam na Serra do Mendro.

A visita pode começar pela sala de estágio, onde ânforas modernas dividem o espaço com barricas e antigas talhas de terracota, e seguir com o passeio pelo campo, onde estão os vinhedos, os apiários e oliveiras seculares, cujos troncos passam de 8 metros de diâmetro. Sobe-se até o topo da serra, a 424 metros de altitude.

Não há formatos predefinidos. Os tours, com preços a combinar, são personalizados e podem incluir degustação de vinhos, passeios a cavalo e refeições típicas do Alentejo, como um cozido de carnes e legumes preparado em caldeirões de barro, colocados diretamente sobre as brasas.

Na loja, compram-se vinhos a partir de 15,20 euros (R$ 96,62), preço dos rótulos Reserva branco e tinto, além de mel, pólen de flores (para comer com iogurte) e doce de medronho, frutinha da região.

Herdade de Coelheiros (coelheiros.pt)

Fica em Arraiolos, terra famosos tapetes feitos à mão. Embora boa parte dos 800 hectares seja ocupada por sobreiros, a propriedade ainda abriga pomar de nogueiras, olivais e criação de ovelhas a pasto, conforme os preceitos da biodinâmica.

As degustações acontecem no bonito salão anexo à loja, em dois formatos: com quatro vinhos, a 20 euros por pessoa (R$ 127,13), e com seis rótulos, a 40 euros (R$ 254,26). Por mais 20 euros, pode ser incluído um passeio pela propriedade.

De jipe, o visitante percorre vinhedos e demais plantações –há prova de nozes no pomar, entre outubro e novembro – e espia de perto animais silvestres como veados, patos e lebres. Nos meses de calor, é possível agendar almoço ou degustação de vinhos na Casa do Taco, construção no ponto mais alto da herdade que já foi refúgio de caçadores– preços a combinar.

Na loja, a garrafa do Tapada de Coelheiros Tinto 2015 sai por 30 euros (R$ 190,69).

Herdade do Mouchão (mouchao.pt)

Há quase 190 anos, pertence à família Reynolds, ingleses que se estabeleceram em Portugal em 1805 e foram responsáveis por levar a casta francesa Alicante Bouchet ao país –hoje, a segunda mais plantada no Alentejo, atrás apenas da Aragonez.

A adega de 1901, onde a eletricidade só chegou em 1991, é a mais antiga da região ainda em atividade e proporciona uma viagem no tempo –as paredes grossas de adobe garantem que o interior não ultrapasse os 20ºC, mesmo quando os dias de verão chegam aos 47ºC.

Na vindima, as uvas colhidas manualmente são pisadas em grandes tanques de pedra, atividade aberta aos visitantes que queiram participar com agendamento prévio.

A tradição de vender vinhos a granel, única forma que vigorou até 1948, é mantida até hoje –a população local (visitantes também) podem adquirir o vasilhame de 2 litros por 10 euros (R$ 63,56) e o refil, por 5 euros (R$ 31,78).

Visitas simples pela adega, com degustação de quatro rótulos, saem a 15 euros por pessoa (R$ 95,34). Se incluir passeio pelas vinhas e olivais e prova de seis vinhos, mais aguardente vínica e um rótulo licoroso, passa para 25 euros (R$ 158,91). E com degustação de produtos locais, como chouriço de porco alentejano e queijo de ovelha, pula para 35 euros (R$ 222,48).

Vale a pena passar pela loja antes de ir embora. O tinto Mouchão Dom Rafael, vendido a R$ 225 nos mercados de São Paulo, sai por 8,99 euros (R$ 57,14).

Herdade do Sobroso (herdadedosobroso.pt)

Uma das propriedades mais charmosas do Alentejo, com 1600 hectares, dispõe de restaurante e 11 suítes, ao lado das quais se enfileiram enormes ninhos de cegonhas.

As experiências turísticas são conduzidas pelo casal de proprietários, Sofia Machado e Filipe Pinto. De jipe, percorre-se todo o terreno, onde além dos vinhedos é possível avistar florestas de sobreiros, lavouras de trigo, aveia e oliveiras, veados correndo soltos e 62 espécies de aves.

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Prato da vinícola Sobroso, em Portugal - Divulgação

A degustação de três rótulos na sala de estágio, entre barricas e talhas, na companhia de embutidos e queijos da região, custa 25 euros por pessoa (R$ 158,91). Já o tour com visita à vinha e à adega, prova de dois vinhos e almoço com pratos alentejanos, como javali com migas de aspargos verdes, açorda de tomate e arroz de pato bravo, sai a 50 euros por pessoa (R$ 317,83).

A hospedagem, com diárias a partir de 175 euros por casal (R$ 1.112,40), com café da manhã, pode incluir mimos como massagem no deque debruçado sobre o rio Guadiana, passeios de caiaque, cavalo ou balão, cobrados à parte.

Na loja, que também vende azeites e doces de produção local, os vinhos têm preços a partir de 6,95 euros (R$ 44,17).

Herdade dos Grous (herdade-dos-grous.com)

Fica em Beja a primeira vinícola a receber a certificação do rígido Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, em 2020.

O hotel, administrado pela rede internacional Vila Vita, dispõe de 24 acomodações, restaurante de cozinha alentejana e bar de vinhos. Com 1.700 hectares, a propriedade conjuga vinhedos, olivais, criação de cavalos, pecuária, ovinocultura, floresta e um grande lago, onde os hóspedes praticam pesca, canoagem e stand up paddle.

As visitas à adega, abertas a não hóspedes, incluem degustações e passeios pela quinta a pé, a cavalo, de trator ou de balão –preços a partir de 10 euros (R$ 63,56).

Bastante variado, o cardápio de experiências inclui piquenique com vinho, a partir de 56 euros para o casal (R$ 355,96) e workshop de produção de queijo fresco a 60 euros por pessoa (R$ 381,39).

Válido até março de 2022 (exceto datas festivas), o pacote de duas noites em quarto duplo, com degustação de vinhos, piquenique e passeio de jipe, custa 225 euros por pessoa (R$ 1.430,23).

Herdade dos Lagos (herdade-dos-lagos.de/pt-pt)

Com mil hectares, fica em Mértola e segue os preceitos da agricultura biológica. Trata-se de um verdadeiro santuário de aves, onde as plantações de uvas, azeitonas e alfarroba dividem território com o rebanho de ovelhas e as albufeiras, pequenos lagos que dão nome à propriedade.

Edificações antigas, originalmente usadas como abrigos de ovelhas, reformadas e decoradas com materiais produzidos por artesãos locais, hoje abrigam a adega, a sala de barricas e o espaço para degustações de vinhos, azeite e mel.

Os turistas podem participar de degustações de vinhos pagando a partir de 12,50 euros por pessoa (R$ 79,45) –por mais 10 euros (R$ 63,56), são adicionados produtos regionais, como pão, queijo, embutidos, presunto, azeitonas, mel e azeite. Também é possível agendar visitas guiadas pela propriedade, conhecer a adega e a sala de barricas e, na vindima, participar de todo o processo produtivo, desde a colheita.

Quinta de Dona Maria (donamaria.pt/pt)

A construção, em Estremoz, já vale o passeio –um palácio de arquitetura barroca de 1716, construído por D. João 5 para sua amante, Dona Maria. É como visitar um museu onde se pode tocar em tudo. Isabel Bastos, a proprietária, recebe pessoalmente os turistas e, dependendo do formato da visita, permite que eles circulem por alguns dos salões da casa, com paredes revestidas de azulejos, móveis e objetos de época.

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Mesa da Quinta da D. Maria, vinícola do Alentejo, em Portugal - Divulgação

O marido de Isabel, Júlio Bastos, tem tradição na vitivinicultura. Já foi sócio da família Rothschild, produtora do Château Lafite, e desde 1992 produz os vinhos Dona Maria na propriedade.

Ainda fazem parte do complexo uma igreja de 1752, consagrada a Nossa Senhora do Carmo, um grande jardim murado protegido por portal de mármore, e a piscina da família, de cujas águas emerge uma estátua de Netuno.

Na edificação da adega, grandes tanques de mármore são palco da pisa das uvas na época da vindima, aberta aos turistas.

A visita com degustação de vinhos custa de 25 euros (R$ 158,91) a 45 euros (R$ 286,04), dependendo do número de rótulos. Se o visitante incluir na experiência um almoço ou jantar servido no palácio, com louças antigas, talheres de prata e os vinhos de alta gama da vinícola, o preço sobe para 140 euros por pessoa (R$ 889,92).

Torre de Palma (torredepalma.com)

Inaugurada em 2014, a vinícola boutique fica em Monforte e compreende um luxuoso hotel, construído em um castelo medieval de 1338 que pertenceu ao Rei D. Dinis.

As 19 suítes, todas diferentes na decoração, ocupam as antigas casas de trabalhadores e têm à volta uma capela contemporânea da torre, o restaurante Palma –o chef Miguel Laffan tem uma estrela Michelin no currículo–, spa, piscina, o bar Cortejo de Baco, sala de cinema, centro equestre e a adega, eleita pela revista Condé Nast Traveller, em 2019, uma das mais bonitas do mundo.

O complexo fica no centro de um terreno de 17 hectares, cobertos por vinhedos, olivais, horta, pomar e bosque. Do alto da torre, onde são servidos drinques para observar o pôr-do-sol, vê-se que não há vizinhos por perto. O hóspede que quiser ainda mais isolamento pode optar pela Master Suíte, com piscina privativa.

No menu de experiências, escolhe-se entre as degustações de vinhos, que podem acontecer na sala das barricas, no restaurante ou ao redor do fogo; passeio de charrete pelo vinhedo; piquenique; passeio de balão; workshop de equitação para crianças com cavalos alentejanos; e tratamento de vinoterapia no spa.

A prova com três vinhos e produtos regionais custa 30 euros por pessoa (R$ 190,69). As tarifas de hospedagem partem de 200 euros por casal (R$ 1.271,32), com café da manhã. Na vindima, os visitantes são convidados a participar da colheita e da pisa das uvas.

A jornalista viajou a convite da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana

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