Veja como será a alimentação dos atletas nas Olimpíadas de Paris

Multiculturalismo e baguetes recém-assadas tomam conta do espaço que vai receber 15.000 pessoas durante os jogos

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Priya Krishna
The New York Times

O momento inesquecível em que um atleta competidor entra pela primeira vez na Vila Olímpica em Paris pode ser definido não pela impressionante dimensão e amplitude do complexo, mas por um cheiro: o aroma de baguetes recém-assadas.

Isso é proposital.

Quatro pratos brancos com legumes, verduras e carnes
Pratos que serão servidos aos atletas na Vila Olímpica em Paris. Opções incluem faláfel e salada de fregola (uma massa redonda de sémola), servidas em louça de porcelana francesa - James Hill/The New York Times

"Toda vila francesa tem uma padaria", disse Guillaume Thomas, que trabalha na comunicação das Olimpíadas de Paris. "Queremos que as pessoas possam sentir o cheiro da baguete ao entrarem."

Uma boulangerie instalada na entrada da vila produzirá mais de 2.000 baguetes, croissants, pain au chocolat e focaccias diariamente, e até oferecerá aulas de culinária para atletas que buscam um descanso da competição exaustiva.

Para os 15.000 atletas olímpicos competindo neste ano, a comida é vital para otimizar o desempenho. Os franceses gostariam de adicionar um toque de prazer.

O centro da ampla Vila Olímpica, que já foi uma usina elétrica e depois um estúdio de cinema, é uma rede de seis restaurantes que servirão os atletas o tempo todo. Sim, restaurantes. Ou pelo menos é assim que os organizadores chamam os locais conhecidos como refeitórios em Olimpíadas passadas.

"Estava fora de cogitação chamá-los de outra coisa", disse Philipp Würz, gerente de alimentos e bebidas das Olimpíadas de Paris.

No final de uma grande passarela ladeada por bandeiras de todas as delegações, fica o complexo de restaurantes com 14.000 metros quadrados, com tetos altos e janelas imponentes com vista para o Sena. Mas por dentro, se parece muito com uma cafeteria universitária. Há dispensadores de cereais, fontes de refrigerante e buffets entre azulejos vermelhos e decorações bregas, como uma instalação colorida de tubos adornados com grafites e olhos de desenho animado.

O que uma cafeteria universitária não tem, porém, são três chefs de restaurantes franceses famosos — Akrame Benallal, Amandine Chaignot e Alexandre Mazzia— que prepararão pratos como feijão-coco com sorvete de salsinha e croquetes de cogumelos.

A equipe usará polos e boinas. Haverá tábuas de queijos e manteiga francesa. A louça é de porcelana do país, a ser lavada em três lavadoras colossais construídas para as Olimpíadas.

No final de junho, a Sodexo Live, empresa francesa de serviços de alimentação responsável por essa operação, realizou uma degustação para a mídia da variedade vertiginosa de pratos a serem servidos na Vila Olímpica, incluindo gazpacho verde (refrescante), risoto de açafrão (vibrante e cremoso), faláfel (bem temperado mas seco) e financiers, pequenos bolos de amêndoas e manteiga noisette (um pouco demasiado doces).

Mas há um equilíbrio difícil de alcançar entre mostrar o estilo de vida francês e servir 40.000 refeições por dia que devem atender a inúmeras exigências atléticas, culturais e dietéticas.

A Sodexo trouxe 20 de seus chefs de todo o mundo para garantir sensibilidade cultural nos seis restaurantes. Dois dos restaurantes são franceses, dois são asiáticos, um é halal e um é simplesmente chamado de "mundo".

Carole Galissant, que trabalha em nutrição na Sodexo Live, entrou em contato com nutricionistas de cada delegação para garantir que necessidades específicas fossem atendidas. Os coreanos queriam kimchi. Os japoneses queriam missô. Nem todos os pedidos puderam ser atendidos. Várias nações caribenhas pediram maracujá, mas regulamentos de sustentabilidade para os jogos proíbem a importação de ingredientes por via aérea.

"Ainda estamos dando um foco especial às receitas francesas", disse Galissant. "Blanquette de veau, tarte au citron, Paris-Brest."

Mas muitos atletas podem nunca experimentar esses pratos.

"A regra geral é tentar manter o que é familiar o máximo possível e minimizar o novo", disse Purity Kamande, nutricionista da equipe olímpica do Quênia. "Sabemos que com o novo, todos esses problemas podem surgir e afetá-los."

Com isso em mente, ela está enviando um pacote para Paris contendo confortos quenianos como ugali, uma polenta rica em carboidratos, e chá Kericho Gold.

Madigan disse que seus atletas estavam animados para socializar nos restaurantes da Vila Olímpica, especialmente após as refeições comunitárias limitadas em Tóquio, durante a pandemia. Felizmente, os franceses são muito familiarizados com a arte de se reunir.

"Aqui na França, falamos sobre convivência, sobre comer juntos, e isso também é um elemento do desempenho de um atleta", disse Galissant, o nutricionista da Sodexo.

Brice Guyart, bicampeão olímpico de esgrima que tem consultado atletas para ajudar a aprimorar sua experiência nas Olimpíadas de Paris, disse que sempre amou o fato de que todos os atletas podem comer em um só lugar, não importa o atleta ou a nação. Nas Olimpíadas de 2000 em Sydney, ele foi à sala de jantar à 1h da manhã logo após ganhar o ouro e fez amizade com Shinichi Shinohara, um medalhista de prata japonês no judô.

Guyart fez várias solicitações à equipe da Sodexo Live com base em suas experiências: não façam os pratos muito grandes, senão os atletas comerão demais. Mantenham a temperatura moderada, já que os frequentadores das cafeterias nas Olimpíadas de Sydney e Atenas tiveram que usar casacos. Ele também sugeriu que os chefs façam bolos para os atletas que estão celebrando aniversários. "São as pequenas coisas", ele disse.

Guyart disse que, junto com a conquista do ouro em Atenas, ele lembra com carinho da salada grega na cafeteria, com pepinos e tomates frescos, e grandes pedaços de feta salgado.

"Essa é minha madeleine de Proust", ele disse.

Benallal, um dos chefs de restaurante cozinhando na Vila, espera poder criar alguns momentos igualmente evocativos para os atletas de Paris.

"Eles com certeza têm necessidades nutricionais", ele disse. "Mas também talvez, às vezes, eles possam ter prazer."

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