Relatório do 447 aponta erro de pilotos; leia a íntegra
O relatório divulgado nesta sexta-feira pelo BEA, órgão do governo francês que investiga o acidente com o voo 447 da Air France, aponta uma sequência de erros dos pilotos. O voo fazia o trajeto Rio-Paris e caiu no Atlântico em 2009, matando 228 pessoas. Leia a íntegra do relatório aqui.
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Dados da investigação divulgados anteriormente mostraram que outro fator fundamental que levou à queda do Airbus A330 foi o congelamento do tubos pitot (sensores de velocidade), que pararam de funcionar. Sem as informações de velocidade, outros dados do sistema da aeronave ficaram inválidos e a operação ficou comprometida.
O relatório de hoje foi dividido em três fases: do início da gravação do CVR (Cockpit Voice Recorder) --que grava a conversa da cabine-- até a desconexão do piloto automático; do piloto automático desativado até o disparo do alarme de estol (que indica a perda de sustentação aerodinâmica); e do alarme de estol até o fim do voo.
GLOSSÁRIO | |
---|---|
CVR | Cockpit Voice Recorder, caixa-preta que grava a conversa da cabine |
FL350, nível 350 | Altitude é indicada em níveis de centenas de pés --o nível 350 se refere a 35 mil pés |
Contato VHF | Contato por rádio na faixa de frequência VHF |
PF | Pilot Flying, o piloto que está com o comando da aeronave no momento |
PNF | Pilot Not Flying, piloto que está na cabine mas não tem o comando do avião |
PNC | Pessoal Navegante Comercial, os comissários de bordo |
Velocidade Mach | Velocidade relativa à velocidade do som |
Estol | De "stall", perda de sustentação aerodinâmica |
Kt | Abreviação de "knots", nós, medida de velocidade igual a 1,85 km/h |
ISIS | Integrated Standby Instrument System, sistema secundário de informações do voo |
Alternate law | Modo de pilotagem que desabilita o fly-by-wire --sistema computadorizado que controla as superfícies móveis do avião |
IAS | Indicated Airspeed, velocidade da aeronave |
PFD | Primary Flight Display, painel com as principais informações do voo |
Incidência ou ângulo de ataque | Ângulo entre o vento relativo e o eixo da asa da aeronave |
TO/GA e IDLE | Posições do manete do Airbus, TO/GA indica aceleração máxima, IDLE é ponto morto |
N1 | Cálculo de rotação das turbinas que indica a potência de propulsão do avião (em %) |
PHR | Plan Horizontal Réglable, o estabilizador horizontal do avião |
Na primeira fase, diz o órgão francês, o comandante do voo, Marc Dubois, deixou a cabine "sem recomendações operacionais claras" e não havia divisão explícita das tarefas entre os dois copilotos, David Robert e Pierre-Cedric Bonin.
A gravação de voz mostra que os tripulantes identificaram, no radar meteorológico do avião, que passariam por uma zona de turbulência. Para desviar, fizeram um desvio de 12 graus em relação à rota prevista. No relatório, o BEA não detalha quais atitudes foram tomadas por quais pilotos no voo.
"Em dois minutos devemos atacar uma área onde deve haver um pouco mais de turbulência que agora e devemos tomar cuidado", disse o primeiro piloto.
Logo em seguida, na segunda fase apontada no relatório, o piloto automático é desativado e o copiloto diz: "Eu tenho os comandos". O piloto automático permanecerá desligado até o final do voo.
A aeronave se inclina para a direita, e o copiloto faz uma manobra à esquerda e tenta elevar o nariz. O alarme de estol --que indica perda de sustentação no ar-- dispara duas vezes.
Segundo o BEA, também "houve incoerência entre as velocidades medidas, presumivelmente como resultado da obstrução das sondas Pitot em ambiente de cristais de gelo".
O relatório reafirma que o comandante Dubois estava descansando quando o piloto automático foi desligado, e que foi chamado diversas vezes antes de chegar à cabine. O comandante Dubois entrou na cabine cerca de 1min30s depois.
Os copilotos, diz o relatório, apesar de terem identificado a perda das indicações de velocidade, não recorreram ao procedimento de "IAS [indicação da velocidade do ar] questionável". Segundo o BEA, eles não haviam recebido treinamento sobre pilotagem manual nem para o procedimento "IAS questionável" em altas altitudes.
Na terceira fase, desde que soou o alarme anunciando a perda de sustentação, o BEA atesta que "o avião saiu do domínio de voo como resultado das ações de pilotagem manual" --ou seja, das decisões do piloto, principalmente de elevar o nariz da aeronave.
Apesar disso, o ângulo de ataque (ângulo formado entre o vento relativo e o eixo da asa da aeronave), que determina se o avião desce ou sobe, não estava aparecendo aos pilotos, segundo o relatório.
Nenhum dos pilotos, segundo o documento, identificou formalmente a situação de estol. O alarme foi acionado de maneira contínua durante 54 segundos e parou de soar quando as indicações de velocidade se tornaram inválidas.
Segundo o BEA, quando as velocidades medidas são inferiores a 60 nós (111 km/h), as medições do ângulo de ataque são consideradas inválidas e não são considerados pelo sistema de voo. Quando são inferiores a 30 nós (55 km/h), os próprios valores de velocidade são considerados inválidos.
Por fim, diz o relatório, não houve problemas nos motores do Airbus, que responderam a todos os comandos da tripulação.
Durante o voo, finaliza o relatório, nenhum anúncio foi feito aos passageiros e não há registro de nenhuma mensagem de socorro emitida pela tripulação.
Os registros param às 23h14min28s do dia 31 de maio. Os últimos dados registrados pela caixa-preta são de 16,2 graus de elevação do nariz, inclinação lateral de 5,3 graus à esquerda, rumo magnético de 270 graus e velocidade vertical de 10.912 pés por minuto (200 km por hora).
Johann Peschel/Bea/Ecpad/France Presse | ||
Uma das turbinas do Airbus A330 da Air France foi retirada do fundo do mar; veja outras fotos |
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