Depoimento: Fechar as portas é obsceno e mostra histeria do urbanóide acuado
O deprimente espetáculo que testemunhei na tarde de sábado na entrada do shopping JK Iguatemi, na Vila Olímpia, em São Paulo, despertou minha imaginação.
E se a "invasão" fosse inversa? Enquanto os tambores da Uneafro (União de Núcleos de Educação Popular para Negros) imploravam atenção em frente ao shopping, eu montava um cenário mental.
Nele, vans chegariam de surpresa a Paraisópolis com playboys e patricinhas dos Jardins, de camisetas com o dizer "#partiurolezinho" e pulseirinhas VIP do evento. Seria tão despropositado quanto a existência da camiseta "100% branco", não?
Cheguei ao shopping JK às 12h e notei a vitrine da Bulgari careca. Logo depois, três gatos (pardos) pingados do protesto contra shoppings "antirrolezistas" deram as caras e o shopping fechou as portas.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
O shopping JK não se mostrou preocupado em perder as vendas ou com a propaganda negativa pelo gesto. Não permaneceu um só interlocutor para conversar com os manifestantes. Sobraram só seguranças e porta cerradas.
"O shopping não terá a imagem prejudicada", diz um dos manifestantes. "Ao contrário, a clientela aprova a demonstração de força". Será?
Maria das Dores, moradora da ex-favela Funchal, vizinha ao shopping, que estava passando por ali, puxa conversa: "Se a garotada fosse bem-educada poderia entrar no shopping, mas não é".
Como? Será apenas questão de educação? Não são cor e classe social que destoam? Ela garante que não. "Veja o Obama, educou-se e chegou lá". Entendeu, Martin Luther King? Sacou, Malcolm X?
A obscenidade das portas cerradas em pleno sábado é expressão da histeria que domina a psique do urbanóide acuado. A engenheira Lucia Santos dá sua receita para o tema: "Deveriam começar a controlar a partir da internet".
Lembro a ela que existem casos de estudantes brancos, de "bixos" (pessoal da FEA no Eldorado, está no YouTube) que fazem fuzarca, mas que ninguém chama polícia ou entra em pânico com isso.
"Mas estes de agora são orquestrados", ela adverte. Pergunto por quem. "Pessoal no meu trabalho diz que é pela Dilma, o Lula". E se não for? Ela reconsidera: "Bem, nesse caso... Quando é branco ninguém faz nada... Então eu acho que todos devem ter o direito de se manifestar".
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