PM diz que teve ordem para falar que Amarildo saiu 'normalmente' de UPP
A policial militar Dezia Juliana da Costa Souza presta depoimento na noite desta quarta-feira na audiência de instrução e julgamento dos 25 PMs acusados do desaparecimento e morte presumida do ajudante de pedreiro Amarildo Souza, 43.
O depoimento de Dezia começou no início da noite, após o o soldado da PM Alan Jardim ser ouvido por quase quatro horas. Ele afirmou que ouviu "gritos enlouquecedores" e barulho de água como se alguém estivesse acordando uma pessoa na sede da UPP, na noite em que Amarildo desapareceu.
Assim como o soldado, Dezia disse que estava dentro de um contêiner da UPP, de onde, ouviu vozes, gemidos e gargalhadas. Ela afirmou ainda que teve ordens para não deixar o contêiner e para dizer que Amarildo saiu "normalmente" da base da UPP.
A policial disse que pediu dispensa no dia seguinte ao desaparecimento de Amarildo e que foi procurada pela mulher do ajudante de pedreiro na semana seguinte. "Ela me perguntou se eu sabia do paradeiro do marido e eu a levei para obter esta informação com o major Edson Santos", revelou.
Dezia completou que o major passou seu número de telefone e, em outro momento, levou a mulher à DH (Delegacia de Homicídios), onde foi instaurado o inquérito.
Edson Santos foi acusado pelo delegado Rivaldo Barboza, da DH, de ter autorizado seus subordinados a torturarem Amarildo de Souza. Barboza prestou depoimento na primeira audiência, dia 20 de fevereiro.
'SOB PRESSÃO'
O advogado João Tancredo, que representa a família de Amarildo disse que o soldado da PM Alan Jardim prestou depoimento sobre "muita pressão". O policial ficou diante de dos 25 colegas acusados do crime enquanto prestou depoimento.
"Mesmo assim, ele (Jardim) citou o nome de todos os 25 envolvidos neste crime", disse Tancredo.
De acordo com o advogado, a mulher de Amarildo, Elizabeth Gomes da Silva, 48, está convicta da veracidade da história contada por Alan Jardim.
Ele disse que ouviu "gritos enlouquecedores" e barulho de água como se alguém estivesse acordando uma pessoa. O militar ainda detalhou que estava dentro de um contêiner e que, de lá, ouviu os gritos vindo da base da UPP.
"Eram gritos terríveis. E isso durou 40 minutos", declarou o PM, a primeira testemunha de acusação a ser ouvida. João Tancredo afirma que o soldado disse não temer os réus.
Os 25 policiais acusados não serão julgados em júri popular por não responderem pelo crime de homicídio. Eles respondem, no entanto, a outros crimes como tortura e ocultação de cadáver. O corpo do ajudante de pedreiro nunca foi localizado.
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