Análise: Plano desfaz erros cometidos no século 20, mas não bastam boas intenções no papel
As operações urbanas que perpetraram a região das avenidas Águas Espraiadas, Chucri Zaidan e o novo Largo da Batata foram realizadas, em boa parte, após o Plano Diretor de 2002, concebido por urbanistas bem-intencionados.
Plano Diretor é um conjunto de diretrizes para guiar o crescimento da cidade, com peso de lei. Depois dele, chega a hora do detalhamento, com novo zoneamento, leis de uso e ocupação do solo e os planos de bairros
(que, na velocidade da burocracia brasileira, dificilmente estarão prontos em 2020).
O perigo está nos detalhes. E se a lei não pegar de novo?
As linhas gerais do Plano Diretor são bem-vindas, seguindo a tendência das cidades desenvolvidas do mundo, que estão desfazendo os erros cometidos no século 20 em nome da prioridade ao carro. Adensa áreas
centrais, próximas dos corredores de transporte público, e cria vizinhanças multifuncionais, onde se possa ter prédio residencial, loja e escritórios vizinhos.
São Paulo é o que é não por "falta de planejamento". Muito do que temos foi meticulosamente planejado: asfaltar margens de rios para fazer vias expressas, cortar o Centro com viadutos elevados, criar bairros-jardins
exclusivamente residenciais, onde até para comprar uma aspirina é necessário sair de carro.
Construir Cohabs e similares no fim do mundo, enquanto áreas centrais pertencem à especulação.
Os temores de que "o sistema de transporte público já está saturado" ou "São Paulo já é verticalizada demais" ignoram os efeitos positivos dessa transformação.
Se as regiões adensadas concentrarem moradia, comércio e entretenimento, os deslocamentos serão menores e algumas das atividades hoje feitas de carro poderão ser feitas a pé.
É a cidade "espalhada" que sufoca o transporte público. Condomínios fechados e favelas estão nas bordas da cidade, aonde não estão os empregos.
A verticalização de São Paulo engana como sinônimo de densidade. Sua densidade é similar a de cidades pouco verticalizadas (pelo histórico de terremotos) como Tóquio e Cidade do México.
Os espigões de Itaim ou Jardim Analia Franco não criam áreas muito densas -com vazios de garagens, recuos laterais e na frente e poucos apartamentos.
O centrão bem servido de transporte continua com baixa densidade populacional, da Barra Funda ao Brás. O Plano Diretor é avançado, destoando de políticas públicas que ainda estimulam a venda de carros (ou que jogam cidades administrativas e campi universitários longe dos grandes centros), mas o histórico recente diz que não bastam boas intenções no papel.
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