Risco de ataques a ônibus preocupa passageiros e motoristas em SC
O risco de novos ataques a ônibus se tornou o principal assunto entre os usuários do transporte coletivo de Florianópolis. "Está todo mundo apavorado", resumiu o militar aposentado Lourenço Oliveira, 66.
Às 8h desta terça-feira (30), a caminho do centro, ele viu ao longe a fumaça do fogo que destruía um ônibus no bairro Tapera, no sul da ilha. "Eu estava no Campeche [bairro vizinho] e conseguia vê-la de longe. O pessoal do meu ônibus ficou muito assustado", contou.
No terminal do centro, por onde passam 200 mil passageiros diariamente, o ataque no Tapera também era o assunto do dia.
"A gente fica assustado, não sabe o que pode acontecer e onde pode acontecer", disse a balconista Tânia Farias, 27, que pediu ao namorado para buscá-la de moto no trabalho no fim do dia.
Um passageiro da linha Tapera/Centro, atacada no início da manhã, contou que "anda assustado" porque, além do ataque ao ônibus que usa para ir ao centro, a casa de um de seus filhos foi alvejada por quatro tiros no fim de semana.
Jeferson Bertolini/Folhapress | ||
Terminal de ônibus do centro de Florianópolis, por onde passam 200 mil pessoas por dia |
O filho trabalha na penitenciária de São Pedro de Alcântara (a 30 km de Florianópolis). "Ele me ligou apavorado no meio da noite. Eu disse para ele sair de casa e procurar um apartamento", contou o passageiro, um aposentado de 70 anos de idade.
Entre motoristas e cobradores, o clima também é de insegurança. "Tem irmão nosso que está até doente com isso. Muita gente nossa já sofreu com isso no ano passado e antes [nos ataques de 2012]", disse um motorista que pediu para não ser identificado.
Desde o fim de semana, com a intensificação dos ataques, a Polícia Militar faz escolta aos ônibus, e linhas da madrugada foram suspensas. Mas os motoristas e cobradores não se sentem seguros e anunciaram hoje que só trabalharão das 6h15 às 18h30 enquanto a onda de violência não tiver fim.
"O que mais importa agora é a segurança dos trabalhadores", disse o diretor de comunicação do sindicato da categoria, Deonísio Linder.
Em nota distribuída pela manhã, o sindicato diz que as medidas adotadas não foram suficientes para conter a violência e orienta os usuários do sistema a "organizar" o retorno para casa com antecedência para não ficar sem transporte.
Guto Kuerte/Agência RBS/Folhapress | ||
Novos ataques foram registrados em Santa Catarina nesta terça-feira |
O sindicato das empresas, por sua vez, afirma que seguirá o que for definido pela secretaria municipal de Transporte e Mobilidade Urbana.
A secretaria e a Polícia Militar informaram que manterão o sistema de rondas e escoltas para garantir o funcionamento do transporte coletivo.
Em dias normais, 300 mil pessoas usam o transporte coletivo na capital catarinense e os ônibus circulam 24 horas por dia, com sistema reduzido entre 0h e 5h.
Das 18h30 à meia-noite, o transporte público atende cerca de 80 mil pessoas. De madrugada, da meia-noite às 6h, menos de 2.000 pessoas usam os coletivos, segundo Valdir Gomes, presidente do sindicato das empresas de ônibus da Grande Florianópolis.
RONDA POLICIAL
Entre sexta-feira (26) e as 8h30 de hoje, a Polícia Militar registrou 22 ocorrências no Estado, oito delas relacionadas a ônibus.
Dessas oito, uma das mais graves ocorreu em Palhoça, na Grande Florianópolis, à 0h de sábado (27). Dois homens armados pararam um coletivo com 20 passageiros e o incendiaram. Ninguém ficou ferido.
Em Tijucas (a 40 km de Florianópolis), cinco ônibus foram incendiados na madrugada desta terça. Eles estavam estacionados no pátio da empresa Beira Rio.
Gildo Formento, do sindicato das empresas de ônibus da Grande Florianópolis, disse que "não tem sentido queimar ônibus" porque a população é a maior prejudicada.
"Com ônibus queimados, as empresas colocam na rua ônibus mais velhos e as despesas voltam aos usuários", disse. Segundo Formento, um ônibus novo custa entre R$ 300 mil e R$ 500 mil.
A Secretaria da Segurança Pública de SC afirma que os ataques estão relacionados, mas diz que sua autoria e a motivação ainda estão sendo investigadas.
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