'Sou zelosa', afirma mãe que checa as notas e faltas da filha na faculdade
Zé Carlos Barreta/Folhapress | ||
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Claudia Costa e a filha Ana Giuliana Costa, 20, aluna do curso de publicidade da faculdade Belas Artes |
A gerente de agência bancária Cláudia Costa, 48, leva a filha, Ana Giuliana, 20, todos os dias para a faculdade.
No caminho, aproveita para incentivá-la. "Fico no pé. Pergunto: 'Filha, quando começam as provas? Você está estudando?'", conta. Reportagem da Folha mostra que faculdade faz até reunião de pais contra 'geração mimada'.
Cláudia acompanha as notas e faltas de Ana Giuliana pelo menos uma vez por mês pelo portal da faculdade, ao pagar a mensalidade. Encarrega-se de comprar os livros e materiais necessários para a graduação em propaganda, que a filha cursa no centro universitário Belas Artes.
"Não sou extremamente protetora. Sou zelosa. Dou toda a condição para ela ter uma boa formação. O resto é com ela", relata Cláudia.
Ana Giuliana gosta da proximidade da mãe. Pede dicas, mostra trabalhos. "Ela me dá aquele apoio moral. Somos praticamente melhores amigas", conta a estudante.
Para Cláudia, conhecer os professores pessoalmente traz "tranquilidade". "Sei que tenho a quem recorrer", diz.
O economista Fábio Cardo recorreu à direção da ESPM quando sua filha, Ana Beatriz, 22, e diversos colegas pegaram DP (recuperação) em uma disciplina.
"Não é uma ingerência no processo, mas, pela abertura que a escola dá, a gente pode dar um toque. Amigavelmente, claro", explica.
Dono de uma agência de comunicação corporativa, Cardo costuma se envolver nos trabalhos de Ana Beatriz, que cursa jornalismo.
Para ele, é uma forma de se reciclar. Para ela, é "muito bom, porque, quando tenho alguma dificuldade, meu pai me ajuda, dá conselhos".
LIMITE
Para a educadora Sílvia Colello, é positivo que os pais acompanhem e incentivem a vida acadêmica dos filhos. O problema, ela opina, surge quando há exagero na proteção e a tutela acaba adiando a conquista da autonomia.
Professora de psicologia da educação na USP, Colello observa que a atual geração de estudantes antecipou em um ou dois anos o ingresso na graduação em comparação com a geração anterior, começando o curso até mesmo aos 17 anos.
"O intervalo é pequeno, mas, nessa faixa etária, faz toda a diferença", afirma. Mais dependentes, os jovens têm dificuldade para mudar a chave, "continuam tratando a universidade como escolinha", analisa.
Essa postura compromete o desempenho acadêmico na medida em que o aluno não se desafia. "Sinto claramente a diferença de alunos, bons até, que vão, assistem às aulas, fazem tudo o que o professor pede e vão embora e os alunos que se embrenham na vida universitária, vão atrás dos professores, procuram programas de iniciação científica, ficam umas horas a mais no laboratório, leem bibliografia complementar."
Os jovens que fazem o mínimo exigido para serem aprovados, diz Colello, "desperdiçam a oportunidade de viver a universidade na sua riqueza maior, que é o trabalho de pesquisa e extensão".
Quanto à postura das universidades de estabelecer uma linha direta com as famílias, a especialista pondera que "não se pode ser ingênuo". A iniciativa, ainda que ajude a acolher os pais, não deixa de ser uma jogada de marketing das instituições.
Com a recepção às famílias, as escolas tentam conquistar simpatia e cumplicidade de modo a evitar a evasão dos alunos, sobretudo dos que entram cedo e decidem trocar de curso, afirma.
Uma professora que não quis se identificar disse que a postura de colegas contribui para o comportamento infantilizado dos alunos. "Eles ficam dando bronquinha, dizendo que, se não estudar, vai se dar mal na prova. E os estudantes só no celular."
"Hoje, o aluno da graduação tem perfil de ensino médio, e o aluno da pós-graduação se comporta como o da graduação", compara Alvaro Bufarah, professor na Faap (Fundação Armando Alvares Penteado).
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