Sem professores, alunos da rede estadual de SC ficam em casa
Luiz Felipe, 14, aluno do 8º ano do ensino fundamental, está há mais de um mês sem ir à escola por causa da greve de professores da rede estadual em Santa Catarina, iniciada em 24 de março pela "valorização do magistério".
Nos primeiros dias da greve, ele ainda foi ao Instituto Estadual de Educação, onde estuda, em Florianópolis. Mas, com a falta de professores, voltou para casa sem assistir nenhuma aula sequer.
A mãe dele, a manicure Vanessa Regina Vilela, 32, decidiu que Luiz ficaria em casa porque, à toa no colégio, o garoto acabava indo para a rua com os colegas. "Eu não gostava disso porque aqui perto tem área de tráfico", diz.
Lucas Cardoso, 13, aluno do 7º ano na mesma escola, também está sem aulas. No início, ele foi ao colégio só para jogar basquete. "O resto do tempo fico em casa vendo TV", conta.
Como Lucas mora a 20 quilômetros da escola e as aulas eram irregulares, a mãe dele, a funcionária pública Eliane Cardoso, 47, preferiu que ele ficasse em casa. "Era uma viagem grande. Também tinha despesa com transporte e lanche", diz ela.
A reportagem esteve no instituto na quarta-feira (29), e encontrou salas vazias, alunos do ensino fundamental sem aula e estudantes do ensino médio sem saber se os professores dariam aula.
"Nós estamos perdendo muita aula, e isso é muito ruim", disse Iago Melo, 16, do 2º ano do ensino médio.
A direção do Instituto não atendeu a reportagem.
Em outros colégios da capital catarinense, a situação se repete: alunos ficam em casa ou vão à escola sem saber se terão aula ou não.
"No começo a escola até avisava se ia ter professor. Mas agora ninguém sabe de nada", afirma Aline Oliveira, 15, aluna da Lauro Muller.
A greve também prejudicou a rotina dos pais. A diarista Schayane dos Santos, 22, de Florianópolis, diz estar perdendo dias de trabalho porque a filha, Maria Eduarda, 7, não tem aula todo dia.
"Se eu arrumo alguém para ficar com a minha filha, faço a faxina. Se não, tenho que ficar em casa com ela. É ruim porque diarista só ganha quando trabalha", diz.
Professores ouvidos pela reportagem dizem compreender a preocupação de pais e alunos. Mas afirmam que lutam por educação melhor.
"Entendemos alunos e pais, mas eles precisam compreender que nossa luta é por uma educação melhor para todos", diz Rosalba Costa de Oliveira, 36, assistente de educação em Joinville.
"Estamos lutando pela valorização do professor. Essa valorização tem tudo a ver com a qualidade da educação que todos querem", diz Alex Evangelista, 39, professor em Laguna.
Na quarta (29), Alex e outros 60 professores estavam acampados na Assembleia Legislativa para protestar contra a medida provisória que altera o salário dos contratados temporariamente.
IMPASSE
Os professores pedem a criação de um plano de carreira, mudanças na tabela salarial (diferença de rendimento menor entre professores com ensino médio e superior) e melhorias nos contratos temporários.
O coordenador do sindicato da categoria, Luiz Carlos Vieira, diz que a proposta apresentada pelo governo "está cheia de problemas". "Não podemos compactuar com uma proposta que tira direitos adquiridos", afirma.
Em nota, a Secretaria de Estado da Educação informou que já apresentou o plano de carreira e que revogou a medida provisória que ajustaria o salário de temporários.
A pasta informou ainda que a folha de pagamento do magistério subiu 70% entre 2010 e 2014 e que a proposta de 2015 "é injetar R$ 200 milhões na folha salarial".
Na nota, a secretaria diz que "lamenta" a greve e que manterá a "posição de não negociar" até a categoria voltar ao trabalho.
A rede estadual em Santa Catarina atende 550 mil alunos. Tem 40 mil professores e assistentes ativos e 25 mil inativos.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Acompanhe toda a cobertura dos blocos, festas e desfiles do Carnaval 2018, desde os preparativos
Tire as dúvidas sobre formas de contaminação, principais sintomas e o processo de imunização
Folha usa ferramenta on-line para acompanhar 118 promessas feitas por Doria em campanha