Na zona sul de SP, cor do grafite reforma áreas degradadas
Michel Onguer caminha pelas ruas do bairro Jardim Nakamura, na periferia sul de São Paulo, como se fosse guia de um museu a céu aberto.
"Aqui [na rua Miguel Dionísio Valle] fizemos nosso primeiro trabalho. Na época, todo mundo parou para ver o que era", disse.
Onguer, 33, mostra o muro lateral de uma casa de cerca de quatro metros de altura, ilustrado por desenhos de cinco artistas —três deles chilenos. "Só de tinta foram cerca de R$ 2.000, mas não cobramos nada."
O projeto inaugurou a primeira ação da Ciclo Social Arte, organização cultural da qual Onguer é cofundador.
Vestindo uma camiseta verde e um boné azul que levam o nome da instituição, ele diz que é a venda desses produtos que ajuda a pagar a pintura dos murais.
"A galera daqui não entende bem o que estamos fazendo, porque não rola grana. Mas a ideia é buscar a arte e pingar cultura na região", afirma o artista.
As pinturas dão cor e ao mesmo tempo ajudam a reformar áreas degradadas. Em uma das escadarias da região, ele mostrou o trabalho feito alguns meses antes.
"Aqui era sujo, destruído, sem cuidado nenhum. O grafite é uma forma de recuperar os locais. Muitos moradores me disseram que, depois da pintura, um pessoal mal-encarado até deixou de frequentar", diz Onguer.
O artista também faz trabalhos autorais, mantém um ateliê em casa e é curador na galeria A7MA (lê-se "a sétima"), que fica na Vila Madalena, na zona oeste. No trajeto até a galeria, ele costuma levar até duas horas.
Onguer e a Ciclo Social Arte também foram convidados para trabalhar no projeto Olha o Degrau, da ONG Cidade Ativa. O objetivo era ajudar a recuperar uma escadaria em frente à Escola Estadual Oscar Pereira Machado, também no Jardim Nakamura, com participação dos próprios estudantes.
"O trabalho dele já deixou marcas na comunidade. É um artista sensível em construir um diálogo com o contexto social", diz Claudemir Queiroz, 45, diretor da escola.
Na região onde 70% de seus moradores classificaram como periferia, segundo pesquisa do Datafolha, Onguer definiu o termo como "uma maioria esquecida". No Jardim Nakamura, um de seus objetivos é criar um roteiro de caminhada para guiar os turistas e mostrar os grafites do bairro. Mais do que um guia de museu, o plano é se tornar um curador urbano.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Acompanhe toda a cobertura dos blocos, festas e desfiles do Carnaval 2018, desde os preparativos
Tire as dúvidas sobre formas de contaminação, principais sintomas e o processo de imunização
Folha usa ferramenta on-line para acompanhar 118 promessas feitas por Doria em campanha