ANÁLISE
Inicialmente eficiente, projeto de Beltrame virou arma política
Antonio Cruz - 16.set.2015/Agência Brasil | ||
O ex-secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame |
A permanência por nove anos, nove meses e 16 dias do secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, mudou o paradigma do cargo.
Aplaudido em restaurantes da zona sul –tanto após a morte de dez supostos traficantes numa operação policial, como depois de ocupar pacificamente uma favela–, o gaúcho não foi fisgado pela tradição do cargo: de seus quatro antecessores, três usaram o gabinete como trampolim político. E não foram poucas as vezes que o PMDB viu a popularidade do secretário como uma válvula de escape.
Apesar disso, Beltrame cedeu seu principal projeto como arma política ao longo de todos esses anos. Pode ter sido uma das causas da terrível fase por que passam atualmente as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).
Ela nasceu quase sem querer. A ocupação no Dona Marta, em 2008, tinha o único objetivo de fazer funcionar uma creche recém-inaugurada, fechada por causa de tiroteios.
A unidade ali instalada recebeu o modesto nome de Posto de Policiamento Comunitário. Aos poucos, ganhou forma e metodologia, avançando, em sua maioria, por pequenas favelas da zona sul. Tomou nova dimensão com a ocupação do Complexo do Alemão, em 2010. Os desafios, com isso, se ampliaram.
GESTÃO BELTRAME - Secretário comandava pasta de segurança do Rio desde 2007
Neste momento, a UPP já era um trunfo político. O então governador Sérgio Cabral, do PMDB, prometeu em sua campanha de reeleição terminar o governo com "todas as favelas pacificadas". Uma promessa inexequível que Beltrame anuiu com seu silêncio.
É verdade que o secretário sempre insistiu que "a UPP não é solução para tudo". Mas a cada tiroteio, em qualquer comunidade do Rio, dizia que "a ocupação da favela X está nos planos". Enquanto o projeto expandia, policiais continuavam dormindo em contêineres no meio das comunidades.
A maré virou de vez quando a ajuda financeira de Eike Batista sumiu, assim como o pedreiro Amarildo de Souza na Rocinha, em 2013. Policiais se tornaram alvos fáceis na favela, muitas vezes entocados dentro dos postos, abandonando a origem da polícia de proximidade.
Nos últimos dois anos, Beltrame criticou a falta de projetos sociais na favela. Reclamava, corretamente, que a polícia não era a solução para tudo. Queixou-se da falta de verbas quando a crise financeira se avizinhava. Tornou-se um triste comentarista da degradação do projeto.
Ainda assim, assistiu inerte à promessa do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) na campanha de 2014 de criar mais 40 UPPs em seu governo. Nenhuma saiu do papel.
São inegáveis os avanços em sua gestão, que reduziu a mais da metade os homicídios na capital e em 40% no Estado. Muitas das vidas poupadas estão nas áreas dessas UPPs, ainda que precárias. Mas Beltrame deixa a seu sucessor o desafio de convencer os fluminenses e os políticos de que o Rio precisa mais do que UPPs para acabar com o controle armado de territórios da cidade pós-olímpica.
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MOMENTOS-CHAVE
Jan.2007
Assume o cargo de secretário de Segurança
Jun.2007
Operação no Complexo do Alemão mata 19 supostos traficantes; Estado registra recorde de mortos em confronto
Dez.2008
Polícia ocupa o morro Dona Marta, na zona sul, onde seria criada meses depois a 1ª UPP (Unidade de Polícia Pacificadora)
Nov.2010
Após uma série de ataques do tráfico, polícia ocupa o Complexo do Alemão com apoio do Exército
Jul.2013
Em uma das maiores crises enfrentadas por Beltrame, o pedreiro Amarildo de Souza desaparece após ser detido por policiais da UPP da Rocinha
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