Guiana Francesa cobra até R$ 1.500 para brasileiro usar ponte na fronteira
Divulgação/Secretaria de Comunicacao do AP | ||
![]() |
||
Ponte entre Oiapoque, no Amapá, e a Guiana Francesa; travessia de 378 m custa até € 430 para carros |
Pegar um voo do Brasil para a Guiana Francesa pode sair bem mais barato do que atravessar os 378 metros da nova ponte que liga as cidades de Oiapoque, no extremo norte do Amapá, e Saint-Georges de l'Oyapock, no território ultramarino da França.
Inaugurada em 18 de março, após seis anos de atraso e duas décadas de seu projeto, a interligação custou R$ 68 milhões, segundo o Ministério dos Transportes. O investimento foi rachado meio a meio entre Brasil e França.
Apesar disso, o governo francês cobra até 430 euros (cerca de R$ 1.500) de quem quer chegar de carro a partir do Brasil –já o caminho inverso está livre de qualquer tipo de pagamento.
![]() |
As motos (o principal meio de transporte em Oiapoque) não estão isentas. Para qualquer tipo de veículo, os valores mudam de acordo com o prazo de validade da apólice –o viajante pode optar por coberturas com duração de um a três meses.
A cobrança é para o pagamento do seguro obrigatório que os veículos brasileiros devem fazer caso queiram entrar na Guiana Francesa. Para evitar a taxa, muitos fazem a travessia a pé ou de bicicleta num percurso que soma 25 km entre as duas cidades.
Como comparação, um voo entre Manaus e Caiena –a capital da Guiana Francesa– sai a partir de US$ 156 (ou R$ 490) em um dia de semana. Para atravessar o rio de Oiapoque a Saint-Georges de barco o custo total de ida e volta é de somente R$ 30.
O tráfego predominante pela ponte é de carros com placas da Guiana Francesa. O mais comum é ver bikes passando, ou pessoas a pé. Apesar da ligação terrestre, os moradores de Oiapoque continuam a fazer a travessia de barco (em "voadeiras") num percurso de 15 minutos.
Os pedestres estão isentos do "pedágio", mas podem ser expulsos, caso não estejam com a carteira transfronteiriça ou excedam o tempo de permanência estipulado. Cada morador possui o documento que lhe permite ficar por 72 horas em Saint-Georges.
Caso seja flagrado de forma irregular, o oiapoquense é deportado e fica impedido de renovar a carteira.
Divulgação/Secretaria de Comunicacao | ||
![]() |
||
Fiscais fazem cobrança do seguro obrigatório na fronteira |
"A ponte está servindo somente para atender às necessidades da Guiana Francesa", diz Isaac Silva, chefe de Relações Internacionais da Prefeitura do Oiapoque.
Para ele, a ponte trouxe muito mais prejuízos do que benefícios. "Nós não temos aqui infraestrutura, não temos uma qualidade de vida. Temos problemas na Saúde."
Isaac diz que hospitais de Saint-Georges eram uma opção para brasileiros. "Quem fica doente tem que ser carregado na bicicleta", afirma.
Oiapoque tem 24 mil habitantes e uma economia que depende de recursos públicos. Segundo ele, o comércio com os vizinhos da Guiana Francesa é outra fonte de renda. Além de emprego, brasileiros têm amigos e familiares do outro lado da fronteira.
CONSTRUÇÃO DA PONTE
Em fevereiro de 2008 os então presidentes de Brasil e França, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Nicolas Sarkozy, se reuniram na região para tirar do papel a construção da ponte que está sobre o rio Oiapoque. Lula criticou a demora das obras, que se arrastava desde os mandatos de seus respectivos antecessores, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Jacques Chirac.
O petista chegou a classificar a demora como uma "vergonha na relação bilateral" entre os dois países. Sarkozy, por sua vez, afirmou ser contra as exigências alfandegárias, defendendo menos burocracia na passagem de carros e pessoas.
Contudo, afirmou que a França seria implacável no combate ao garimpo ilegal, à imigração e ao contrabando, crimes típicos daquela região fronteiriça.
RESTRIÇÃO
A restrição no horário de funcionamento da ponte é mais um empecilho. De segunda a sexta é possível fazer a travessia entre as 8h e as 18h; aos domingos, o tráfego é interrompido durante todo o dia. "Temos parentes e amigos do outro lado da fronteira e não temos a liberdade de nos encontrarmos quando quisermos."
O Itamaraty afirmou, por meio de nota, que solicita junto ao governo da França o fim da exigência do visto para os moradores do Oiapoque. Segundo o ministério, a questão é tratada pela Comissão Mista Brasil-França sobre Transporte Terrestre.
"O tema da cobrança dos seguros é objeto da atenção brasileira. Há interesse na busca de solução para o assunto", diz o Itamaraty. A proposta é que seguradoras do Brasil também possam oferecer os serviços.
Segundo a Embaixada da França, o seguro é uma exigência prevista na legislação da União Europeia, o que leva a França a fazer a cobrança dos brasileiros por meio de uma seguradora privada. "As apólices de seguro automóvel são padronizadas de acordo com o modelo europeu."
A embaixada afirmou estar ciente das dificuldades e disse que busca "uma solução que incentive e facilite a passagem de veículos em ambos os sentidos".
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade

Acompanhe toda a cobertura dos blocos, festas e desfiles do Carnaval 2018, desde os preparativos

Tire as dúvidas sobre formas de contaminação, principais sintomas e o processo de imunização

Folha usa ferramenta on-line para acompanhar 118 promessas feitas por Doria em campanha