Carroceiros fazem protesto contra morte de colega pela PM em São Paulo
Carroceiros que trabalhavam com Ricardo Silva Nascimento, 39, em um ferro-velho em Pinheiros trocaram o entulho para carregar cartazes de protesto no fim da tarde desta quinta-feira (13).
Em manifestação, ao menos quinze deles marcharam com suas carroças até a esquina das ruas Mourato Coelho e Navarro de Andrade, onde Nascimento foi morto a tiros por um policial militar na tarde de quarta-feira (12).
O comboio foi liderado pela carroça de Nascimento, que foi pintada de branco e presa com uma corrente a um poste a poucos metros de onde foi morto. Ao lado, foi montado uma espécie de altar com flores e velas deixados por moradores dos prédios no entorno. "Somos nós que fazemos a limpeza de São Paulo, não podem nos matar como animais", disse o carroceiro Aparecido dos Santos, 65.
Uma professora pegou flores no jardim do prédio onde mora, a poucos metros da cena do crime, e colocou na calçada. "Estou indignada". Segundo testemunhas, a polícia foi chamada no fim da tarde de terça pela atendente de uma pizzaria onde ele tinha ido pedir um pedaço de pizza.
Dois policiais que estavam fazendo ronda a pé chegaram rápido. Alterado, o carroceiro os ameaçou com um pedaço de pau. Um deles mandou ele abaixar o pau antes de disparar duas vezes a queima roupa. O corpo foi colocado inerte no porta-malas de uma viatura da Força Tática e levado ao Hospital das Clínicas, onde chegou sem vida.
O carroceiro tinha transtornos mentais e problemas com alcoolismo, mas vizinhos afirmam nunca tê-lo visto cometer atos de agressão.
Carroças foram usadas para fechar dois quarteirões da rua Mourato Coelho. "Queremos justiça", "Foi execução", gritavam os carroceiros, com cartazes nas mãos.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, os dois policiais e a equipe da Força Tática envolvidos na ocorrência foram afastados do trabalho nas ruas. Foram instaurados inquéritos policial e criminal e as câmeras de segurança da região serão analisadas pela polícia, de acordo com a pasta.
DIFICULTAÇÃO DA PERÍCIA
Segundo a Ouvidoria da PM, a conduta dos policiais após o assassinato buscou dificultar a realização da perícia. Mais cedo nesta quinta, o ouvidor Júlio César Fernandes Neves disse que a remoção do corpo do carroceiro pelos policiais foi feita "para descaracterizar a realização de uma perícia completa do local".
Neves afirma ter ouvido de testemunhas que o carroceiro foi atingido por três disparos, sendo um no peito e dois na cabeça. Uma moradora ouvida pela Folha, porém, afirma ter ouvido dois disparos.
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