Membros do Partido Comunista em São Paulo, Cauby e Golda abrigaram quantos perseguidos políticos puderam. Se não conseguiam, acionavam uma rede de contatos para amparar quem estivesse em risco. O esforço generoso conquistou gratidão e respeito.
"Sei a forma como você foi criado. Você teve educação", disse o homem durante entrevista de emprego com um filho de Cauby, ao bater o olho no sobrenome. A seleção acabaria por ali, com o garoto conseguindo a vaga.
Outra filha frequentemente ouvia, ao tentar levantar verba para seus projetos teatrais: "Ah, filha do Cauby e da Golda", quando pronunciado o Pietricovsky que levava da mãe. A questão se resolvia. O que pode soar como privilégio era, na verdade, deferência.
Jornalista potiguar, Cauby trabalhou no Recife antes de ir para São Paulo, onde conheceu Golda em uma festa de São João. Já casados e com os dois primeiros filhos, foram para a nova capital, Brasília, onde Cauby trabalhou no "Correio Braziliense" e na Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão).
Com retidão marcante, já há 40 anos censurava piadas preconceituosas. Estimulava os filhos a exercitar a tolerância.
Morreu no dia 29, duas semanas após completar 93 anos --seu último dia extremamente lúcido, para deleite dos filhos Ana Gita, Iara, Ida e Otaviano. Deixa ainda seis netos, cinco bisnetos e mais um a caminho.
Como não nasceu judeu, não pôde ser enterrado com Golda, que se foi em 2017. Ele foi cremado, e suas cinzas em breve repousarão junto daquela que foi sua companheira por 68 anos.
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