Descrição de chapéu tragédia dos sem-teto

Prédio incendiado em SP foi ocupado por facção criminosa, afirma Doria

Ex-prefeito está em Ribeirão Preto (SP) e não deu detalhes sobre acusação

Marcelo Toledo Catia Seabra
Ribeirão Preto (SP) e Curitiba

Ex-prefeito de São Paulo e pré-candidato ao governo do Estado, João Doria (PSDB) disse nesta terça-feira (1º ) que o prédio no centro de São Paulo que desabou após um incêndio durante a madrugada era ocupado por uma facção criminosa. Doria, no entanto, não deu explicações sobre a acusação.

A gestão do ex-vice de Doria e atual prefeito, Bruno Covas, informou que não irá comentar.

Doria disse ainda que houve várias tentativas da prefeitura de desocupar e abrigar as pessoas do prédio.
A afirmação foi feita durante visita do tucano à Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).
 

O ex-prefeito João Doria, durante cerimônia ao lado de seu vice e atual prefeito, Bruno Covas
O ex-prefeito João Doria, durante cerimônia ao lado de seu vice e atual prefeito, Bruno Covas - Folhapress

Questionado pela Folha sobre a avaliação do ocorrido e o que poderia ser feito para que isso não se repetisse no futuro, Doria disse que a primeira medida é “evitar as invasões”.
 
“O prédio foi invadido e parte desta invasão financiada e ocupada por uma facção criminosa”, disse.
 
De acordo com ele, a Prefeitura de São Paulo fez várias tentativas de desocupar e abrigar essas pessoas em outros pontos, sem sucesso.

“Foram rechaçados, inclusive com ameaças de violência pela ocupação irregular. Porque ali era um centro de distribuição de drogas também, além, infelizmente, de abrigar famílias em situação de rua.”

O tucano disse que o prefeito Bruno Covas (PSDB), que o sucedeu no cargo, está “tratando disso com muita seriedade e com muita responsabilidade”.

Covas chegou a dizer que seis reuniões haviam sido feitas com moradores do local e que a prefeitura estudava negociar com a União, que é dona do imóvel, a posse do local.  Sobre a posse do prédio, o ministério do Planejamento disse que ele havia sido temporariamente cedido à Prefeitura de São Paulo em 2017. ​

A gestão Bruno Covas disse que não iria comentar a acusação de Doria sobre a presença de criminosos no prédio. 

Ricardo Luciano Lima, coordenador do LMD (Luta por Moradia Digna), que gerenciava a ocupação irregular do prédio, disse mais cedo que há uma tentativa de responsabilizar o movimento, esquecendo o problema de falta de habitação na cidade. "Eu posso afirmar que o movimento, se tiver de ocupar outro prédio abandonado sem uso social, o movimento vai ocupar", diz.

Doria afirmou se solidarizar com as pessoas que foram desabrigadas, especialmente com a família do morador que ainda é buscado pelos bombeiros. “Falei há pouco com Felipe Sabará, secretário da Assistência e Desenvolvimento Social, o Bruno esteve lá também. Já foram providenciados colchonetes, alimentos e o acolhimento a todos, indistintamente.”
 
Ainda conforme Doria, a Secretaria da Habitação vai avaliar se há alternativa de recuperação de algum edifício da prefeitura na área central da cidade que possa abrigar essas pessoas.
 
Questionado sobre culpados pelo episódio, ele disse que a “ideia não é estabelecer culpados”.
 
“Primeiro solidariedade e atendimento aos desabrigados e aos familiares desta pessoa que perdeu sua vida. E agora estabelecer planejamento com prefeitura e creio também que com o governo do estado.” Os bombeiros, porém, ainda não confirmam a morte do homem citado pelo ex-prefeito.

TEMER, COVAS E FRANÇA 

Mais cedo, o presidente Michel Temer (MDB) esteve no local do desabamento. Hostilizado, deixou o local rapidamente. 

O carro em que estava o presidente foi chutado e atingido por objetos arremessados por moradores. Ele deixou o local às pressas. "Não poderia deixar de vir, sem embargo dessas manifestações, afinal estava em São Paulo e ficaria muito mal não comparecer", disse Temer, sob gritos de golpista. 

Segundo o presidente, as cerca de 150 famílias que moravam no prédio receberão ajuda ."Serão tomadas providências para dar assistência não só àqueles que perderam seus entes queridos mas também a quem perdeu sua residência", afirmou ele, que ficou cerca de cinco minutos no local. 

Na saída dos dois carros da comitiva do presidente, uma jornalista chegou ser prensada entre os veículos. Ela, porém, não se machucou.

Depois de o presidente Michel Temer ter sido hostilizado ao visitar o local onde um prédio desabou no centro de São Paulo, o Palácio do Planalto divulgou uma nota dizendo que o presidente foi até lá “para comunicar que o governo federal está tomando providências”.

Ainda durante a madrugada, o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), foi ao local e disse que as famílias desabrigadas serão cadastradas e levadas para abrigos, e que também poderão se candidatar a receber aluguel social para procurarem um novo lugar para viver.

Ele também chamou o caso de "tragédia anunciada".

"Não tem a menor condição de morar lá dentro. As pessoas habitam ali, desesperadas. Volto a repetir que essa era uma tragédia anunciada", continuou.

Segundo o prefeito Bruno Covas (PSDB), a Prefeitura de São Paulo fez tudo que estava ao seu alcance em relação ao prédio e que os moradores foram informados dos riscos. 

"A prefeitura não pode ser acusada de se furtar à responsabilidade [de dar assistência aos moradores do prédio]", disse. "Só neste ano, desde fevereiro, fizemos seis reuniões com os moradores. O núcleo de intermediação com áreas invadidas fez seis reuniões com eles alertando destes riscos". 

A prefeitura disse também que estava em tratativas com a União, dona do edifício, para assumir a responsabilidade pelo prédio.

em curitiba

Coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e pré-candidato à Presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos afirmou que o movimento processará o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL).

O deputado publicou nas redes sociais uma mensagem em que atribui ao MTST a invasão do prédio desabado no centro de São Paulo. “Prédios vizinhos foram afetados pelo incêndio e desabamento, será que MTST ou PSOL irão indenizá-los?”.

Chamando o deputado de irresponsável, Boulos afirmou que Eduardo Bolsonaro responderá na Justiça pelo o que chamou de fake News. 

O prédio era ocupado pela frente LMD (Luta por Moradia Digna).

"É uma tragédia o que aconteceu e é lamentável que tenha gente nas redes sociais querendo fazer uso político em cima de um incêndio, de um desabamento, de um ferimento e provavelmente de morte de pessoas".

Boulos disse também que ninguém ocupa porque quer, mas por falta de alternativa.

"Se há que se responsabilizar alguém é o poder público, que não ofereceu política habitacional para aquele povo, que não assegurou, mesmo sabendo da ocupação e provavelmente dos riscos, condições melhores para as pessoas." 

O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) evitou apontar responsáveis pela tragédia. "Não sou investigador nem quero julgar ninguém, porque não tenho elementos”, afirmou.

Haddad elencou as atribuições oficiais em caso de invasão de prédios públicos.

"Tem que haver regularmente vistorias periódicas do local para impedir que tragédias aconteçam. Em geral, é uma soma de forças: Corpo de Bombeiros, Guarda Civil Metropolitana, que entrem em acordo com ocupantes para ver a situação. Condições ótimas [de segurança] dificilmente você vai conseguir, mas minimiza muito o risco de acontecer uma tragédia como essa".

Marcelo Toledo
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