Trepidando, edifício vizinho ao que desabou está em risco de colapso

Prédio chegou a ser atingido pelas chamas na madrugada de terça em SP

Guilherme Seto Regiane Soares
São Paulo | UOL

​Localizado logo em frente ao edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou na madrugada de terça-feira (1º), um edifício de 11 andares corre risco de colapso e foi interditado pela Prefeitura de São Paulo. 

A fachada está marcada pela fumaça depois do incêndio e da queda do imóvel vizinho, e os últimos dois andares ficaram danificados —apresentando risco de colapso parcial ou até mesmo total. O edifício particular misturava uso comercial e residencial.

 
Edifício em frente ao que desabou em SP, que também corre risco de colapso
Edifício em frente ao que desabou em SP, que também corre risco de colapso - Guilherme Seto

“Acreditamos que o problema esteja mesmo nos últimos andares, com risco de desprendimento de pedaços de alvenaria ou colapso. Achamos que não haverá colapso total, a não ser que a estrutura esteja muito comprometida e gere efeito dominó”, diz Humberto Leão, tenente-coronel do Corpo de Bombeiros.

O prédio, no número 20 da rua Antônio de Godói, foi interditado, e a área foi isolada. Segundo Leão, a prefeitura fará vistoria do prédio para definir os riscos estruturais existentes. Ele afirma que foi detectada, inclusive, uma “trepidação” do edifício.

É possível perceber manchas pretas inclusive na parte traseira do edifício, indicando que ele foi bastante afetado pelo desabamento do prédio da frente.

Segundo Leão, o sensor de movimento identificava nesta tarde uma oscilação de 4 milímetros na estrutura do prédio. "Se chegar a 10 milímetros, um alarme do senso dispara e teremos que aumentar o isolamento da área."

Edson Ramos, coordenador geral da Defesa Civil, diz que já entrou em contato com o proprietário do edifício com risco de colapso e que será solicitado o escoramento —apoio com vigas metálicas para diminuir o risco de quedas. Segundo ele, o valor terá que ser custeado pelo proprietário.

“Terá que ser feita uma avaliação para definir se o prédio é recuperável ou não, em termos estruturais. Caso seja, caberá ao proprietário fazer as obras necessárias”.

Segundo Ramos, eles não estão trabalhando com a possibilidade de queda imediata do prédio.

“Se fosse assim, os bombeiros nem estariam ali mais. Não vemos o risco de queda imediata do edifício, mas houve dano importante”, completa.

Outros quatro edifícios (incluindo um no mesmo número do que está sob risco) foram interditados na região. Eles foram fechados para que a área seja isolada para o trabalho de buscas e de remoção dos escombros.

Um deles (Caracu) é vizinho do que desabou. Outro, de quatro andares, fica nas costas do edifício sob risco na rua Antônio de Godói. Há ainda uma histórica igreja luterana.

CONDENADA

Mais cedo, os bombeiros informaram que a histórica igreja luterana que fica ao lado do edifício que ruiu está condenada e pode ter quedas da estrutura. 

Uma possível demolição não é descartada, mas a decisão de derrubar a igreja só vai ocorrer após análise de engenheiros que não identifiquem nenhuma possibilidade de restaurar a estrutura já comprometida.

A igreja luterana foi fundada em 1908. A restauração da torre e do altar havia sido entregue há cerca de dois anos. O custo da obra, R$ 1,3 milhão, foi bancado pela comunidade. 

Por precaução, os homens do Corpo de Bombeiros não estão atuando na área da igreja. "Pode ocorrer quedas de partes estruturais da igreja a qualquer momento. Só o engenheiro responsável poderá dizer se há possibilidade de salvar a estrutura", disse o tenente Guilherme Derrite, do Corpo de Bombeiros.

 
O edifício Wilton Paes de Almeida, no largo do Paissandu, foi engolido pelo fogo na madrugada desta terça (1º), após uma explosão no 5º andar —há suspeita de que ela esteja ligada a um botijão de gás, e moradores citam uma discussão entre um casal morador. ​

O desabamento ocorreu enquanto um homem que tentava ajudar outras pessoas era resgatado do 8º andar. Ele caiu em meio às chamas e à fumaça —​e não foi mais localizado.

Moradores suspeitavam do desaparecimento de uma mulher com crianças gêmeas. As equipes continuavam com as buscas por eventuais sobreviventes ou por vítimas. "Existem pessoas que estão desaparecidas, mas não temos como dizer se elas estão ali dentro", afirmou Marcos Palumbo, capitão dos bombeiros.

LISTA NÃO OFICIAL

Após 48 horas do incêndio seguido de desabamento, os bombeiros passaram a considerar muito improvável encontrar pessoas vivas nos escombros. “Não digo impossível porque sempre há esperança, mas é muito improvável. São condições incompatíveis com a vida”, disse Robson Mitsuo, capitão da corporação.

Oficialmente, a prefeitura e os bombeiros trabalham com o número de quatro desaparecidos: Ricardo, conhecido como Tatuagem, que foi engolido pelo incêndio no momento em que era resgatado; Selma e os dois filhos gêmeos dela, de nove anos de idade.

Mas há outros moradores do prédio que desabou sendo procurados nos últimos dias por parentes e amigos.

Entre os familiares que buscam por informações está a desempregada Evaneide da Silveira Vieira, 21. Desde a madrugada do desabamento ela não sabe o paradeiro da mãe, a faxineira Eva Barbosa da Silveira, 42, e do marido dela, Valmir de Souza Santos.

Evaneide contou que na noite de segunda (30) deixou a mãe no prédio onde ela morava havia quatro anos, no 8º andar. Quando soube do incêndio, a filha disse que foi até o edifício, mas não conseguiu entrar para ajudar a mãe.

Momentos depois, viu o prédio desabar. “Minha mãe estava lá dentro. Tenho certeza disso porque ela falou com a minha irmã por telefone, por volta das 21h, e disse que iria dormir. Foi a última vez que tivemos notícias dela”, disse.

A filha afirmou que a mãe trabalhava em uma unidade do Sesc e também não foi trabalhar desde terça (1º). “Estamos tentando falar com ela pelo celular, mas está mudo.”

Familiares do confeiteiro Francisco Dantas, 56, também dizem não conseguir contato com ele desde a noite de segunda, quando ele dormiria. Ele vivia no 9º andar do edifício havia cinco meses. 

Com a avaliação dos bombeiros sobre a baixa probabilidade de encontrar sobreviventes vivos, as equipes intensificaram as remoções com utilização de maquinário pesado.

O trabalho anterior envolvia esguichar água de forma ininterrupta para inibir novos focos e, manualmente, remover blocos de concreto para seguir os rastros deixados pelos cães farejadores.

Até então, os bombeiros consideravam a possibilidade de haver bolsões vitais no subsolo do prédio —nos quais as vítimas teriam ar para respirar. Mas ela foi descartada após buscas por um acesso aberto em prédio vizinho.

O protocolo adotado segue parâmetro estabelecido internacionalmente para buscas. Os bombeiros dizem que até uma semana depois é possível achar sobreviventes —mas a possibilidade é drasticamente reduzida após as 48 horas.

Ao todo, 366 bombeiros já atuaram no caso do incêndio e desabamento no largo do Paissandu, com 57 caminhões.

Colaboraram Agora, UOL, Dhiego Maia e Rodrigo Borges Delfim

 
 
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