João de Deus nega abuso sexual e diz estar à disposição da Justiça

Segundo defesa do médium, ele recebeu com indignação as acusações

Natália Cancian
Brasília

O advogado de João de Deus, Alberto Toron, afirmou nesta segunda-feira (10) à Folha que o médium recebeu com “indignação” a notícia de que é acusado de crime sexual e está à disposição das autoridades para esclarecimentos.

No sábado (8), 13 mulheres relataram ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, e ao jornal O Globo terem sido violentadas sexualmente por ele.

Desde então, dezenas de mulheres já relataram à imprensa ou às autoridades terem sido vítimas de crime sexual cometido por João de Deus, nome pelo qual o médium João Teixeira de Faria é conhecido.

O médium faz atendimentos na Casa Dom Inácio de Loyola, espécie de hospital espiritual mantido por ele em Abadiânia (GO).

Segundo Toron, João de Deus nega e “repele” as acusações. Ele critica a falta de identificação das vítimas. Em geral, mulheres que o acusam dizem preferir não ter o nome revelado por temer represálias.

“Tem acusações, e é importante dizer isso, cujas vozes e a cara das pessoas não foram exibidas. Então veja você: não se ouve a voz, nem vê o rosto. São coisas de mais de dez anos. Outras de quatro anos. É impossível sequer rememorar se ele conhece a pessoa e se a atendeu”, afirma Toron. 

Questionado sobre casos em que vítimas aceitaram mostrar o rosto, como o da coreógrafa holandesa Zahira Lieneke Mous, e da empresária paulistana Aline Saleh, o advogado contesta. 

“Ele nem sequer fala inglês. O português dele, se você o conhece ou já teve a oportunidade de conversar, é muito limitado também”, afirma.

No sábado, Zahira disse em entrevista ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, ter sido vítima de violência sexual durante um atendimento espiritual em 2014.

Ela relata que conheceu o trabalho do médium enquanto buscava por uma cura para o trauma de ter sofrido abusos sexuais no passado. Na segunda visita à Casa Dom Inácio, foi informada que teria uma consulta particular em um escritório ao fim da sessão, de acordo com ela.

Lá, segundo Zahira, ele pediu para que ela ficasse de costas, conduzindo-a para um banheiro onde ele faria uma “limpeza espiritual”. Depois, ele teria colocado as mãos dela no pênis e fez com que elas se movimentassem. Ela diz ter ficado com medo de denunciar o caso à época.

Aline Saleh fez relato parecido à Folha, em reportagem publicada nesta segunda. Ela conta que, em 2013, esteve na Casa e que foi levada para um banheiro, posta de costas e que João de Deus colocou a mão dela em seu pênis.

Para Toron, as circunstâncias das denúncias devem ser averiguadas. “São coisas que não quero adiantar mas que no curso de eventual investigação vamos pedir que seja apurado”, afirma.

Desde sábado, outras mulheres têm relatado casos à imprensa e ao Ministério Público. O advogado, porém, diz ter dúvidas sobre o número real de denúncias. “Eram dez, agora são 20 e estão falando em 200, o que é estranho. Isso é algo que estamos apurando.”

Segundo ele, à defesa, o médium alegou que seus atendimentos individuais são raros. “Ele refuta isso [atendimentos individuais]. O atendimento dele é público, aberto. Ele recebeu uma ou outra pessoa privadamente ao longo desses 40 anos”, afirma.

Toron se refere ao tempo de existência da Casa Dom Inácio de Loyola, fundada pelo médium em 1976. Boa parte da economia e rotina de Abadiânia giram em torno da instituição. Ele diz que o médium planeja manter suas atividades “se não houver oposição das autoridades”.

“Ele faz o bem para muita gente. Se entenderem que ele deve parar, por respeito à Justiça, assim ele o fará. Mas a princípio ele continua as atividades dele atendendo publicamente.”

Em geral, João de Deus faz atendimentos às quartas, quintas e sextas-feiras pela manhã e tarde. Lá, prescreve terapias à base de passiflora e faz cirurgias espirituais. 

Nesta segunda, a defesa protocolou uma petição ao Ministério Público, ao delegado de Polícia Civil, em Goiás, e ao juiz em que diz que João de Deus está à disposição “no dia e na hora em que entenderem necessário” para prestar depoimento e pede acesso aos procedimentos da investigação. 
 
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