A Polícia Civil de São Paulo anunciou que cobrará do Metrô, ligado ao governo paulista, explicações sobre o tempo levado para localizar e resgatar o menino Luan Silva Oliveira, 3, que morreu após ser atropelado dentro de um túnel da linha 1-azul, no último dia 23 de dezembro.
Luan Silva Oliveira viajava com familiares no sentido Jabaquara. Na estação Santa Cruz, pouco antes de a porta se fechar, correu para fora do trem e acabou sozinho na plataforma.
A Folha revelou nesta sexta-feira (4) que um relatório do Metrô aponta que a companhia levou 61 minutos até autorizar as buscas de Luan dentro do túnel.
Segundo o documento, o Metrô foi informado sobre a perda do menino de seus familiares às 11h07, por meio de uma mensagem de SMS no serviço de atendimento ao usuário da companhia.
A autorização para procurá-lo no túnel da linha, porém, só ocorreu às 12h08, uma hora e 1 minuto após o aviso e 43 minutos após funcionários do Metrô terem pedido autorização superior para essa busca.
Ao longo de todo esse intervalo, sempre de acordo com o documento interno do Metrô, diferentes funcionários atuaram nas buscas. Um minuto após o SMS, por exemplo, é lançado um alerta de buscas.
Funcionários iniciam a procura pela plataforma e depois seguem para o mezanino da estação. A procura segue também em um shopping, e nas instalações da linha 5-lilás, que faz conexão com a 1-azul.
Às 11h20, ainda sem saber o paradeiro da criança, funcionários passam a considerar que Luan possa estar no túnel da linha. Cinco minutos depois, funcionários do Metrô solicitam aos seus superiores o início dessa busca específica. A autorização chega apenas às 12h08.
Às 12h22, Luan é avistado nos trilhos por um metroviário e às 12h46 equipes conseguem chegar ao local. O menino é levado de volta à plataforma e, às 12h58, é encaminhado ao Hospital São Paulo, onde morreu em seguida.
Segundo o delegado-titular do Delpom (Delegacia de Polícia do Metropolitano), Cícero Simão da Costa, a Polícia Civil não obteve o relatório do Metrô e irá questionar a companhia sobre o tempo de resposta na ocorrência.
"Nós vamos indagar o Metrô para entender qual foi o procedimento no dia e se o resgate poderia ter sido feito em menos tempo", disse. O delegado, porém, disse acreditar que o caso foi uma fatalidade.
Câmeras da plataforma não mostram com clareza o momento em que o garoto entra no túnel. Mas outras imagens de dentro do vagão mostram quando a criança se separa da mãe e sai do trem do metrô.
Segundo o delegado, as imagens mostram que Luan estava no colo da mãe. Ela deixa cair uma bolsa. Para pegá-la, a mãe do garoto o coloca em pé dentro do vagão. O garoto então corre para fora do trem enquanto a porta se fechava e fica sozinho na plataforma.
As imagens não serão divulgadas porque estão sob segredo de Justiça. O Instituto de Criminalística da Polícia Civil está analisando as imagens que foram cedidas pelo Metrô.
Cronologia
11h07 | Metrô recebe alerta, via SMS, de que criança havia desembarcado sozinha na estação Santa Cruz |
11h08 | Metrô manda funcionários buscarem pela criança na plataforma |
11h09 | Agentes de segurança iniciam as buscas nas plataformas, mezanino, shopping e estação Santa Cruz da linha 5-lilás |
11h20 | Agentes cogitam a possibilidade da criança estar no túnel da estação |
11h25 | Funcionários pedem autorização superior para entrarem no túnel |
12h08 | O Centro de Operações do Metrô autoriza a entrada no túnel |
12h22 | Um metroviário informa ter visto um corpo nos trilhos |
12h46 | Após mais de uma tentativa, as equipes conseguem localizar a criança, deitada de lado, próximo a um vagão de trem da linha 1-azul |
12h52 | Início do resgate |
12h56 | Criança é levada à plataforma |
12h58 | A criança é levada ao Hospital São Paulo |
Providências
O Metrô de São Paulo afirma, em nota, que tomou todas as providências necessárias durante a busca ao menino Luan.
Segundo a nota, a ocorrência exigiu desenergização de um trecho de mais de quatro quilômetros de vias, desde a estação Vila Mariana até Saúde –nos dois sentidos– para que os agentes de segurança pudessem entrar no túnel.
"Nessas situações, é necessário que todos os trens que estavam em circulação na linha 1-azul sejam acomodados em área de plataforma para garantir a segurança dos usuários embarcados", afirma a companhia.
Ainda de acordo com a nota, a empresa afirma que "lamenta o triste acidente com o menino Luan, ocorrido na estação Santa Cruz no dia 23 de dezembro". E afirma que "a companhia prestou todo o atendimento necessário à família neste momento difícil".
O Metrô diz analisar a ocorrência e colaborar com as investigações policiais sobre o caso, cedendo imagens e informações solicitadas pelas autoridades.
Invasões
O Metrô viu crescer 41% os episódios de invasão dos trilhos entre 2015 e 2017. São casos de vandalismo, imprudência, tentativas de suicídio, queda de usuários e de objetos.
Para reduzir as interferências provocadas por invasões aos trilhos e aumentar a segurança, a companhia retomou antiga promessa de instalação de portas automáticas nas plataformas das estações. Até fevereiro será anunciada a vencedora da licitação em andamento.
Deverão ser instaladas portas em 36 paradas que ainda não as possuem, nas linhas 1-azul, 2-verde e 3-vermelha. As obras irão custar R$ 400 milhões.
Atualmente, estações mais novas do metrô já dispõem das portas automáticas nas plataformas --também comuns em outros países. De um total de 70 paradas da rede, 20 têm esse dispositivo.
O objetivo, de acordo com a companhia, é aumentar a segurança dos usuários e melhorar a fluidez dos trens, que não sofrerão mais com algumas interrupções da operação. No ano passado, cada interrupção da via paralisou a operação da linha em quatro minutos, em média.
Segundo os metroviários a morte de Luan expõe a falta de funcionários na companhia, já que a categoria há tempos pleiteia a contratação de agentes que pudessem atuar nas plataformas, trabalhando inclusive pela segurança dos passageiros.
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