Se for o caso, vamos usar dinheiro público no Carnaval de rua de SP, afirma Covas

Prefeito se diz esperançoso com Bolsonaro e que povo não liga para discussões políticas

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Entrevista com o Prefeito Bruno Covas (PSDB) em seu gabinete na sede da prefeitura de SP
Entrevista com o Prefeito Bruno Covas (PSDB) em seu gabinete na sede da prefeitura de SP - Eduardo Knapp/Folhapress
São Paulo

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), passará o aniversário de 465 anos da cidade às voltas com problemas que vão de uma ponte com grande fluxo de veículos interditada até a falta de patrocinadores para o Carnaval de rua.

Covas afirma que a empresa responsável pela obra na ponte que liga a marginal Tietê à rodovia Presidente Dutra já foi escolhida, mas não há prazo para liberação da via.

Já a folia, diz ele, não corre risco. Se a prefeitura não achar nenhuma empresa para patrocinar a festa, vai bancá-la com dinheiro público.

 

Do ponto de vista da administração, no aniversário de 465 anos, qual presente a cidade mais necessita?

É um pouco como perguntar para o pai que filho ele mais gosta. A gente ainda tem diversos problemas na cidade de São Paulo. As pessoas gostam da cidade, vieram para cá para poder trabalhar, mas ainda tem muito tempo perdido no trânsito, muita poluição, muita gente morando na rua. A prioridade seria melhorar a qualidade de vida.

Na véspera do aniversário, houve a interdição do viaduto que dá acesso à via Dutra.

Foi a primeira vistoria realizada por uma empresa que a gente contratou, porque já tínhamos identificado que a vistoria visual era insuficiente. Os técnicos identificaram que era um problema muito semelhante ao do viaduto na marginal Pinheiros e resolveram interditar para garantir a segurança das pessoas.

Existe a possibilidade de outros viadutos e pontes que serão vistoriados acabarem interditados ao mesmo tempo?

Não tem agora como dizer. Estamos tentando evitar o que nós tivemos no viaduto da marginal Pinheiros. Você imagina agora, na véspera de feriado, a quantidade de carros passando por ali para sair de São Paulo, a possibilidade de você ter um incidente, o que isso ocasionaria não só para a cidade como para as pessoas que poderiam se machucar. Hoje [quinta-feira, dia 24] devemos contratar a empresa que vai fazer a obra. A empresa já está credenciada na Secretaria de Obras e vai apresentar para a gente um cronograma e a estimativa de custo.

 

A prefeitura ainda não conseguiu nenhuma empresa para patrocinar o Carnaval. Ela tende a continuar buscando patrocinadores ou o senhor cogita bancar o Carnaval?

Até ano passado a prefeitura fazia um tipo de chamamento. No ano passado, o Ministério Público entrou com ação e a gente resolveu fazer de uma outra forma. Aí acabou dando deserta essa licitação. Estamos agora tentando contratar diretamente as empresas que buscam o patrocínio. Estamos tentando verificar de que forma vamos fazer isso nesse prazo. E se for o caso, não há a menor dúvida, vamos utilizar dinheiro público, não vamos deixar de ter Carnaval de rua.

Com o acidente em que um rapaz morreu eletrocutado no Carnaval, as empresas se dizem receosas devido à responsabilidade sobre elas. Isso pode mudar no edital?

Eu, se fosse ter medo de algum problema, também não era prefeito de São Paulo. Até porque estamos falando, muito provavelmente, que neste ano a gente tenha o maior Carnaval de rua do Brasil. Mas é claro que a gente tem que evitar [acidentes] ao máximo. Uma morte é inaceitável. Agora, patrocinador também precisa ser corresponsável por tudo. Não adianta ser só parceiro na alegria, precisa ser nos problemas que surgem. Não tem muito sentido você buscar parceria se não tem divisão de responsabilidades.

Ainda falando em Carnaval, foi pensando nisso que o senhor trouxe o Alê Youssef, atuante nesta área, para ser secretário da Cultura?

Foi pensando na competência dele.

Alguns grupos começaram a acusar o senhor de trair os eleitores por ter trazido Youssef, que é associado à esquerda. Como vê essas críticas?

Eu vejo competência. Esse é o principal atributo para trazer para o governo. Foi exatamente o que fez o próprio João Doria quando formou seu governo em 2016. Então, as pessoas precisam ser competentes e terem compromisso com o programa de governo. O Alexandre Youssef é a mesma coisa. Ele saiu do PT quando estourou o escândalo do mensalão, a última candidatura dele foi pelo PV, que estava na nossa coligação em 2016. Então, guinada à esquerda ou à direita é muito mais [argumento] dos comentaristas políticos.

A leitura no meio político é que o senhor acaba assumindo um pouco o espaço que o ex-governador Márcio França (PSB) teve na disputa estadual (à esquerda de João Doria).

As pessoas adoram fazer discussões mirabolantes como se tivesse grandes organizações por trás. Eu trouxe o Alexandre Youssef porque é uma pessoa competente, é ligado ao setor.

Mas não vê um peso nessa e outras nomeações mais progressistas num cenário político tão polarizado como o atual?

Eu acho que as pessoas estão preocupadas com o seguinte: tem remédio no posto de saúde? Quanto tempo leva para tapar o buraco? Vai manter o centro de esporte? Essa é a preocupação das pessoas. Prefeitura é para prefeitar, não é para ficar fazendo grandes discussões políticas.

A cidade depende de várias transferências federais para grandes obras. Como está a relação como o governo Bolsonaro?

Da mesma forma que eu tinha com o presidente Michel Temer. Não votei no presidente Michel Temer, meu candidato em 2014 foi outro. Não era do mesmo partido. Nossos candidatos eram distintos em plano federal e plano estadual. Mas a gente tem uma relação institucional, a relação da Prefeitura de São Paulo com a Presidência da República. Não há nenhuma relação político-partidária.

O fato de eu ter me posicionado votando nulo no segundo turno em 2018 não quer dizer que eu não queira ter relação com o governo federal. São Paulo e o Brasil já deram mostras suficientes de que não querem ver contaminada pelas disputas político-eleitorais a relação entre governos. Eu não estou preocupado em estar próximo ou longe do Bolsonaro, a gente tem que estar próximo do governo.

O que o senhor está achando do governo Bolsonaro?

Eu estou esperançoso de que ele possa aprofundar as reformas, em especial a da Previdência, como a que conseguimos aprovar aqui.

Até o momento o senhor tem usado o dinheiro reservado aos investimentos para finalizar obras deixadas pela gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT). A prioridade do senhor vai ser terminar essas obras, em vez de começar outras previstas?

A determinação é que não se começa nada novo sem terminar o que já estava sendo feito. Nós encontramos 13 esqueletos de CEUs, dezenas de creches, escolas, UBSs em construção pela metade. Não me importo em terminar algo que o outro [prefeito] começou. Porque [a obra] não é do outro [prefeito], é da população da cidade de São Paulo.

Então, dificilmente vamos ver o senhor começar agora uma obra de um novo corredor de ônibus, por exemplo?

Não há nenhum problema em começar obras, mas estou muito mais preocupado em terminar obras que estão pela metade do que dizer que eu, Bruno, comecei algo novo.

Por que a cidade mais uma vez não conseguiu fazer a licitação de ônibus?

Essa é uma questão que tratamos desde o primeiro dia da gestão. Mas, claro, num sistema que custa R$ 8 bilhões por ano há inúmeros interesses por trás. A prefeitura já teve oportunidade de cassar várias liminares que foram dadas e tenho certeza que vai ter êxito em mais essa. O atraso só prejudica a população.

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