Paulistana, Maria Diva se dividia entre Santana, na zona norte, e Santos, no litoral, onde se refugiava nos finais de semana. Lá, podia nadar e tomar um sol. De quebra, se regozijava com a viagem de carro —tinha começado a dirigir numa época em que o volante era privilégio masculino.
Aliás, não só ao pilotar carrões Diva quebrava as regras impostas às mulheres naqueles anos 1950: usava calças ao invés de saias, fumava e bebia chope e vinho. Aos 57, decidiu se divorciar. E tudo bem.
Havia sido o matrimônio o motivo pelo qual Diva, ainda na juventude, fora impedida pelo pai de seguir estudando. Saída do ginasial, ela queria cursar o extinto normal, que abria as portas para o magistério. Mas precisou deixar de lado o sonho de ser professora.
Enquanto casados, Diva e Damião tiveram três filhas, todas com nomes com D: Denise, Dora e Dulce. Assim, fecharam a sequência da, de, di, do, du. A elas, ao contrário, foi garantido o direito de estudar --sendo a mãe a grande incentivadora. Todas se formaram professoras (Dulce é também dentista).
"O principal da pessoa é o estudo", dizia a matriarca, que era um pouco autodidata —fosse nos conselhos médicos, vindos de suas leituras de livros de saúde, fosse nas receitas que faziam surgir pratos dignos de chefs. Em especial, a lasanha e o bolo formigueiro.
Também era versada no serviço mais pesado: trocar torneira, encanamento, chuveiro. Fazia sozinha, e bem. "Ela era muito avançada para a época, diria que feminista", fala a filha Dulce.
Devota de santa Rita, a mãe batia ponto todo 22 de maio na igreja da santa, no Pari. E não se furtava à caridade, da comida aos pobres aos bazares para sustentar as obras.
Foi um mal súbito que levou Diva em 2 de março, dois dias após completar os 89 anos. Deixou as três filhas, três netos, Dante, Victor e Luiza, um bisneto, Arthur, uma irmã, Raquel, e um genro, André.
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