Descrição de chapéu Rio de Janeiro

É indecente usar um caixão como palanque, diz Witzel sobre morte de Ágatha

Governador diz que assassinato de criança não pode ser usado para impedir aprovação da excludente de ilicitude

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Rio de Janeiro

Na primeira entrevista após a morte da menina Ágatha Vitória Sales Félix, 8, o governador Wilson Witzel (PSC) disse que o caso não pode ser utilizado como "palanque eleitoral" ou com o objetivo de obstruir votações importantes como o pacote anticrime do ministro da Justiça Sergio Moro.

"É indecente usar um caixão como palanque, especialmente de uma criança", afirmou Witzel, que permaneceu em silêncio a respeito do caso durante o fim de semana. O governador afirmou que passou os últimos dias conversando com autoridades como Moro, o presidente da Câmara Rodrigo Maia e deputados. 

Witzel também disse que a morte de Ágatha, atingida por um tiro nas costas na noite da última sexta-feira (20) no Complexo do Alemão, não pode ser motivo para impedir a ampliação do excludente de ilicitude, defendida por Moro.

Segundo a proposta abraçada pelo ministro da Justiça, policiais que agirem com excesso devido a "escusável medo, surpresa ou violenta emoção" podem ter a pena reduzida ou até serem absolvidos. 

Maia chegou a afirmar no Twitter que a morte da menina reforça a necessidade de "uma avaliação muito cuidadosa e criteriosa sobre o excludente de ilicitude". 

Witzel culpou pela morte de Ágatha o tráfico de drogas, que, segundo ele, utiliza os moradores das comunidades como escudo contra a polícia, e os usuários dessas substâncias. "Quem fuma maconha e cheira cocaína ajudou a apertar este gatilho", disse.

O governador afirmou que a polícia age sempre na legítima defesa da sociedade e que os traficantes provocam as forças de segurança. Com um discurso em defesa das polícias, Witzel não chegou a comentar espontaneamente a possibilidade de que um PM tenha sido responsável pela morte de Ágatha. Moradores e familiares dizem que a polícia tentou atingir um motociclista e acabou acertando a criança. 

Confrontado pela imprensa sobre a questão, ele respondeu: "Em momento algum tenho tido discurso brando com quem quer que seja. Eu não tenho bandido de estimação, seja de distintivo, seja de farda. A lei é para todos."

Questionado sobre o que diria para a família da menina, Witzel respondeu que lamenta profundamente a perda. "O meu sentimento é o sentimento de pai, tenho filha de nove anos (...) Você acha que não penso? Eu não sou um desalmado, sou um cara de sentimentos."

Witzel voltou a defender que sua política de segurança é bem sucedida, com base na redução do número de homicídios dolosos. De janeiro a agosto de 2019 foram 2.717, uma queda de 21% em relação ao mesmo período de 2018.

Alardeando a redução do número de homicídios, o governador não citou que as mortes por intervenção de agentes do estado subiram de 1.075, de janeiro a agosto de 2018, para 1.249 no mesmo período de 2019 —um aumento de 16%.

O secretário de estado da Polícia Militar Rogério Figueiredo, presente na entrevista, disse que a morte de Ágatha foi um evento isolado e que os policiais militares são heróis do Rio de Janeiro.

A ONG Rio de Paz contabiliza que cinco crianças foram mortas no Rio em 2019, vítimas de bala perdida. A plataforma Fogo Cruzado diz que Ágatha foi a 16ª criança baleada neste ano na Grande Rio.

Marcus Vinicius Braga, secretário de Polícia Civil, defendeu que a morte de Ágatha não está relacionada à política de segurança do estado. "A Polícia Civil vai investigar o fato. Não vai investigar a política de segurança porque essa vai muito bem", disse. 

Ao mesmo tempo em que criticou a oposição por fazer da morte de Ágatha um "palanque eleitoral", Witzel levou oito autoridades para sentar ao seu lado na mesa, durante a entrevista à imprensa. Entre elas, o presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados, o deputado Felipe Francischini (PSL).

O governador também agradeceu a presença de deputados estaduais de sua base e disse que recebeu um telefonema do presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), deputado André Ceciliano (PT). O petista teria dito a Witzel que a base está acompanhando o desenvolvimento do caso de Ágatha.

Além de elogiar a política de segurança de seu governo, Witzel, que vem manifestando com frequência seu desejo de concorrer à Presidência em 2022, também aproveitou para defender que sua gestão vem melhorando os índices da saúde e da educação. 

 
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