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Rio de Janeiro

Incêndio no Rio expõe fragilidade de prédios hospitalares

OMS alertou que estamos mais seguros dentro de um avião do que internados em um hospital

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São Paulo

Anos atrás, a OMS (Organização Mundial de Saúde) causou furor ao declarar que estamos mais seguros dentro de um avião do que internados em um hospital.

A organização se referia às chances de a pessoa adquirir infecções ou de ser vítima de algum erro médico ou evento adverso, como troca de medicação ou queda do paciente do leito, e morrer em razão disso .

Mas se levasse em consideração o risco de incêndio, o grau de insegurança nesses locais seria ainda maior.

A fragilidade dos hospitais em relação ao risco de incêndio é observada em todo o país, como assistimos agora nesta tragédia no Rio de Janeiro. Neste ano, pelo menos 20 instituições de saúde pegaram fogo. 

Em julho último, a Folha mostrou que maioria dos hospitais públicos da cidade de São Paulo funciona sem atestado de segurança contra incêndio do Corpo de Bombeiros, documento obrigatório.

Segundo especialistas da área, negligência semelhante também ocorre em instituições privadas, em menor grau naquelas mais renomadas. Como bem lembra o engenheiro eletricista Marcos Kahn, especialista em proteção contra incêndio, muitos hospitais não regularizam a situação porque sabem que não correm o risco real de serem fechados se não houver um risco iminente de incêndio.

Mas só ter o documento dos bombeiros também não é garantia de que o prédio esteja imune a riscos de incêndio. Ele só é um retrato pontual daquele dia que o bombeiro foi vistoriar o local.

Desde maio, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) tem normas de segurança específicas contra incêndio em instituições de saúde. Estabelece, por exemplo, como devem ser rotas de fuga, saídas de emergência e sistemas de compartimentação, para impedir que o fogo se alastre, entre outros pontos.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) também tem um conjunto de normas de segurança contra incêndio, de 2014. Uma delas, por exemplo, diz que "a pior ação emergencial num estabelecimento assistencial de saúde é a relocação ou evacuação vertical dos pacientes." Ou seja, descer todo mundo correndo escada abaixo, como voltamos a ver no incêndio no Rio.

Segundo Kahn, deve-se combater o incêndio na origem, isolar a área, fechar as portas dos compartimentos e deixar as pessoas resguardadas no andar.

Mas não é só a parte física. Se não houver treinamento da equipe para responder a uma situação de emergência, evitando que, no caso de incêndio, desça todo mundo às pressas, vamos continuar a ver essas cenas desesperadoras que vemos agora no Rio, de pacientes graves em macas na rua. 

A conta real dessas tragédias a gente nunca sabe de fato. São computadas as mortes diretamente relacionadas ao incêndio, mas aquelas que podem ocorrer depois em decorrência da inalação de fumaça, por exemplo, ou da retirada inesperada de um paciente de uma CTI (Centro de Terapia Intensiva) ficam no limbo.

Muito tem se falado sobre a insegurança hospitalar no tocante às ameaças das bactérias multirresistentes e das más práticas profissionais que geram eventos adversos. Já passou da hora dessa discussão incluir a situação dos prédios hospitalares e o treinamento de equipes para lidar com incêndios. Tem muita instituição mais preocupada com hotelaria pra inglês ver do que a com a real segurança de seus pacientes e funcionários.

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