Dois meses após o prazo acordado para o início da construção de um monotrilho leve entre a estação Aeroporto da CPTM (Companhia de Trens Metropolitanos) e os três terminais de embarque do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, as obras ainda não começaram.
A construção foi anunciada em maio pelos governos federal e do estado de São Paulo e a concessionária GRU Airport. A promessa é que a ligação esteja pronta até maio de 2021.
De acordo com a concessionária, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) solicitou a prorrogação do prazo de entrega das propostas dos projetos para dezembro deste ano.
A estação mais próxima ao aeroporto fica do outro lado da rodovia Hélio Smidt e exige que passageiros atravessem uma passarela e peguem um ônibus até os terminais do aeroporto.
Pelo novo modelo, o passageiro que chegar à estação Aeroporto da CPTM atravessará uma passarela já existente e embarcará em uma espécie de monotrilho mais leve (automated people mover). O veículo terá três paradas, uma em cada um dos terminais do aeroporto.
Segundo o mapa apresentado pelos governos federal e estadual, a estação diante do Terminal 1 deverá ficar na área onde hoje ocorre o embarque e desembarque dos carros. No Terminal 2, a parada deverá ser entre as alas A e B. No terminal 3, internacional, a estação deve ficar próximo ao prédio do estacionamento do aeroporto.
A GRU afirma que o plano proposto não compromete o funcionamento do aeroporto nem os planos de expansão.
O percurso até o Terminal 3 é de 2,6 km, num deslocamento que deverá ser de cerca de seis minutos. A via terá dois trens com capacidade para transportar 2.000 passageiros por hora num mesmo sentido. Hoje, os ônibus entre a estação da CPTM e o aeroporto carregam cerca de 2.600 pessoas ao dia.
A criação dessa ligação era um acordo informal entre o governo do estado e a concessionária do aeroporto, GRU Airport, desde ao menos 2012. Após o recuo da empresa, a estação da CPTM foi entregue com a ligação com os terminais feita por ônibus.
No começo do ano, duas semanas após o assumir o cargo, o governador João Doria (PSDB) chamou a falta de uma estação em Cumbica de “bizarra”. "Não faz sentido transporte público que não leva até o aeroporto. É tão bizarro que é difícil acreditar que isso tenha sido feito no estado de São Paulo", disse, em entrevista.
Em maio, durante o anúncio da nova ligação, Doria não poupou críticas à forma como os passageiros hoje fazem a interligação do trem para o aeroporto. O tucano disse que era um drama ter uma linha até o aeroporto que não levasse efetivamente até o aeroporto.
Na ocasião, Doria disse ainda que, com o novo monotrilho, o passageiro teria uma ligação fácil entre o trem e o aeroporto de Guarulhos, como "qualquer aeroporto civilizado do mundo".
O acordo prevê que a construção do monotrilho seja tocada pela concessionária ao custo de R$ 175 milhões, em troca de redução da outorga anual que a concessionária paga ao governo federal.
Ou seja, embora as empresas que farão a obra e a operação sejam escolhidas pela GRU, o governo federal é quem deixa de arrecadar para que o monotrilho exista.
Atualmente, a GRU paga R$ 800 milhões ao ano para o governo federal. Em 2019, a concessionária deve pagar R$ 1,2 bilhão em valores reajustados.
Quando a obra foi anunciada, o ministro Tarcísio Gomes de Freitas disse que a outorga do aeroporto alimenta o Fundo Nacional de Aviação Civil, que está superavitário, e que o governo pode abrir mão do recurso em nome do investimento que deverá ser feito.
Em nota, a GRU Airport afirma que as "propostas analisadas pela concessionária serão apresentadas ao Governo Federal, ainda no início de 2020, a fim de que defina as próximas etapas para implantação do projeto".
A concessionária também afirma que "o processo depende de validação do órgão do governo para escolher a empresa que implantará o sistema de conexão rápida entre a estação de trem da CPTM e os terminais de passageiros do aeroporto internacional".
Procurada, a Anac afirma que não há prazo regulamentar para o processo. Segundo a agência, "as datas de setembro e de dezembro foram e são apenas uma estimativa".
"No momento, estamos fazendo análises de projeto e interagindo com os órgãos de controle responsáveis sobre a viabilidade da obra", diz em nota.
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