Novo tratamento de Covas reabre debate sobre plano B no PSDB

Avaliação inicial de cúpula é de dificuldade para o prefeito encarar a campanha

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São Paulo

A confirmação de que o prefeito paulistano, Bruno Covas (PSDB), terá de se submeter a um novo tratamento contra câncer acionou imediatamente a discussão sobre um plano B de seu partido para o pleito de outubro, algo que estava em suspenso.

A avaliação inicial, que obviamente não será feita em público em respeito ao paciente, é de que a discussão terá de ser feita neste momento, tal a fluidez do quadro eleitoral. Os primeiros informes que chegaram à cúpula tucana são de um quadro difícil para a manutenção da candidatura.

Os médicos Roberto Kalil, David Uip, Artur Katz e Túlio Pfiffer falam sobre a saúde de Covas
Os médicos Roberto Kalil, David Uip, Artur Katz e Túlio Pfiffer falam sobre a saúde de Covas - Bruno Rocha/Fotoarena/Folhapress

A imunoterapia à qual Covas irá se submeter é um tratamento incerto, mas promissor. A questão colocada é que sua duração, até agosto, na prática inviabilizará a participação ativa do prefeito em uma campanha de rua.

A palavra final será de Covas, naturalmente, não menos porque o diagnóstico da doença o transformou em algo que não era: um favorito para a disputa, já que empatia e visibilidade vieram juntos na tragédia, de acordo com pesquisas internas de partidos.

Mas a Folha ouviu de dois importantes membros do PSDB uma desalentada opinião acerca das chances de ele de fato poder encarar a corrida eleitoral neste ano.

Após a publicação da primeira versão desta reportagem, o PSDB divulgou nota negando haver um plano B e reafirmando o apoio à candidatura de Covas, o que é natural.

"Não é correto lançar mão de uma adversidade, como a que está sendo enfrentada com firmeza pelo prefeito da maior cidade do país, para tentar provocar cizânias internas e embaralhar um processo eleitoral que ainda nem começou. É preciso ter respeito e muita calma nessa hora", diz o texto assinado pelos presidentes da sigla no país, Bruno Araújo, no estado, Marco Vinholi, e na capital, Fernando Alfredo.

Seja como for, o baralho deverá voltar à mesa. Até aqui, a discussão era acerca de quem seria o vice ideal para o prefeito, alguém que pudesse entrar em seu lugar na eventualidade de ele não poder seguir na disputa para ir cuidar da saúde.

Para a vaga trafegaram nomes ventilados pelo governador João Doria (PSDB-SP), de quem Covas herdou a cadeira quando o então prefeito resolveu buscar o Palácio dos Bandeirantes em 2018.

O mais chamativo era o de Joice Hasselmann, deputada pelo PSL-SP que chegou a ser líder do governo Jair Bolsonaro no Congresso, mas caiu em desgraça com o presidente no racha do partido pelo qual ambos foram eleitos.

Não colou, muito por resistência de Covas e do tucanato paulista em geral —no seu estado de origem, a velha guarda do PSDB ainda tem alguma voz, apesar de Doria ter dominado a sigla.

Covas namorou a indicação do apresentador José Luiz Datena (sem partido, rumo ao MDB), que sugeriu ser possível ocupar a vaga de vice.

Tucanos mais experientes viram com desconfiança tal movimento, mas o cenário era considerado como possível até a tarde desta quinta (27). É incerto como Datena se comportará com as novas especulações na praça.

Se o prefeito de fato não puder concorrer, emerge à frente da concorrência interna Geraldo Alckmin. Ex-governador, ele tentou ser prefeito em 2008 e foi humilhado num terceiro lugar, mas seus aliados creem que agora a situação é diferente.

A interlocutores, o não que o tucano diz toda vez que é perguntado sobre a hipótese é lido como um sim. Um chamamento da militância, para usar o jargão de quem acredita nisso, seria o suficiente —de resto, Covas é neto do homem a quem Alckmin deve sua longeva carreira, Mário Covas (1930-2001).

Aqui o xadrez se adensa. Alckmin é desafeto de Doria, que vê no antigo ocupante de sua cadeira a pretensão de retomá-la em 2022.

Isso não seria problema se o governador não estivesse comprometido com seu vice, Rodrigo Garcia (DEM), a lhe dar a cabeça de chapa —considerando que ele, Doria, vá ser candidato a presidente em 2022 conforme o plano.

Não é visto como improvável que Alckmin busque como vice Márcio França (PSB), que ocupou o mesmo cargo em seu último mandato à frente do Bandeirantes (2014-2018).

Aqui, a afronta a Doria seria enorme: França, governador por herança, enfrentou o tucano num sangrento segundo turno em 2018. Eles se odeiam.

Na capital, contudo, o pessebista ganhou de Doria devido ao passivo que o tucano deixou ao abandonar a cadeira na prefeitura para disputar o governo estadual, algo não digerido pelo governador e que poderia agregar algo a Alckmin —de resto, o “inventor” dos dois como candidatos majoritários.

França poderia atrair fatias à esquerda do eleitorado, que dificilmente se empolgarão com o PT caso o candidato não seja o ex-prefeito Fernando Haddad, que vinha resistindo à ideia apesar da pressão interna da sigla e por causa do favoritismo de uma candidatura de Covas.

Tudo isso transformaria a chapa Alckmin-França numa peça de oposição ao projeto de Doria. Aí entra Maquiavel: aliados do governador veem como bastante possível que o ex-governador não empolgue o eleitorado, e uma derrota na capital enterraria seu pleito para 2022.

França na chapa seria demais para Doria, mas qualquer outro arranjo pode funcionar nesse cálculo.

Para Doria, na prática, o importante é não ver o PT retomando a prefeitura que ele conquistou em 2016, derrotando o então incumbente Haddad no primeiro turno.

Ganha com esse imbróglio Andrea Matarazzo (PSD), ex-tucano que vem trabalhando de forma silenciosa sua candidatura, conversando com setores de alta capilaridade como igrejas evangélicas e lideranças comunitárias.

Seu nome é bancado pelo chefe do partido, o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, que vê no ex-ministro e ex-vereador o nome ideal para aglutinar forças numa eleição bastante dispersa até aqui.

O cacique crê que qualquer candidato de centro-direita irá ao segundo turno e derrotará um nome do PT, e para ele Matarazzo seria um nome ideal. Novamente, o papel de Datena é uma incógnita na equação, já que ele não topou ser vice do pessedista.

Para Doria, que já terá como apoiadores o candidato do PSDB e nomes como o de Filipe Sabará (Novo), Matarazzo é um mal menor —eles estão em bons termos, apesar do trauma da prévia de 2016, quando o então tucano foi preterido pelo hoje governador como candidato a prefeito com o apoio de Alckmin.

Naturalmente, este é um balé silencioso, já que na política vige uma regra não escrita sobre respeito à privacidade em questões médicas.

O problema para Covas é o calendário exíguo, que tornará sua condição ou não de disputar central para a definição não só dos planos do PSDB mas de toda a concorrência.

O prefeito poderá empurrar a decisão até o limite do registro das candidatura, de 14 a 20 de agosto, mas hoje parece difícil que o PSDB aceite tal indefinição.

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